O modelo atual de “shows” musicais de cantores e instrumentistas em cidades de todas as regiões do Brasil vem da década 1990 e tornou-se mais comum nesses anos do século XXI. O período de 1950 a 1980, de comunicações mais restritas, conheceu outra forma de apresentação desses ídolos, os nacionais e raros estrangeiros, pelos palcos das capitais e, em menor escala, cidades dos interiores brasileiros.
Ver o artista preferido cantando ali em sua frente era ocasião especialíssima ou singular, ou seja, talvez só acontecesse uma vez na vida. O local era geralmente o ambiente fechado de um teatro, aliás, fora dos grandes centros, essas apresentações se davam nos palcos dos cinemas locais que, em função dessa utilização híbrida, eram comumente designados como “cines-teatros”. Rarissimamente ocorria em um clube social para uma plateia mais que privilegiada. Havia, também, shows abertos, em praças públicas, mas esses eram exceções ainda maiores. A admiração de ver ídolo de perto era um pouco frustrada pela diferença entre a audição habitual de uma gravação feita em estúdio, com participação de grandes orquestras, e a performance do cantor ou cantora no palco, acompanhado de músicos locais, não porque fossem esses músicos tão menos talentosos que os que participavam das gravações (alguns podiam estar no mesmo nível), porém pela pequena quantidade de instrumentos disponíveis e pela ausência de recursos tecnológicos como mesas de som adequadas, com canais suficientes para que esses instrumentos fossem ouvidos de forma a “preencher” a sonoridade esperada na comparação citada com os discos.
“Com vocês, o famoso e aplaudido, Fulano de Tal!”. O inevitável bordão marcava a entrada do artista em cena, na caprichada entonação dos apresentadores do espetáculo, locutores com alguma desenvoltura de palco entre aqueles da equipe da rádio promotora do evento. Pediam, então, à entusiasmada plateia, a calorosa salva de palmas.
O número de assentos das salas de cinemas limitava o de expectadores desses shows. Se o astro ou estrela era sucesso de fato, as sessões tinham que ser, pelo menos, duplas e, mesmo assim, quem conseguia comprar os ingressos tinha que se comprimir na hora do acesso ao local da apresentação, um constrangimento que se somava ao preço pago para ver o artista. Uma vez dentro do cinema, restava o teste da simpatia, ou o contrário, da empáfia do dito cujo ou dita cuja. Era aí que o público sentia se valera a pena o esforço ou voltava para casa decepcionado em razão do conceito que até então fizera do “famoso e aplaudido”.