Entrevista

Conversa da Semana com Tião Couto

O empresário Tião Couto (PL) defende que os políticos tenham experiência gerencial antes de se submeterem a disputas eleitorais. Para ele, falta visão de futuro para os gestores públicos e isso tem sido muito prejudicial. E cita um exemplo: a construção da adutora que traria água da barragem de Santa Cruz para municípios da região oeste. “Um projeto que deu tudo errado e deixou um prejuízo de mais de R$ 100 milhões”, aponta. Esse é apenas um dos muitos assuntos tratados na Conversa da Semana com Tião Couto. Nela, ele fala sobre as disputas eleitorais das quais participou e porque foi à caça do voto; diz qual a sua motivação para tentar um mandato eletivo – e se irá ao desafio das urnas em 2020; lamenta também que os políticos estejam presos a partidos, avalia a atual administração municipal e discorre sobre questões como infraestrutura, potencialidades econômicas e problemas de Mossoró. Tião Couto tem pouca esperança de que haja união da oposição para enfrentar Rosalba nas próximas eleições municipais. Sobre se será candidato, afirma: “Como diz no interior: tenho coragem de mamar numa onça. Não tenho medo de ninguém. Até porque hoje tenho mais experiência que em 2016”.

Por Márcio Alexandre

PORTAL DO RN – Quais as motivações do senhor, empresário bem-sucedido, para enveredar no mundo da política-partidária?

TIÃO COUTO – A motivação é a mesma que tem todo brasileiro que está revoltado com a política: não estar satisfeito com a direção que estão levando nosso Estado, e também o Brasil. E queiramos nós ou não, dependemos da política. Nossas empresas são independentes, mas se o Estado não vier bem, não tiver estrutura, não tem investimento, então não tem negócio. Realmente eu não preciso da política. Na verdade, eu faço isso mais para tentar ajudar. Foi isso que fiz: trazer o Estado para uma credibilidade maior. Você acha que um governo em que o empresário não confia nele, ele vai vier trazer investimento para o Estado? Só foi essa nossa intenção, tanto a minha quanto a de Jorge, e de outros empresários que entraram na política.

PRN – Quais são, então credenciais que o senhor tem apresentado ao eleitor do Rio Grande do Norte já que o senhor se define como uma pessoa que não é político profissional?

TC – O que eu tenho para apresentar para eles (eleitores) é que eu sou gestor nato. Não tenho nenhuma formação acadêmica. Fui trabalhador braça, nasci na roça. O homem que assinou minha carteira como trabalhador braçal é meu funcionário há 20 anos. Tenho uma empresa que emprega perto de duas mil pessoas, e o eu queria mostrar era minha maneira de gestão, só isso. O gestor que é diferente do político. Muita gente diz pra mim: mas é diferente  você fazer gestão pública com gestão privada. É diferente porque a gestão pública não está certa, por isso o dinheiro não dá, porque na verdade é cheio de arrumação.

PRN – O senhor vem de duas disputas eleitorais e, embora em 2016, tenha tido uma votação surpreendente, foram empreitadas sem sucesso. A despeito disso, o senhor segue com disposição para uma nova candidatura em 2020?

TC – Na verdade, eu fiz uma disputa. Na segunda disputa, eu fui para me contrapor. A situação estava tão ruim que dos três que ali estavam com chance eu ainda acreditava que mesmo eu tendo passado o governo todo falando mal dele, Robinson ainda era o menos ruim. Um era de um grupo político que estava querendo se levantar. A outra nós conhecemos o que o PT fez com o Brasil e vai fazer com o Rio Grande do Norte. Então, eu fui para me contrapor. As chances eram quase nenhuma. Na realidade, nós tentamos lançar nossa candidatura, mas primeiramente você precisa de partido pra isso, você precisa de peso e não conseguimos. A outra opção era ficar em cima do muro e eu não fiquei. Eu fui para o menos ruim. Apoiei Robinson, não me arrependo. A primeira realmente foi uma disputa acirrada. E se tenho disposição? Acabei de dizer a você de onde vim e onde estou. Um homem desses tem disposição para tudo. Como diz no interior: tenho coragem de mamar numa onça. Não tenho medo de ninguém. Até porque hoje tenho mais experiência que em 2016.

PRN – Três nomes postos. O senhor acredita que somente será possível vencer a prefeita Rosalba Ciarlini se houver a união dos demais candidatos? O senhor acredita nessa união?

TC – Não acredito não. Acredito até que essa união não vai acontecer. Um ou dois talvez fique3, mas o resto cada um tem interesse próprio. Antes de me candidatar a vice-governador de Robinson eu andei em todos os partidos, depois que saí do PSBD. Eu saí do PSDB justamente por não concordar com a maneira como foi feito. Eu fui para o PSDB porque precisava de um partido para me candidatar e foi um partido que meu deu a legenda, a legitimidade para que eu participasse. E depois, por causa de algumas desavenças, eu fique procurando partido. E em todos os partidos que eu chegava a primeira coisa que o pessoal queria era dinheiro, depois e saber, se ganhasse o que eles iriam levar. Eu não estava ali para fatiar o Rio Grande do Norte. Eu estava ali para ajudar o Rio Grande do Norte. Então, infelizmente, eu falo abertamente, a maioria dos partidos é o interesse próprio. Não tem muita vocação para querer ajudar não e esse é o grande problema.

PRN – O senhor vem com o discurso de que é o novo, mas já trocou de partido, prática vista como algo comum à política-partidária tradicional. Como fazer para que as pessoas não entendam dessa forma?

TC – Eu disse várias vezes por aí que eu adoraria se não fosse necessário partido, que pudessem candidaturas independentes porque você fica muito preso ao partido, você deve satisfação ao partido. Tem muitos mandatos por aí em que o deputado não queria votar nessa ou naquela questão mas aí o partido fecha questão e ele tem que votar. Então, acredito que o mandato não é dele, é do partido. Então eu queria um partido livre, que me aceitasse do jeito que eu sou, mas não encontrei. Você tem que ter o abrigo político no partido para aceitar. Graças a Deus no PR (hoje PL) onde estou, eles não tem me cobrado nada. Mas também não tem me ajudado em nada, e se eu fizer algo eles aceitam, isso pelo menos eu tenho essa garantia que ali eu faço o que eu quiser que eles vão assinar embaixo. Então, precisa disso. Não sei se a gente encontra um partido desse jeito. Eu espero que em poucos anos, daqui a uns 10 anos, aqui no Brasil a gente não preciso de partido, fique livre, que a gente possa se candidatar sem ser partidariamente.

PRN – O senhor está confortável no PL?

TC – Estou, porque tenho boa amizade com João (deputado federal João Maia, presidente do diretório estadual do PL), e eles não tem me cobrado nada. Diferentemente, no Rio Grande do Norte, quando fui para o PSDB, eu fui pelas mãos de Rogério (ex-deputado federal Rogério Marinho), e depois o partido foi para as mãos de Ezequiel (deputado estadual Ezequiel Ferreira) e eu já não casei bem, eu não quero falar mal de ninguém, mas não era do jeito que eu penso, eu penso diferente. Eu só agiria se fosse d jeito que partido quisesse, então eu prefiro ficar de fora.

PRN – Acredito que o senhor entende que um projeto político-eleitoral vitorioso não se constrói do dia para a noite. Como estão as movimentações no PL visando as eleições do próximo ano?

TC – Eu diria que realmente você tem razão, é preciso se fazer um trabalho. Eu hoje não estou fazendo esse trabalho como gostaria de fazer. Passadas as eleições, como você sabe, tenho negócios aqui, e estava muito fraco no Rio Grande do Norte, quer dizer, em termos de petróleo. Eu tinha 8 sondas só de produção operando, e eu participei de licitações no Bahia, no Espírito Santo, Aracaju e Maceió, e fui vitorioso nessas licitações. Nessas licitações eu tenho que colocar 18 unidades de perfuração e produção nessas regiões. Então me dediquei muito a esse trabalho, e ainda estou colocando sonda. Instalar uma sonda é um mundo, é praticamente uma pequena cidade que você instala em determinado lugar. Dessas 18, instalei 8, faltam ainda 10. Acredito que a gente termine daqui até agosto. Quando instalar essas sondas aí eu ficarei mais disponível para conversar. Hoje estamos focado nisso, estamos procurando gerar os empregos que precisam ser gerados. A política não está em segundo plano. Estou sempre conversando com Jorge, que está acompanhando mais de perto, mas nunca deixo de olhar pra ela não, estou sempre olhando.

PRN – Na sua opinião, quais as grandes potencialidades de Mossoró que ainda não foram bem aproveitadas?

TC – Nós temos uma cidade rica, infelizmente essas potencialidades são todas mal aproveitadas. Nós temos uma indústria milenar, que é o sal, em que sempre houve esses altos e baixos, e graças a deus que foi assinada essa lei (decreto 9824/2019, assinado pelo presidente Jair Bolsonaro que reconhece o sal marinho produzido no Rio Grande do Norte como um bem de interesse social) porque eles viviam com a pressão da questão ambiental querendo encerrar aquela atividade. Temos a fruticultura irrigada que também  precisa de infraestrutura, nós não temos um porto, não temos nada aqui no Rio Grande do Norte que apoie essa exportação. Nós produzimos muito e exportamos mais pelo Ceará do que por aqui. Temos essa riqueza do calcário, que é imensa, que Deus nos deixou me graça. O pessoal do cimento se instala aqui, retira o calcário da superfície, mas é mal aproveitado, porque não temos estrada, não temos escoação.

PRN – E por que essas potencialidades são mal aproveitadas?

TC – Porque nós temos problema de falta de infraestrutura. A rede hoteleira do Estado é muito mal servida, por que? Porque não tem estrada. O cara monta um hotel e as pessoas não tem como chegar lá, só se chegar de jumento. Você chega nas praias e não tem um restaurante, falta incentivo. Temos uma riqueza embaixo dos pés, que pouca gente no mundo tem: nós temos um manancial de águas termais que em outros lugares é muito bem aproveitado, com o turismo, como água medicinal, mas aqui parece que não existe, não serve para nada. É difícil. Quando falo nesse manancial de água sempre lembro da história dessa adutora que temos ao longo da BR 405, essa estrada que vai para Apodi. Eu lembro que no governo anterior ao de Robinson Faria (de Rosalba Ciarlini), fizeram aquilo e eu perguntei: pra que vão fazer aquilo? Gastaram naquela época R$ 100 milhões e gastariam mais R$ 80 milhões se fossem terminar hoje. Rosalba não é assim, deixa sempre um pedaço por terminar? Então a obra está lá, gastaram mais de R$ 100 milhões, não leva água nem pra lá nem pra cá, a não ser uns calangozinhos que entram pelos tubos. Pra que servia aquela obra? Ninguém sabe. Por que eu digo isso:? Porque se você quisesse gastar R$ 100 milhões, eu não gastaria 100, gastaria R$ 50 milhões perfurando poços na região e a água estaria aqui. Ah, mas vai ter água na Barragem de Santa Cruz! Vai ter, vai. Solta lá no rio que Deus já deixou o canal natural e ela chega bem aqui., não tem jeito, ela vem pra cá, você colhe ela aqui na entrada.

PRN – E por que fazem esse tipo de obra?

TC – Porque são obras que fazem apenas para gastar o dinheiro público. Desnecessário. Por isso que falo que o que falta no Rio Grande do Norte e no Brasil é gestão. Melhorou um pouquinho a gestão no Ceará, mas foi só um pouquinho, não foi muita coisa não. Melhorou um pouquinho na Paraíba também. Até bem pouco tempo atrás a Paraíba era o quintal do Rio Grande do Norte, olhe hoje o tamanho. Então é assim que funciona, é gestão;

PRN – Sobre a polêmica da venda dos campos maduros de petróleo, o senhor concorda que eles devem mesmo ser passados para a iniciativa privada?

TC – É pra vender sim, é necessário. É como na sua casa: você tem um carro e sua esposa tem outro, aí você conseguiu comprar mais dois carros novos, você não fica com os carros velhos, você tenta repassar para alguém, não lhe servem mais. E assim que aconteceu com alguns campos do Rio Grande do Norte: a Petrobras perdeu o interesse porque ela tem grandes campos no pré-sal e a operação da Petrobras ficou muito cara devido a esses roubos que fizeram, e a Petrobras sentou em cima. É como se aqui tivesse uma mina e estou estivesse sentido em cima, é minha e ninguém pudesse tirar, e não pode. Isso é um bem público. A ANP (Agência Nacional de Petróleo) tomou a decisão certa. Petrobras não vai ter interesse não? Então vamos vender. Vendendo, já vai gerar mais alguns empregos e acredito que outros campos virão, a Petrobras está aberta para vender, e tem que vender mesmo. Estão maduros, tem que vender. Inclusive, daqui a pouco a empresa que comprou agora ela tende a passar para empresas menores, como aconteceu nos Estados Unidos, na Argentina, em todo lugar. As pessoas passam a terminar com essa produtividade, o dono da terra tirando o óleo dali e vendendo. A Petrobras não tinha mais condições, pelo tamanho que é, de gerenciar os campos.

O que me abate mesmo em Mossoró é a saúde. A saúde de Mossoró é muito precária.

PRN – Na sua opinião, quais os principais problemas de Mossoró?

TC – Nós temos vários. Temos um problema sério de falta de segurança, isso é notório. Não adianta dizer que é responsabilidade do Estado ou do município, é um conjunto. O que me abate mesmo em Mossoró é a saúde. A saúde de Mossoró é muito precária. Eu me lembro quando fui ser candidato a vice de Robinson, eu olhei muito para o Tarcísio Maia (hospital regional) e procurei entender como aquilo funcionava justamente para numa oportunidade ver como uma pessoa profissional estando lá como é que faria. Existiam problemas de todo jeito. Faturas que não eram feitas, serviços que não eram faturados, problemas de todo jeito. Deus me livre. Ali era para a polícia chegar e levar todo mundo preso. Enfim, são aqueles apadrinhados que o governo bota lá dentro, não precisa ser profissional, basta ser parente do rei que tem emprego. Então a saúde me deixa muito triste porque você chega nos bairros e você ver as pessoas morrendo num posto de saúde por falta de uma medicação simples, aí se gasta não sei quantos milhões em festa. É uma inversão de valores danada. A outra coisa que eu vejo que Mossoró precisa muito é emprego, porque a maioria dessas pessoas que está entrando no crime é por falta de oportunidade. Não posso deixar de dizer a você que tudo isso depende também da educação. Educação você chega na escola – não sou contra a universidade gastar milhões não – eu sou contra o ensino básico, onde você prepara o filho do pobre para chegar na faculdade, não ter nada. Foi mais ou menos o que o Bolsonaro quis fazer. Vamos pensar bem. O filho do pobre que estuda na escola pública, que não tem estrutura, não tem alimentação, onde o professor está desmotivado, salário atrasado, aí ele vai concorrer numa faculdade com o filho de quem ganha bem e que está estudando lá no Diocesano. Como é que esse rapaz vai passar? Ele não vai passar. Só pela força de vontade passam alguns. O filho do pobre, o governo passado disse que deu incentivo nas universidades, abriu os financiamentos, aí o filho do pobre vai lá para a UNP e o filho do rico vai para as instituições federais. Quando o filho do pobre chega na UNP, que se depara com a realidade, ele já sai de lá com o CPF negativado, aí começa o desesímulo. Começa a faculdade, fiz aqui Direito, não consegue passar na OAB e depois vai trabalhar de mototáxi. E a conta fica. O governo não ajudou, atrapalhou, mostro uma coisa que não é real.

PRN – A atual administração municipal de Mossoró atende a expectativas mínimas da população?

TC – É o que pensei: é uma enganação, como foi a vida inteira, e produtividade zero. Me mostre uma obra firme, que diga assim, essa obra aqui tem sustentabilidade. Na frente do Banco do Brasil tem uma praça (praça Vigário Antônio Joaquim), que está sendo reformada desde que o governo entrou, então ficam aqueles tapumes para mostrar quee está trabalhando, que não está. E a placa lá de não sei quantos milhões. Depois, quando estiver perto da eleição, tira os tapumes e vai inaugurar. Então é desse jeito que funciona e eu chamo isso de enganação. Aquele valor que vi na reforma da Praça do Rotary, com ele eu faço uma nova praça. As pessoas precisam enxergar. As estradas estão aí cheias de buracos. A iluminação pública eu não sei para onde vai tanto dinheiro que nós pagamos, ninguém dá conta desse dinheiro. Você pegue seu papel de luz você vai ver que no mínimo 60, 70 reais vai para a iluminação pública, e junte Mossoró toda. Complicado.

PRN – E atuação dos vereadores, como o senhor vê?

TC – A maioria dos vereadores se elegeu comigo, pela oposição. Eles estavam comigo, nós perdemos a eleição, eles foram eleitos. No dia 30 de dezembro, se reuniram, estavam todos lá. Amigo, você passou a eleição todinha falando mal daquele negócio, dizendo que aquilo não servia para Mossoró, que aquilo era um atraso para Mossoró e agora você está lá. Por que você está lá? Então eu chamei, é verdade, alguns que vieram falar comigo eu disse: não quero perto de mim nem como amigo. Nem como amigo porque você não presta. Você não trabalhou contra mim, você está contra quem votou em você. Aí pronto, a prefeita faz o que quer, vota o que quer, e a cidade fica nessa situação.

PRN – Como o senhor analisa a situação da preservação do meio ambiente em Mossoró?

TC – A situação do aterro sanitário é crítica. Quando Fafá (Rosado, ex-prefeita) saiu já era pra ter feito outra célula, nunca fizeram, virou um lixão. E cadê o Ministério Público, não ver isso não? Se você for para a beira do rio e ficar pescando, vai chegar alguém e querer dizer que você está poluindo, mas se você sair daqui, de frente onde estou com você, tem uma bacia da CAERN, você vai ver quanto milhões de metros cúbicos de esgoto estão sendo jogados dentro do rio (Mossoró). Quem polui o rio não é o pobre não.

PRN – Mossoró viveu mais de 30 anos com o dinheiro dos royalties em alta e não criou uma alternativa para quando essa fase passasse. Falta de competência ou de vontade política?

TC –  Falta de competência e da vontade política também. A prefeitura de Mossoró, na década de 80, que por sinal a prefeita era Rosalba, não tinha royaltie, e mesmo assim a cidade estava bem: não tinha salário atrasado, não tinha problema. De repente, chega o dobro do valor que ela tinha para gerenciar. É como você estar em sua casa, ter uma renda de 5 mil e de repente passar a ganhar 10 mil. Então, você tinha que fazer alguma coisa: fazer um prédio ou pegar esse 5 mil e criar alguma coisa. Aí o que Rosalba fez foi praça de carnaúba. Não sei se o dinheiro foi todo pra ali, eu não sei, não posso dizer que foi. Mas o dinheiro foi mal gasto. A obra maior que conheço é o ginásio municipal, que custou R$ 5 milhões na época, e eu sei porque foi Jorge (Rosário, construtor e ex-candidato a vice-prefeito na chapa encabeçada por Tião em 2016) quem fez, e ele foi feito num canto que você não tem estacionamento para uma ambulância. Foi um elefante branco e ali foi a arrecadação de um mês que a Petrobras dava. Agora, quando estava bem pertinho de se candidatar a governadora, Rosalba fez uma maquete do Nogueirão, tirou fotos e até hoje não foi feito nada. Estelionato eleitoral. Enfim, o problema de Mossoró é falta de administração mesmo. Falta de vontade mas também falta de expertise. Se você for olhar para esse pessoal que está aí, de vereador a prefeito, dos últimos anos que olhei, não conheço um que tenha assinado a carteira de trabalho dele ou de alguém. Se você não gerou e nem gera (emprego) você não sabe gerenciar nada, você foi pra ali porque era o caminho mais fácil de ganhar dinheiro, sem fazer nada. Ah, eu pensei que isso ia dar certo, ai faz um projeto desse como a adutora, deu tudo errado, prejuízo de mais de R$ 100 milhões e ninguém cobra, se fosse numa empresa, se fosse eu, eu quebrava e no outro dia estava aqui o Ministério do Trabalho tomando meu prédio pra vender e pagar funcionários, mas lá não dá em nada. Jogam dinheiro no mato e não dá em nada. Quando disseram que o Rio Grande do Norte iria sediar a Copa do Mundo, em 2014, eu disse: vai acabar de quebrar. Nós não temos time nem pra jogar naquele estádio que tinha lá em Natal, aí desmancha um estádio daqueles para fazer um elefante branco para dar despesa. Pra mim, isso tudo é falta de visão administrativa.

Aqui hoje eu acho que sou a única empresa que sobreviveu da Petrobras. Por que sou mais esperto que os outros? Não, porque sempre mantive minhas coisas com pé no chão.

PRN – Apesar de todos esses problemas, essas dificuldades, o senhor continua com a esperança de que é possível contribuir para mudar tudo isso?

TC – Continuo, porque se eu perdesse a esperança, eu pegaria tudo o que tenho venderia e iria morar fora do Brasil e eu nunca fiz. Eu não fiz porque eu tenho parentes, primos, amigos nessa cidade. Eu às vezes mantenho uma unidade operando, mesmo não me dando resultado, aí penso por outro lado, mas estou gerando 100 empregos. Eu já mantive unidade aqui, eu já mantive mais de 100 pessoas sem estar me gerando nada, todo mês eu pagando o salário, acreditando, porque eu acredito que você possa fazer melhor. Agora só faz pelo trabalho. Aqui hoje eu acho que sou a única empresa que sobreviveu da Petrobras. Por que sou mais esperto que os outros? Não, porque sempre mantive minhas coisas com pé no chão. Aqui nós temos 11 hectares de área com pessoas trabalhando, montando sonda, criando. E esse dinheiro vem de onde? Vem do meu bolso. Eu sou um funcionário aqui. Quando entro de manhã eu faço de conta que tiro do bolso o meu CPF e pego o CNPJ da empresa. Quando saio à noite é a mesma coisa. Eu sou o primeiro a chegar aqui, às 5 e pouco da manhã já estou por aqui.

PRN – O município já ofereceu algum incentivo, alguma isenção à sua empresa?

TC – A mim não. Eu soube que aqui algumas empresas tem, receberam terreno, mas esse aqui eu comprei. A mim nunca foi oferecido nada. Nunca perguntaram nem quantos funcionários eu tinha. Eu vi que essa Itagrês iria oferecer 70 empregos, e recebeu mil coisas. Eu ofereço mil e tantos empregos e ninguém nunca me perguntou nada. Pelo contrário: eu montei o Tenda para gerar emprego, todo mês eu boto um dinheirinho lá, e de vez em quando eles querem fechar.

PRN – Por quê?

TC – Eu não sei. Uma vez o órgão ambiental foi lá, disse que tinha recebido uma denúncia de que lá era uma pocilga. Lá não tem nada que polua, mas infelizmente é assim que funciona, é a perseguição. Eu pago ali no Tenda perto de R$ 40 mil de IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano), já aquele sítio Canto, que é da prefeita, não paga nada.

PRN – Qual a sua mensagem final?

TC – Quero agradecer ao Portal do RN pela oportunidade, dizer que estou sempre à disposição, a Mossoró e a todos da região, dizer que não abandonarei meu berço natal, continuarei lutando, querendo o melhor para todo mundo porque se não fosse assim eu já tinha ido embora do Brasil, mas eu acredito, continuo acreditando que vamos conseguir vencer e progredir. E sempre conversar sobre isso: se todos entendesse que é preciso um gestor profissional, não precisa ser eu não. É como se você tivesse uma empresa, você colocaria seu irmão porque está desempregado ou procuraria um executivo com capacidade para gerenciar: Com certeza procuraria um executivo. Por isso, peço as pessoas que quando forem votar, mais uma vez analisem o perfil profissional do político, se gerenciou alguma coisa, se gerenciou pelo menos um carro de pipoca, se não gerenciou não deixe ele fazer test drive com sua cidade, com o Rio Grande do Norte não porque é perigoso.

 

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