CRÔNICA

CAI, CAI, BALÃO!

De repente todos acorrem. No terreiro ou no meio da rua, o deslumbramento no olhar uma estrela que flutua pertinho da terra. As cores acesas de um balão deslizam suavemente no céu em perfeito contraste com a escuridão dos ares dos rincões, ou de cidades cuja iluminação, de tão parcimoniosa, mal varre as sombras do chão.

Santo Antonio, São João e São Pedro não eram festas formatadas para turista, mas para todo mundo (incluindo o eventual turista) se divertir. O motivo principal eram as celebrações religiosas, reverência aos santos mais genuinamente nordestinos. Cumpridas as orações aos Padroeiros, as festas populares concentravam-se no pátio das igrejas e vizinhanças, onde geralmente estava o mercado central da cidade. As quermesses tinham estruturas simples, barracas enfeitadas de bandeirolas coloridas para venda de comidas e bebidas típicas (pamonha, canjica, bolo de milho, arroz doce), além de fogos. O leiloeiro apregoava as prendas e motivava os fiéis que eram, ao mesmo tempo, doadores e clientes desses objetos adquiridos por preços muitas vezes desproporcionais ao valor real, em divertidas competições.

As festas continuavam ao redor das fogueiras que estavam em toda parte, iluminavam cidades, vilas, sítios e fazendas e assavam o milho verde mais gostoso. Mas, também, irritavam olhos e gargantas e deixavam a fuligem que inundava de cinzas as casas. As fogueiras eram associadas a uma tradição hoje praticamente desaparecida: o padrinho, ou, como era quase sempre, a madrinha de fogueira. Um ritual baseado na religiosidade, sem necessidade do sacerdote, mas profundamente respeitado pelos que firmavam ao redor do fogo um compromisso filial que valia para toda vida.

O clima impregnava todo o mês de junho, mas as festas populares mais concorridas restringiam-se aos respectivos dias dos Santos. Nenhuma competição de cidades quanto ao melhor ou maior São João. Nem burocracia oficial regulando os festejos. Todas eram iguais perante os Santos, embora uma ou outra tivesse moderado destaque, geralmente por ter um deles como padroeiro.   Nas quadrilhas, danças teatralizadas, outra marca dos festejos, o figurino aleatório das roupas remendadas (alegoria da pobreza dos rincões), chitas estampadas, chapéu de palha, camisas quadriculadas E um enredo só: o casamento do noivo fujão devidamente assistido por um pai de noiva brabo, um delegado de polícia linha dura e soldados portando cassetes ou espingardas. Todos confraternizavam ao final. Faziam cultura sem preocupação sobre o que fosse isso.

Notícias semelhantes
Comentários
Loading...
Page Reader Press Enter to Read Page Content Out Loud Press Enter to Pause or Restart Reading Page Content Out Loud Press Enter to Stop Reading Page Content Out Loud Screen Reader Support