CRÔNICA

VARIG É DONA DA NOITE

Na programação noturna de várias emissoras de rádio espalhadas pelo Brasil havia um momento cativo dedicado à música orquestral ou instrumental. Instantes de devaneio musical proporcionado por grandes orquestras e instrumentistas para deleitar ou relaxar o ouvinte.

Numa época em que, com exceção das grandes capitais, as rádios interrompiam suas atividades diárias um pouco antes da meia noite, era esse gênero que geralmente ocupava as últimas duas horas do conjunto de programas. Um dos mais conhecidos, o “Varig é a Dona da Noite” era patrocinado pela então grande empresa de aviação comercial brasileira a qual havia incorporado outra grande, a tradicional Cruzeiro do Sul. Nem sempre havia um patrocinador identificado no título do programa. Caracteristicamente, não ocorriam intervenções prolongadas de um apresentador. Um locutor formal, de voz encorpada, suave e calma, intervinha de vez em quando com frases curtas, como no caso da atração patrocinada pela Varig em que simplesmente o título do programa era repetido entre uma e outra sequência de músicas.

Em Mossoró a Rádio Difusora mantinha audições nesse estilo, nos dias de semana, geralmente a partir das nove da noite. Duas horas sem ou praticamente sem intervalo de anúncios comerciais. Até sem locução, ou com uma locução gravada e breve, como foi dito. Instantes somente para a suavidade de Montovani, Caravele, Paul Mauriat, Billy Vaughn, Percy Faith, Henry Mancini, Românticos de Cuba, Franck Pourcel, Ray Conniff, Orquestra Tabajara, Sidney (piano), Lafayete (órgão elétrico) e outros. Quase todos os gêneros musicais e ritmos faziam parte dessas orquestrações ou execuções instrumentais simples. Mas, principalmente aqueles naturalmente mais suavemente compassados, como as canções em geral, boleros, tangos, nessa linha.

Se o efeito potencializador do cérebro atribuído à música clássica parece ser um fato, possivelmente por diminuir tensões e facilitar sinapses, certamente essas audições de músicas populares orquestradas, à noite, induziam o sono e, muitas vezes, o esquecimento do rádio ligado. Como a programação terminava às onze, podia-se dormir ouvindo La Vie Em Rose ou Jalousie e acordar no meio da noite escutando o chiado típico do rádio sintonizado na frequência de emissora fora do ar.

Todos os grandes músicos citados (ou a maioria) já se foram, mas a tecnologia permite-nos ouvi-los como se estivessem presentes. Ou como se estivéssemos nos tempos em que a Varig era a dona da noite.

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