Entrevista

Conversa da Semana com Marcelo Queiroz

A retomada das atividades econômicas no Rio Grande do Norte, em meio à pandemia da Covid-19, tem dividido opiniões. A Federação do Comércio do Rio Grande do Norte (FECOMÈRCIO) é a entidade que tem liderado os movimentos visando a reabertura da economia. O presidente da entidade, Marcelo Queiroz, acredita que os atuais indicadores da pandemia no Estado permitem que lojas e indústrias se mantenham abertos, respeitando-se, logicamente, os protocolos de segurança. Nessa entrevista, Queiroz apresenta seus argumentos, mostra os prejuízos que o fechamento da economia provocou e elenca algumas ações desenvolvidas pelo setor produtivo para contribuir com o enfrentamento da atual crise sanitária. Acompanhe:

Por Márcio Alexandre

PORTAL DO RN – De maneira geral, como o senhor avalia a forma como a pandemia da Covid-19 tem sido enfrentada pelos governos?

MARCELO QUEIROZ – Podemos dizer que da maneira possível. Como tudo na vida, há erros e acertos dos governos nas três esferas. Mas o balanço geral é positivo. No RN, podemos dizer que estamos bem perto de superar a fase mais aguda da doença e isso é muito positivo. E estamos seguindo, com poucos atropelos, o cronograma de retomada gradual da atividade econômica, desde o início de julho.

Se tivéssemos fechado tudo, a depender do tempo pelo qual este fechamento seria necessário, os impactos seriam ainda mais desastrosos.

PRN – No caso dos efeitos para a economia, não teria sido mais eficaz realizar uma quarentena rígida logo no início da pandemia?

MQ – Olha, é difícil prever como seria o que já passou. Mas acredito que não. Nós fechamos, em abril, os segmentos não essenciais e, passados 100 dias, retomamos. E mesmo assim, o impacto na perda de vendas apenas do varejo supera os R$ 600 milhões. A receita do estado despencou e deve ter uma perda acumulada acima do R$ 1 bilhão. Se tivéssemos fechado tudo, a depender do tempo pelo qual este fechamento seria necessário, os impactos seriam ainda mais desastrosos.

PRN – O governo estadual autorizou a retomada das atividades econômicas, depois recuou. E agora anunciou que a fração 2 da fase 1 acontecerá a partir do dia 15. Como tem sido as conversas do setor produtivo com o governo para tratar sobre essas questões?

MQ – Sempre mantivemos um canal permanente de diálogo com o governo. Discordamos do adiamento da segunda fração. Por um motivo simples: os indicadores mais relevantes da doença eram, no dia 7, melhores que no dia 1º, portanto, não havia, a nosso ver, justificativa para esta postura. Mas, respeitamos, claro, a decisão do governo. E continuamos abertos para dialogar. Sempre.

PRN – A retomada da atividade econômica foi criticada pelos Ministérios Públicos (Estadual, Federal e do Trabalho) por supostamente não ter sido definida a partir de critérios científicos sólidos. Ao mesmo tempo, as entidades comerciais criticaram a suspensão por considerar que esses critérios teriam sido subestimados. Quem está com a razão nessa questão?

MQ – Eu não me lembro de termos dito, em momento algum, que os critérios técnicos estavam subestimados. Eu pelo menos, nunca disse isso. O que eu disse é que os números que tínhamos nos permitiam projetar o início da redução da pressão da doença sobre o sistema de saúde do estado. E, passados dez dias do início da retomada, o que temos visto é que, sim, os indicadores confirmam que começamos a descer a ladeira da Covid-19 no RN, graças a Deus.

PRN – Mas a seu ver não há um risco reabrir a economia quando temos taxas de ocupação de leitos críticos superiores a 90%?

MQ – Hoje, esta taxa está, em algumas regiões do Estado, abaixo até de 80%. E o Governo está trabalhando com a possibilidade de que já no próximo domingo tenhamos a taxa de ocupação geral do Estado abaixo de 80%. O que nós sempre defendemos é que precisamos conviver com o vírus, de maneira responsável e seguindo protocolos de segurança que foram referendados pelos comitês científicos do Estado e das Prefeituras. Fazendo isso, certamente não teremos problema nenhum especificamente em virtude da retomada. Até porque, como já foi amplamente dito, ela é gradual e responsável.

Mais de R$ 500 milhões em perda de faturamento das empresas apenas do varejo e mais de 10 mil empregos perdidos só no nosso segmento.

PRN – Quais tem sido as perdas para as atividades econômicas provocadas por essa paralisação tão longa?

MQ – Mais de R$ 500 milhões em perda de faturamento das empresas apenas do varejo e mais de 10 mil empregos perdidos só no nosso segmento. Isso sem contar a perda de receita de informais, de MEIs e a estimativa de algo em torno de 15 mil empresas que devem ter fechado suas portas ao final disso tudo.

PRN – As perdas econômicas são o argumento mais forte do setor para requerer a retomada. Como isso impacta socialmente?

MQ – De maneira profunda. Dez mil empregos perdidos representam algo em torno de 50 mil pessoas impactadas. A perda de receita do estado também irá comprometer o restante do ano no que diz respeito às despesas com saúde, educação, segurança, e pagamento dos servidores, que impactam outras 500 mil pessoas entre impactos diretos e indiretos.

PRN – O RN, sabemos, é um Estado com um déficit fiscal e financeiro muito grande. Isso tem sido pontuado nas tratativas para a retomada da economia?

MQ – Sim. Uma coisa é indissociável da outra.

PRN – Qual tem sido, por outro lado, a contrapartida das entidades empresariais para o enfrentamento a essa pandemia?

MQ – Olha, temos feito muito. Eu vou te falar apenas uma parte do que o Sistema Fecomércio RN tem feito.

  • Mais de 15 mil cestas básicas do projeto Fome de Música do Mesa Brasil Sesc distribuídas em 15 municíoios do RN a entidades beneficentes.
  • Mais de 6 mil vagas gratuitas em cursos de capacitação para empresas e colaboradores, ofertados pelo Senac.
  • Programa de Assistência Digital Empresarial/
  • Plano de Retomada do Turismo do RN
  • Doação de cestas básicas para alunos da EJA e Sesc Cidadão: a ação será realizada enquanto durar a pandemia do Covid-19. São 419 cestas básicas mensais, para alunos de Educação de Jovens e Adultos e do Sesc Cidadão, em Natal, Mossoró, Caicó, Nova Cruz e Caicó. São mais de 3 mil quilos distribuídos mensalmente.
  • Live Solidária do Sesc RN; doações em espécie para conversão em cestas básicas realizadas pela Miranda Computação e o Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob). Foram 778 cestas básicas (mais de 4 mil quilos de alimentos) entregues a artistas e profissionais em geral que trabalham no ramo, além de comunidades carentes.
  • A Live Solidária do Sesc, que teve a participação de artistas locais e, em menos de dez dias, já tinha mais de 34 mil visualizações.
  • Participação na confecção do Plano de Retomada da Atividade Econômica do RN no Pós-pandemia: elaborado em parceria com a Fiern, Fetronor, Faern e Sebrae, com o apoio da CDL Natal, FCDL RN, Facern e da Associação Comercial do RN, doação de refeições aos profissionais da área da saúde: treinamentos online do Senac; confecção do Plano de Retomada do Setor Turístico Potiguar;
  • Cursos gratuitos voltados para profissionais do turismo; 850 vagas em cursos gratuitos de preparação dos estabelecimentos de Comércio e Serviços para retomada gradual: serviço de quentinhas no restaurante Sesc Rio Branco; reivindicações junto ao Governo do Estado para minimizar efeitos da crise.
  • Entre as já atendidas estão:
  • suspensão de pagamentos de parcelamentos de ICMS já existentes por 90 dias;
  • suspensão, por 90 dias, do pagamento do ICMS relativo ao Simples Nacional; ampliação da validade das certidões negativas para 90 dias;
  • cadastramento dos contribuintes para postergar o recolhimento do ICMS antecipado para o dia 25 do mês seguinte; suspensão de prazos para entrega de documentos e relatórios tributários e fiscais pelas empresas;
  • isenção de impostos estaduais para doações de mercadorias destinadas aos órgãos públicos e assistenciais; reforço na segurança pública visando a manutenção da integridade das empresas. Reivindicações junto à Prefeitura de Natal;
  • solicitação ao Tribunal de Justiça do RN da suspensão de protestos cartoriais; solicitação aos bancos de medidas para minimizar efeitos da crise;
  • Hotel-Escola Senac Barreira Roxa abriga funcionários da saúde;
  • campanha de arrecadação para compra e conserto de respiradores; criação do Whatsapp Sesc Saúde: canal exclusivo, por meio do qual os profissionais de Saúde do Sesc RN estão à disposição para tirar as mais diversas dúvidas sobre o Covid-19;
  • criação da Comissão Intersindical de Enfrentamento da Crise Econômica Covid-19; manutenção das doações do Mesa Brasil;
  • criação do plantão jurídico: canal online onde a equipe de advogados do Sistema Fecomércio RN está disponível para tirar dúvidas dos empreendedores neste período de pandemia do novo Coronavírus; divulgação da campanha “Compre no RN”: campanha criada para estimular a compras dos potiguares em negócios locais;
  • Sesc Saúde Mulher na Maternidade Escola Januário Cicco; Criação de conteúdo voltado aos alunos das Escolas Sesc, Sesc Cidadão e TSI;
  • e criação da Sala Virtual para os alunos do Senac RN: como forma de assegurar o cumprimento do calendário pedagógico, o Senac criou a Sala Virtual, por meio da qual cerca de 6 mil alunos estão tendo, desde o dia 6 de abril, aulas online nos mesmos dias e horários em que estão matriculados nas aulas presenciais.

Para o setor empresarial fica a lição de que sempre precisaremos estar prontos para nos reinventarmos.

PRN – Embora seja difícil mensurar quando a pandemia cessará ou estará em patamares mais leves, o que é possível esperar que ela nos traga de aprendizado?

MQ – Para a sociedade como um todo, serão aprendizados dos mais variados. Para o setor empresarial fica a lição de que sempre precisaremos estar prontos para nos reinventarmos.

PRN – Sua mensagem final.

MQ – Que possamos nos engajar no convívio responsável com o vírus. De modo a garantir a retomada gradual da economia. Porque este deve ser um compromisso de todos nós.

 

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