Crônica

EXAME DE ADMISSÃO

O resultado obtido no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) habilita estudantes a buscarem em extensa lista de cursos e estabelecimentos educacionais espalhados no território nacional a oportunidade de entrar para uma faculdade. O antigo vestibular, ainda adotado por algumas instituições, era mais restritivo, pois a chance limitava-se a uma escola específica e geralmente a apenas um curso alternativo, caso o examinado não obtivesse, considerada a classificação e número de vagas, nota suficiente para cursar sua primeira opção. Mas, antes, o gargalo para chegar ao ensino superior era duplo, quando a passagem do curso primário para o ensino médio dependia do êxito em uma prova geral, supostamente abrangendo o conteúdo de conhecimento dos primeiros anos, o exame de admissão ao ginásio, ou simplesmente exame de admissão.

O último ano do primário tinha um livro-texto mais ou menos volumoso, mas que era visto por estudantes como um “livrão”, com título de “Programa de Admissão”, adolescentes de faces saudáveis na capa e, dentro, uma infinidade de informações e conhecimentos a serem decorados até a última página para o sucesso no temido exame que podia significar o encerramento dos estudos no nível mais básico ou projetar o jovem ou a jovem ao respeitado clube dos que iriam envergar as fardas das escolas de segundo grau, fazer o ginasial e, posteriormente, científico ou clássico.

Havia cursos preparatórios, como depois passou a ter para os vestibulares, mas, sobretudo, era preciso fazer o primário em uma escola razoavelmente estruturada, com professores que já orientavam para o desafio próximo do acesso ao segundo grau, fosse no conteúdo ensinado, fosse nas informações gerais relacionadas ao futuro escolar, pois, com exceção de centros maiores, boa parte das escolas, públicas e privadas, dependiam de mestres cuja formação limitada dava apenas para capacitar as crianças em algumas leituras simples e operações aritméticas fundamentais.

Quem lograva passar no exame era considerado, de fato, estudante, uma categoria vista como gente importante em um país formado por grande maioria de pessoas pura e simplesmente analfabetas ou semialfabetizadas. Eram os futuros doutores, políticos, grandes empresários. Nem todos chegavam a isso, obviamente. Mas ao romper a barreira do exame de admissão já garantiam posição privilegiada na sociedade, ao ascender a um simples emprego cujos requisitos para o seu exercício incluísse a exigência, inatingível para muitos, de ter o ginasial completo. Em algumas cidades não deixavam mesmo de pertencer ao que se tinha como elite.

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