Crônica

O ALTO LOVÔ

Era assim, como está no título, que o povo chamava. Alto Lovô, corruptela de art noveau nome que, segundo Dorian Jorge Freire, teria sido dado por Américo de Oliveira Costa (Freire, Dorian Jorge. Os Dias de Domingo – Natal. Fundação Regional do RN: Livraria Independência, 1991, pg 146). Seus limites territoriais eram a Rua Prudente de Morais, ao Sul, Afonso Pena, ao Norte, Marechal Hermes a Leste e Nilo Peçanha a Oeste, incluindo alguns terrenos ao fundo desta última, vizinhanças da Av. Alberto Maranhão, no trecho entre a Campos Sales e Rodrigues Alves. Essa delimitação é importante porque pelo interior desse território não passava pessoa da cidade que de um modo ou de outro não tivesse com ele algum envolvimento. Do mesmo modo, a maioria de seus habitantes aí vivia semiconfinada, saindo quando estritamente necessário e com certas reservas. O funcionamento dos bares dava-se principalmente à noite.

A topografia compreendia uma parte ligeiramente elevada onde, não por coincidência, ficavam os estabelecimentos de mais alto padrão: Bar Brahma, Copacabana, Arpège, Moulin Rouge, Casablanca, Cassino Las Vegas. A descida na direção sul era dominada pelo que os jornais e rádios chamavam de “baixo meretrício”. A exceção era a Boite Coimbra, incluída na categoria elite, que ficava além da linha da Mal Hermes e com frente para a Prudente de Morais. O acesso à Coimbra era pela parte posterior da construção, já que a rua da frente era de trânsito dito normal. Em horas mais entradas na noite as portas e janelas da frente eram abertas.

O Bar Brahma era o mais antigo, espécie de núcleo em torno do qual espalhavam-se outros bares e boites, a maioria conhecida também pelo nome dos proprietários ou proprietárias. Alguns garçons e outras figuras do cotidiano desses locais viravam personagens populares no meio e fora dele. Casos, por exemplo, de Braulio e Orlando Cocotinha, entre os garçons. Braulio destacava-se por ser exímio dançarino. Se fazia par com dama de igual habilidade artística, as outras pessoas voluntariamente esvaziavam o “dancing” para ver a exibição.

Controlar os “furdúncios”, que não eram incomuns, era tarefa do Sargento Pio ou do Cabo (depois Sargento) Ladislau, que ao som de estridente apito cadenciava a corrida desabalada de sua infantaria na direção de determinado local quando algum valentão (ou algum “reado” como falava Ladislau) ameaçava a ordem e os costumes. A maioria dos casos era de pequenos delitos e terminavam com algumas horas de xadrez e varrição da delegacia (incluindo o terreiro) pelos ditos sujos, ou melhor, ditos cujos.

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