CRÔNICA

OS RECLAMES

A propaganda está cada vez mais presente, mas o termo reclame (ou reclamo) para designar material de divulgação, anúncio, propaganda enfim, há muito caiu em completo desuso. Ao reabilitá-lo, Fausto Silva, de certo modo e a seu estilo, mostra irreverência aos manuais que submetem a linguagem a clichês e modos do momento para melhor assimilação pelo ouvinte ou telespectador. Mas essa introdução é apenas para trazer à memória alguns anúncios de produtos que já não existem ou, por falta do prestígio que um dia tiveram, parecem não existir.

No rádio, a voz do locutor, em sequência rápida, sugeria a mesma intensidade nos movimentos de alguém que “senta, levanta, senta levanta; põe o paletó, tira o paletó; senta, levanta”, mas continua impecável “porque está usando nycron!” Na televisão a fala era reforçada pela imagem de um homem nessa mudança frenética de postura. O nycron, tecido de grande prestígio entre consumidores nos anos 1960, 1970, tinha como principal propriedade a de não amarrotar, além de ser leve, de uso agradável e dar particular elegância às roupas, masculinas ou femininas. Nem precisava ser passado, engomado. Ao secar, após a lavagem, estava pronto para uso.

Nas TVs de Pernambuco, em 1972, ouviam-se os acordes introdutórios da música “If” do Grupo Bread. A melodia era marcada por sequência de sons pontuais e suavemente vibráteis de um sintetizador, no lento ritmo em que, na imagem, uma mão colocava alimentos prontos sobre mesa decorada. A voz encorpada do locutor descrevia: “Breakfast: café com leite, pão, bolo, manteiga, ovos, bacon e…notícias. Diário de Pernambuco, o seu jornal”. O jornal era o último elemento disposto na mesa. A imagem permanecia por segundos coincidindo com a audição dos primeiros versos (If a Picture paints a Thousand words…) e fechando a bem elaborada peça publicitária.

As décadas citadas marcam a passagem do padrão de cozinhar, do fogão a lenha ou a carvão por aquele que usa o chamado gás de cozinha. A Ceará Gás Butano, do Grupo Edson Queiroz, além de distribuir o gás produzia os fogões que receberam o mesmo nome do combustível utilizado. Eram os fogões Butano. Para convencer as donas de casa, na TV a imagem mostrava as peças, um texto falado descrevia as vantagens e um coral concluía com uma musiquinha que cantava o próprio slogan do produto “Pergunte a quem tem um…Butano!”

Inúmeros poderiam ser lembrados, mas o espaço e a paciência do leitor ou leitura não permitem. Fica a cargo de cada um lembrar das propagandas que tornavam o intervalo comercial melhor que os programas  a que se assistia.

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