Os anos 1960, em todo mundo, foram de grandes transformações na ciência, tecnologia, política, artes, esportes. Isso em velocidade inédita, obrigando a assimilação rápida dessas novidades, causando certo espanto e estimulando polêmicas. Atento aos objetivos aqui propostos, a polêmica a que nos reportaremos é algo terra a terra, relacionado à vida e comportamento comuns de pessoas comuns, embora com fulcro nos grandes acontecimentos de então. Mais claramente, falamos de discussões em torno da preferência musical de estudantes, sob a avaliação crítica desses mesmos estudantes, refletindo a percepção do mundo prevalente entre esses grupos.
Essas discussões eletrizaram corredores de escolas de nível médio e superior daquele período. As conexões entre as essas diferentes preferências e os grandes fatos mundiais tendem a ser óbvias, mas não nos deteremos nelas.
No mundo, a explosão do rock e sua forma melosa, o yê-yê-yê, confirmava grandes nomes vindo da década anterior e projetavam novos ídolos, sobretudo as bandas, icônicas até os dias atuais. No Brasil essa linha era representada por movimento chamado “jovem guarda”, expressão cunhada com o claro objetivo de caracterizar o moderno no simbólico contraponto à “velha guarda” como se denominava o grupo que defendia a tradição musical, sobretudo do samba de autores identificados com a vida e história da gente simples de morros e periferias das cidades brasileiras. Interessante é que a denominação “velha guarda” ganhou dimensão como postura relacionada a outro movimento, a “bossa nova”, tida pelos velhos sambistas como forma de submeter o samba à “influência do Jazz”, para citar o título de uma música do conhecido compositor Johnny Alf. Aos poucos a bossa nova foi sendo assimilada como autenticamente brasileira, um pouco mais sofisticada que o samba popular. Com os famosos festivais da TV Record consolidou-se a tendência derivada desses dois movimentos maiores, chamada música popular brasileira, denominação, a meu ver, redundante.
E onde estava a polêmica que esquentava os corredores escolares? Exatamente na divisão entre os admiradores de cada um desses estilos. Se alguém era “alienado”, “conivente com a entrega do país à cultura e interesses estrangeiros” sobretudo da América do Norte, cantava e dançava ao som de Beatles, Rolling Stones e dos brasileiros da jovem guarda. Se era “consciente” “engajado” comprometido com o Brasil, preferia o samba genuíno, os “sambas de protesto” e até a bossa nova. A evolução veio mostrar que essa dicotomia, embora fizesse todo sentido naquele momento, seria revisada e resultaria em uma visão bem mais abrangente da questão.