CRÔNICA

FRONTEIRAS REFERENCIAIS

Chegando ou saindo de Mossoró havia lugares de referência que orientavam a percepção do viajante sobre quanto tinha caminhado ou quanto faltava do caminho até o destino. Especialmente no retorno, é possível que essa percepção aliviasse um pouco o cansaço ou mobilizasse reservas de energia para continuar. Em todas as direções encontravam-se esses pontos referenciais. A associação desses locais a essa ideia era significativa e a passagem por eles comumente citada nas narrativas da viagem.

Quem ia a Tibau, no desconforto de um veículo duro, sacolejando por estrada que muito bem poderia ser um laboratório de teste de resistência da coluna vertebra humana, mitigava um pouco essa sensação quando chegava na Gangorra. Nessa comunidade com algumas casas e pequenos sítios, além de relaxar a musculatura, o ânimo era renovado por se ver vencida metade ou pouco mais da viagem e saber que daqui a pouco se estaria na praia. Na volta, a percepção de proximidade da chegada era o “Peba na Pimenta” ou casa de Maria Benta, um pequeno comércio de bar e restaurante rústico em uma casa de taipa, alpendrada, à beira do caminho, a poucos quilômetros das primeiras casas da zona urbana. A região, atualmente, foi completa ou quase completamente envolvida pela expansão da cidade.

No caminho de Fortaleza, o distanciamento de Mossoró, na ida, e sua proximidade, na volta, começava a ser sentido a partir da fronteira estadual, ali na região de São Romão e Mata Fresca. Já quem usava o trem, no destino às cidades do alto oeste norte-rio-grandense e da Paraíba, geralmente citava a passagem pelo 101. A comunidade entre Caraúbas e a então Vila de São Sebastião, atual cidade de Dix-sept Rosado, era uma das estações, exatamente no Km 101 da ferrovia, e era esse ponto de reparo da chegada a Mossoró.

No deslocamento para Natal o anúncio do distanciamento ou da proximidade, conforme o sentido, era e continua sendo a região do Hipólito e da Volta, mais precisamente, o Bar de Zé da Volta. Houve um tempo, quando as viagens eram mais longas, não porque as cidades estivessem em lugares diferentes, uma em relação à outra, mas pelas condições das estradas e dos meios de transporte, que uma primeira parada, das várias necessárias para diminuir o enfado, era justamente ali e o “Café” ficava repleto desses passantes, principalmente nas primeiras horas da manhã.

Assim como os citados, Barrinha e Baraúna, indo para o Ceará, via Russas; Porto Santo Antonio, na ida para Grossos pelo caminho das salinas; Sussuarana, no rumo de Areia Branca, eram marcos naturalmente referidos.

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