O orgulho nos separava, a distância nos castiga

Por orgulho, vaidade, mágoa ou ressentimentos, abríamos mão de momentos com o outro. O pretexto para manter distância de alguma pessoas sempre abundaram e nunca nos demos conta de que a razão sempre foi a nossa incapacidade de aceitar o diferente.

O irmão falastrão, o cunhado folgado, o amigo espaçoso, a tia chata, o primo exibicionista. Todo mundo parece ter alguém com quem a convivência não é do jeito que o nosso egoísmo deseja. E como nos sentíamos confortáveis em não buscar em nós a raiz do problema! Como nos achávamos autossuficientes! Como considerávamos alguns prescindíveis. Como ignorávamos nossa condição gregária.

Um microvírus, uma minúscula mistura de gordura e proteína, uma centelha invasora, pôs no chão toda nossa autossuficiência. Mostra o quanto somos dependentes. O quão somos carentes. Nos aponta de forma clara que “só somos porque o outro é”.

Desde o final de março que tivemos que nos isolar, nos privar, sem direito à opção, do convívio de muitos. Dos que nos agradam e dos que chateiam. Dos que nos alegram e dos que nos entristecem. Dos que nos fazem rir e dos que nos fazem chorar.

Que fique o ensinamento, que não nos esqueçamos da lição: não é o outro que tem que mudar. Percebamos em cada um a generosidade que nosso orgulho sombreia. Assim será possível perceber que nada nos é mais caro do que viver sem relações pessoais. Boas ou ruins, de altos e baixos, de idas e vindas. Mas todas imprescindíveis. Que mereçamos as próximas reaproximações porque a distância castiga. E castiga machucando.

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