CRÔNICA

MANÉ FOGUETEIRO

Na canção antiga, Mané Fogueteiro era aquele que encantava as crianças, fazendo rodinhas, soltando balões, na vila distante de Três Corações. Essas figuras, de fato, existiam por aqui também. Não eram propriamente profissionais, como sugere o nome. Tiravam seu sustento regular de outros labores, profissões modestas. Mas, eram pessoas conhecidas pela habilidade de soltar aqueles fogos simples, artefatos de pólvora fortemente amarrados à extremidade de uma vareta, que precisavam subir de modo bem direcionado antes de explodir. Quem não era perito nesse manejo podia fazer o rojão disparar na horizontal, explodindo perto do chão, grande risco para as pessoas e para coisas inflamáveis.

Eram obrigatórios nas quermesses e festas de padroeiro ou padroeira da cidade. E, também, eram chamados nas comemorações paroquiais, passagem do ano, inaugurações de estabelecimentos comerciais, festas de aniversário, comícios políticos, nascimentos e uma série de outros motivos, inclusive a chegada de alguém, de volta de uma viagem a lugar distante.

A evolução na fabricação de fogos de artifício levou a mudanças também no uso desse material. Em vez do foguete simples surgiram os grandes shows pirotécnicos que viraram marcas de grandes cidades pelo mundo, especialmente nos fins de ano. No Brasil, de capitais como Rio de Janeiro e São Paulo esses shows difundiram-se por todo país. Não era mais coisa apenas para mãos hábeis, capazes de fazer o foguete subir na vertical. Tudo passava a depender agora de sofisticada engenharia.

Só as festas juninas mantiveram, de certo modo, os fogos tradicionais. Entretanto, precisaram limitar seu uso a certos espaços. A população concentra-se em cidades, cuja maioria tornou-se de grande e médio porte. O adensamento de construções e equipamentos, sobretudo equipamentos elétricos e inflamáveis, aumentou exponencialmente a possibilidade de acidentes graves. Mais recentemente, o problema do ruído explosivo, que sempre incomodou alguém, mas era tolerável, aumentou de nível devido à frequência e intensidade, além do aumento da força de explosão desses artefatos. Tem chamado a atenção o efeito particular desse excesso de ruído para algumas pessoas e para animais domésticos. Atualmente, nas comemorações juninas de algumas escolas, chega-se a evitar, e mesmo a vetar, o antes inofensivo “chumbinho”.

Mané Fogueteiro teve um fim trágico. Não por soltar foguetes, mas por questões amorosas. Aqui também não há mais fogueteiros. Tornaram-se obsoletos pela evolução, tecnológica e de costumes.

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