Entrevista

Conversa da Semana com Wellington Fernandes

A Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) está nos preparativos para mais uma edição do Aquece Mossoró, campanha realizada pela entidade para alavancar as vendas no comércio de Mossoró e região. O presidente da entidade, empresário Wellington Fernandes, explica, nessa Conversa da Semana, como será a promoção deste ano, realçando inclusive as novidades. Fernandes também fala sobre os problemas econômicos enfrentados pelo país e, consequentemente, pela cidade. Diz que a retomada do crescimento somente será possível com reformas e que falta segurança legal e tributária para quem deseja empreender no Brasil. Segue a entrevista:

Por Márcio Alexandre

Portal do RN – Como vai ser o Aquece Mossoró esse ano?

Wellington Fernandes – A campanha do Aquece Mossoró neste ano acontecerá nos moldes do que foi o ano passado, com pequenas modificações que gente realizou para adequar melhor à realidade e necessidade do comércio. A primeira modificação foi com relação ao prazo da campanha. No ano passado foram duas semanas e esse ano se entenderá por três semanas, isso decorrente de demandas dos próprios lojistas que participaram ano passado, que viram que a campanha é grande, muito boa, que demanda um investimento alto que o lojista faz, e que gostariam que houvesse um prazo maior para aproveitamento da campanha. Ela vai se iniciar em 14 de setembro e vai até 5 de outubro. A data de início é praticamente a mesma, mas prorrogou-se mais uma semana. A gente vai pegar duas semanas do mês de setembro, período fraco do comércio, e na segunda quinzena mais fraco ainda. E aproveitar a primeira semana de outubro, dia 5 está saindo pagamentos, para dar uma agitada no comércio. A gente também fez uma alteração em termos de premiação. É o mesmo número de prêmios, mas a gente substituiu um smarphone por mais uma moto. Será um carro, duas motos e 12 smartphones. Ano passado tinha sido um carro, uma moto e 13 smartphones. Em linhas gerais, a promoção é essa. E amanhã (a entrevista foi feita na terça-feira, 12/8), vai ter o lançamento, com um show de Waldonys. E esse show foi patrocinado, porque tudo na campanha a gente busca patrocínio ou dos lojistas ou de alguma entidade. E esse especificamente a gente conseguiu por meio de Júnior do Supermercado Rebouças.

PRN – Uma campanha tão importante para a economia d Mossoró e região tem recebido apoio dos poderes públicos?

WF – Olha, a cada campanha tem havido o apoio alternado, vamos dizer assim. Nessa campanha, estamos na terceira edição do Aquece Mossoró. Anteriormente nós tínhamos o Liquida Mossoró, que teve o apoio do governo do Estado e prefeitura. Na edição passada, nós tivemos o apoio da prefeitura, e não tivemos do Governo do Estado. Nessa edição de agora, a gente já recebeu um apoio do Estado, uma promessa de apoio, estamos caminhando para ver se consolida, porque a burocracia do Estado é muito grande. A prefeitura, ainda estamos em conversa para termos também o apoio dela. De qualquer maneira, a prefeitura sempre tem dado o apoio e a gente acredita que vá conseguir também.

PRN – O Aquece Mossoró tem realmente alavancado as vendas?

WF – Tem sim. Tem depoimentos de lojistas nesse sentido. E até nessa campanha para a gente viabilizar, a gente montou parceria com grandes redes de supermercados, de combustíveis, antes mesmo do lançamento para a gente já iniciar tendo uma viabilidade da promoção. Um proprietário de uma rede de combustíveis nos disse que já tinha interesse de participar do Aquece Mossoró porque na campanha passada e ele não tinha entrado e tinha havido uma queda nas vendas dele. E ele disse que tinha conversado com os frentistas sobre o porquê da queda e eles que informaram que a uma rede de combustíveis próxima estava participando da campanha do Aquece Mossoró. Então, em termos de depoimento, temos essa confirmação. E a gente tem conseguido a cada edição um apoio maior dos lojistas, o que confirma o êxito da campanha.

A gente cobra o seguinte: a campanha, para você participar, você precisa ofertar pelo menos um produto que tenha uma promoção significativa nele.

PRN –  Ao longo dessas campanhas, temos percebido reclamações de consumidores de que próximo delas, alguns lojistas aumentariam os preços dos produtos para, durante a campanha, passar a impressão de que estão concedendo descontos bem maiores do que realmente são. Como conscientizar os lojistas a esse respeito?

WF – Isso é um temor do consumidor e a gente também tem essa precaução de conscientizar o lojista na ora da participação. A gente cobra o seguinte: a campanha, para você participar, você precisa ofertar pelo menos um produto que tenha uma promoção significativa nele. Isso é um ponto básico e a gente tem feito um acompanhamento disso. A gente monta uma equipe, sai visitando as lojas e observando. Mesmo fora desse acompanhamento, hoje o lojista já está mais consciente e a gente passa essa informação de que o próprio consumidor já é um fiscal direto dessa prática. Hoje não tem mais como você fazer esse tipo de prática, porque com a internet ele faz pesquisa de mercado, tem todo um aparato de divulgação, então não adianta você dizer que essa caneta era um real,  e agora vai ser um e cinquenta e eu vou fazer por um real que isso não vai pegar mais ninguém. Então é um fato isso aí.

PRN – Hoje o consumidor está mais exigente?

WF – Hoje, o consumidor é muito mais proativo, ele chega na loja já sabe o que quer em termos de produto. A loja ela tem um diferencial em relação à internet porque na internet você vai lá, vê o produto, as características, mas tem umas coisinhas que não são muto boas as informações, e você não tem com quem tirar certas dúvidas. Na loja não, você está ali presente, o vendedor lhe explica, orienta. Eu tenho uma prática na minha loja de não vender um produto ao consumidor que não seja necessário para ele, que a gente atenda realmente à sua necessidade. Ás vezes você está com um produto ali, querendo vender por vender, e às vezes pode até parcialmente atender ao com sumidor, mas não plenamente. Então tenho essa prática e gosto de passar essa mensagem. Gosto de colocar o seguinte: o consumidor quando está numa loja ele não vai comprar nada, ele vai lá porque tem um problema para resolver. Aí, ele vai na loja e dependendo do que vão colocar pode ser até que ele compre algo para resolver seu problema, mas às vezes só uma informação de que você está equivocado, de que você está pensando que o produto que você tem lá está com defeito, quando na verdade pode ser outra coisa, então é um serviço e a gente tem que focar muito em serviço para atender aos consumidores.

PRN – A CDL promoveu esse ano a campanha do Dia Livre de Imposto. Quais foram os impactos? Se teve a adesão esperada?

WF – Essa campanha para nós foi uma novidade, até me termos de participação, e a campanha apesar de nacionalmente já ter algum período, ela não tinha chegado até nós. Essa campanha é encampada pelo CDL Jovem, e como na cidade não temos uma CDL Jovem então ficava um pouco desconectada. Mesmo assim, eu procurei atentar para essa campanha, só que o período em que a gente tomou conhecimento já estava muito em cima e não deu para fazer mobilização. Mesmo assim a gente ainda conseguiu cerca de 15 adesões. O interessante é que nessa campanha é você (lojista) quem está bancando. O lojista não vai deixar de pagar o imposto, ele apenas está subtraindo o imposto do valor que ele vai vender para o consumidor. É uma campanha de conscientização para a questão do imposto, e espero que nessa reforma tributária que se está falando que fique mais claro essa questão do imposto que o consumidor está pagando. Seria até uma maneira de educar a população porque as pessoas pensam assim: se eu não pagar imposto de renda, então eu não pago imposto. É isso que a população de maneira geral pensa, tanto que se destrói patrimônio público, como se não estivesse pagando por aquilo. Tem que ter uma maneira de colocar assim, por exemplo: esse gravador é 100 reais, mas tem mais 10 reais ou 20 reais de imposto, aí você teria consciência do que você está pagando. Teríamos até uma cobrança mais efetiva aos governos e os governos seriam mais responsáveis. É isso que a gente almeja com essa reforma tributária, e que as pessoas possam participar mais desse processo.

PRN – O Dia Livre de Imposto é uma clara pressão ao governo para rever a questão tributária em nosso país?

WF – Exatamente. É uma forma de pressionar o governo para que ele simplifique o processo tributário e ao mesmo tempo mostre à população onde está sendo aplicado o imposto. Hoje a questão do imposto é uma barafunda. Tanto que a gente vê lojista dizendo diariamente que se tivesse uma fonte de renda que desse para ele se manter, ele fecharia o seu negócio. Quer dizer: isso é muito triste, o próprio governo levar as pessoas a desistir do seu negócio quando a gente está precisando cada vez mais de negócios para gerar mais empregos. País com mais de 13 milhões de pessoas desempregadas, nada mais é que empresários desistindo de investir.

A medida que o governo possa tomar para mudar esse quadro, ela não existe.

PRN – O senhor falou na questão do desemprego. Existe uma medida clara do atual governo federal para, pelo menos, minimizar esse grave problema?

WF – A medida que o governo possa tomar para mudar esse quadro, ela não existe. Vou fazer isso aqui e vai resolver o problema, não vejo. Tem que ser um conjunto de medidas que a gente tem que tomar. Ao longo do tempo o país foi se engessando demais e isso não é bom para nada ou ninguém. A gente precisa que o governo crie as medidas saneadoras, como a Reforma da Previdência, que infelizmente seja boa ou ruim, mas que tinha que ser feita. O país está quebrado, isso é fato. Aí a gente pensa, mas o governo tem dinheiro, o governo não tem dinheiro, o dinheiro que ele tem é o que tira do nosso bolso, se o nosso bolso está seco, estamos com 13 milhões de desempregados, como é que tem dinheiro? Temos que gerar condições para que isso possa gerar novamente.

PRN – Dados da Associação Nacional dos Auditores Fiscais apontam que no Rio Grande do Norte, de cada 3 municípios, em 2 o dinheiro dos benefícios previdenciários é superior à arrecadação do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Isso não vai afetar diretamente a economia das cidades?

WF – Vai impactar e pode impactar no sentido de que ao longo prazo, você vai ter um período de tempo em que vai diminuir o número de novos aposentados, mas de maneira geral os benefícios dos aposentados do Rio Grande do Norte são na faixa de um salário mínimo. Então não vai ter muito impacto, isso aí não vai ter muita mudança. Eu vou ter um tempo a mais para me aposentar, que normalmente os que se aposentam com um salário se aposentam com 65 anos, a grande maioria se aposenta com essa idade. Tirando os privilegiados que tem altos salários, o resto se aposenta com 65 anos. Um comerciante se aposenta com 65 anos, um empregado do comércio se aposenta com 65 anos, exceto alguns que começaram a trabalhar muito jovem, teve o privilégio de assinar a carteira muito jovem, fora isso não vai ter muita mudança pra gente. Eu penso dessa maneira.

Como é que o país tem 13 milhões de desempregados e os governos botam barreiras que impedem o crescimento das empresas?

PRN – Do ponto de vista prático, o que impede que o comércio local se desenvolve da maneira que os lojistas gostariam?

WF – Olha tem a questão burocrática. Por exemplo: você quer fazer uma reforma em seu negócio, a burocracia é muito grande. Legalmente você fazer uma reforma, uma construção, a burocracia é muito grande. Conheço empresários que tem investimento e passam um ano para conseguir uma licença da prefeitura, do Idema. Como é que o país tem 13 milhões de desempregados e os governos botam barreiras que impedem o crescimento das empresas? O que os empresários reivindicam não é liberalizar tudo, para se sair por aí invadindo tudo, derrubando mata, não é isso. Claro que tem aqueles que se aproveitam das situações, independente de qualquer atividade, tem empresário, tem comerciante que querem se aproveitar de tudo. Mas de maneira geral as pessoas tem sua responsabilidade, sua consciência e tem os meios legais de se cobrar isso. O que a gente precisa é que haja uma desburocratização, uma facilidade, e que após a Reforma da Previdência saia a Reforma Tributária, simplificação dos processos, que facilita as empresas a se desenvolverem, a nascerem.

PRN – De forma concreta, o que essa burocratização traz de prejuízos?

WF – Eu tenho colocado isso para os secretários de Tributação do Estado e do município, já no governo passado, até com o próprio Robinson (Faria, ex-governador), numa reunião, no gabinete dele, que nós temos uma articulação não só do nosso Estado, mas de todo o Brasil, essa questão da microempresa. A microempresa, ela chega a um certo patamar e o que acontece, se ela passar desse patamar, ela vai para o regime normal, esse regime normal é quase como condenar essa empresa a sucumbir, porque há uma diferença de impostos muito grande. Se você tiver bastante funcionários aí é que a diferença é enorme. Que eles criassem uma faixa mais elástica onde você fosse gradualmente até chegar ao regime normal. Aí você já está com “sustância” para se manter nesse regime normal. Eu vejo muito de fornecedores meus de São Paulo que eles criam uma empresa e quando estoura o faturamento eles abrem outra. No nome do filho, da esposa, e daí a pouco ele está com duas ou três empresas para tentar sobreviver. Tem que ter a Reforma Tributária para acabar com essas questões. Qual é o maior orgulho do empresário? É ter uma empresa e crescer.

PRN – Os encargos trabalhistas sempre foram motivo de reclamação por parte dos empregadores. A Reforma Trabalhista mudou alguma coisa nesse aspecto?

WF – Em termos de encargos, muito pouco. Foi muito mais em termos de regras de convivência. Algumas situações que aconteciam e que a reforma deu uma melhorada, mas em termos de encargos não mudou. Quando chega o dia de pagar o INSS a gente vê a “lapada” do que é realmente o INSS. Está com dois meses que o contador me manda a relação do INSS e agora vem discriminado. Por que antes vinha assim: INSS, valor de terceiros, e total. Agora vem dizendo: SESC, Senac, até INCRA a gente paga no comércio dentro da guia do INSS. Então vão enxertando penduricalhos e quando a gente vê está um monstro. E o funcionário, o que é que recebe disso? E a população? Aí vem a multa do FGTS, 50%. Aí a pessoa entra em dificuldade e fica entre a cruz e a espada. Se eu estou em dificuldade, não tendo nem como pagar o salário, também não tenho como botar ele pra fora porque tenho que pagar a multa. Então, 50% a gente recolhe, 40% vão para o funcionário, 10% para o governo. 10% já no governo de Dilma, o Congresso tinha votado para acabar com ele, e foi vetado. Esses 10% foram criados para sanar o rombo do FGTS decorrentes daqueles planos econômicos, e que fazia uns 3 anos que tinha sido resolvido isso, mas o governo não quer abrir mão desses 10%. Inclusive nem recolhe ao Fundo (FAT – Fundo de Amparo ao Trabalhador). Ele está se apropriando e ficando devedor ao Fundo.

PRN – Como empresário experiente, quais suas expectativas para o futuro do país?

WF – Perspectivas para o futuro só se o país tiver mudança de rumo nessa questão da economia. Nós temos que tirar muitas amarras, muita coisa, criar regras mais estáveis, mais duradouras, mais confiáveis. A gente tem que ter criar para empreender, se desenvolver. E acredito que fazendo essas reformas, o país vai voltar novamente aos trilhos, e consequentemente nossa cidade também vai entrar. A gente sabe que nossa cidade enfrenta uma situação mais complicada até que a nível nacional em função dessa saída da Petrobras. Nós não nos preparamos para isso. Não criamos novas vertentes econômicas que pudessem suprir essa saída de Petrobras.

PRN – E como fazer para suprir essa lacuna?

WF – Temos que buscar outros caminhos. Tem situações que podem contribuir, que não precisariam investimentos tão altos. Conheci o projeto das Furnas Feias, mas que não é ainda aberto à visitação, precisa de um trabalho para isso. Conheci um projeto do Sebrae que com menos de 1 milhão de reais você consegue deixar ela estruturada para isso. Então como é que um projeto desses emperra por causa de 1 milhão? Aí tem várias outras questões. Aquela famosa estátua de Santa Luzia, que falou-se e nunca saiu. Tem municípios pequenos do interior construindo estátuas e tendo um bom retorno. Em Mossoró, isso seria um atrativo muito grande. Nós já temos a maior festa religiosa do interior do Estado e uma estátua de Santa Luzia iria atrair uma visitação muito grande. A gente poderia explorar mais as águas termais. Em Caldas Novas, no interior de Goiás, é um mundo só em função das águas termais, não tem outra coisa lá. Temos aqui, temos facilidade e tudo, mas pouquíssimo explorado. A gente vai participar de feiras fora e quando a gente diz que é de Mossoró o povo lembra logo do Thermas, dizendo que é um paraíso. Então a gente poderia explorar mais essas vertentes para atrair emprego e renda para nossa cidade.

 

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