Entrevista

Conversa da Semana com Pablo Aires

O jovem Pablo Anglesn da Silva Aires, o Pablo Aires foi uma grata surpresa que as urnas apresentaram nas eleições de 15 de novembro em Mossoró. Sem grande estrutura, mas defendendo uma importante causa, ele foi eleito vereador, pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), superando nomes tradicionais da política local. Natural de Mossoró, mais especificamente da comunidade do Jucuri, onde cresceu ao lado do irmão Paulo e dos pais Francisca Antônia (Cineide) e Antônio Erivan (Belo), ele conquistou uma vaga no Legislativo ao obter 1.857 votos. Pablo cursou todo o ensino básico na rede pública, cuja dedicação garantiu ingressar, aos 16 anos, no curso de Administração de Empresas e, já formado, retornar à universidade para cursar Direito, em 2015, com uma bolsa do PROUNI.

Paralelo aos estudos, dedicou-se ao trabalho. Aos 18 anos criou uma agência de terceirização de serviços e, aos 20 anos, empreendeu uma loja de conveniência com funcionamento 24h, durante os 7 dias da semana. Na administração pública foi servidor temporário do Ministério Público do RN, integrando a unidade especializada no processamento de crimes contra a vida.

Atuou no movimento estudantil desde a formação básica, o que gabaritou a liderar o Diretório Central dos Estudantes – DCE, com participação enérgica em edições do Congresso da União Nacional dos Estudantes.

Ao longo dessa trajetória, a luta pela proteção aos animais também atraiu seu esforço. Há anos, dedica-se no resgate, atendimento e adoção de animais debilitados e em situação de rua. Está formalizando o “Instituto Ampara”, uma associação para institucionalizar a luta em defesa dos direitos dos animais. Conheça as propostas e ideiais de Pablo Aires nessa Conversa da Semana:

Por Márcio Alexandre

PRN – Quando surgiu seu interesse pela política e o desejo de se candidatar a vereador?

PABLO AIRES – Durante toda a minha vida eu passei por problemas sociais. Eu nasci numa comunidade rural de Mossoró o Jucuri, e é uma comunidade muio carente de todos os serviços públicos. Tem um atendimento médico muito precário, não tem sinal de telefone, o desabastecimento de água é muito forte (quando criança eu tomava banho dentro de uma bacia para reaproveitar aquela água). Hoje, muitos anos depois, muitos dos problemas da comunidade rural permanecem os mesmos. E isso aconteceu em toda minha trajetória de vida: na zona rural, na periferia, porque eu vim morar numa comunidade periférica, onde enfrenamos todos aqueles problemas dos bairros periféricos. Por fim eu ingressei na causa animal que é uma bandeira muito importante do nosso futuro mandato. E percebemos que nessa causa há um problema que sem a política não é possível resolver. A sensação que a gente – que resgata animais – tem, é que a gente resgata um animal e 100, 200 estão nascendo na rua. Então é um trabalho de enxugar gelo porque enquanto a gente não tiver uma política séria de controle populacional desses animais, não vamos resolver esse problema. Então comecei a enxergar sem política a gente não tem pulsão para resolver nenhum problema social. E a gente reclama muitos dos problemas sociais que a gente tem, mas é responsabilidade, dever nosso enquanto cidadão, participar da política, sem ter familiares na política, entrar e tentar fazer alguma mudança. Foi a partir desse sentimento que a gente resolver entrar na disputa eleitoral e graças a Deus tivemos êxito em Mossoró.

Comecei a perceber que era possível romper esse ciclo de que somente políticos tradicionais podiam ocupar lugar na política e aí tivemos êxito com quase 2 mil votos aqui em Mossoró.

PRN – A nominata do seu partido só conseguiu eleger um candidato. Em que momento da campanha você percebeu que teria chances de conquistar uma vaga?

PA –  É muito difícil porque durante o processo eleitoral você lida com grandes estruturas. Tínhamos vereadores eleitos nos outros partidos que disputam votos indiretamente com você, e a gente tem a disputa interna, dentro do partido para saber quem será o mais bem colocado, já que todas as projeções apontavam que nosso partido só teria um vereador. Então, nós tínhamos om desafio de ficar em primeiro lugar dentro do nosso partido. O presidente do nosso partido já tinha sido vereador em Mossoró – acho que por dois mandatos – e presidia o partido, então nos parecia um obstáculo superá-lo, que é uma pessoa com mais experiência na política, com estrutura maior, inclusive o comando do partido. Realmente, não é fácil, mas quando você faz a política conversando com as pessoas de forma transparente, mostrando em que você acredita e a forma como pretende fazer, as pessoas estão cada vez mais exigindo uma postura mais técnica – mas ainda é lento esse processo e eu penso que tende a crescer – há uma grande chance de êxito. Não tivemos uma grande estrutura, fizemos uma campanha conversando com as pessoas, fazendo visitas, contando com apoio de colegas e por meio das redes sociais. Então foi uma campanha de baixo custo, sem grandes estruturas, sem figuras políticas relevantes – não tinha senador, não tinha prefeito, não tínhamos ninguém assim nos apoiando, inclusive não apoiamos nenhum candidato a prefeito, mas as pesquisas eleitorais nos colocavam numa posição muto boa e aí comecei a perceber que era possível romper esse ciclo de que somente políticos tradicionais podiam ocupar lugar na política e aí tivemos êxito com quase 2 mil votos aqui em Mossoró.

PRN – Você abraçou uma causa ligada à defesa do meio ambiente. Nessa área, um dos grandes problemas que nós temos é a poluição do Rio Mossoró. Como você pretende trabalhar para que algo seja feito pelo poder público em relação a essa situação?

PA – Primeiro, a gente tem que entender a importância do rio. O rio tem uma importância ambiental muito significativa, mas também pode ter uma função econômica para o município muito importante. Acho que a primeira questão que precisamos ter atenção é na questão do saneamento básico, porque ainda existem esgotos sendo jogados no nosso rio. E não há como se desenvolver um projeto de revitalização do rio sem resolver antes a questão do saneamento básico e que o esgoto não vá parar mais no rio. Então é um compromisso do nosso mandato a defesa do rio. Isso envolve uma série de coisas, inclusive a atualização do nosso plano diretor, que está atrasado 4 anos, que precisa ser atualizado de 10 em 10 anos, e isso deveria ter acontecido em 2016, já estamos em 2020. Também vai passar por aí. Vamos estabelecer o diálogo porque entendemos que é importante que sejam feitas ações conjuntas pelos municípios por onde o rio passa. Mossoró sozinho não consegue resolver. É preciso que esses municípios desenvolvam conjuntamente um cronograma mais técnico para realizar essa revitalização. A gente sabe que o rio pode ser revitalizado, trabalhar a mata ciliar e desenvolver o rio economicamente e turisticamente.

PRN – Você declarou recentemente que vai atuar de forma independente na Câmara Municipal, ou seja, sem compor bancada de oposição ou de situação? O que o motivou a direcionar sua atuação dessa forma?

PA – O Poder Legislativo, de direito e de fato, é um poder independente e uma das principais funções do vereador é fiscalizar o Executivo, fiscalizar a prefeitura, o cumprimento do orçamento, julgar as contas da prefeitura. Essa ideia de que a Câmara deve ser um puxadinho do palácio, deve ser superada. Cada um tem a sua função: o prefeito de administrar, vamos contribuir com isso. É momento nenhum a gente falou que vai ser obstáculo à governabilidade. Muito pelo, contrário, nós vamos contribuir. Quando o projeto for bom o prefeito não vai ter que fazer nenhum esforço para conseguir o nosso voto. Contudo, a gente não abre mão da função para a qual a gente for eleito, que é de fiscalizar, de denunciar, de apontar. Vamos fazer uma agenda de visitas surpresas aos órgãos, aos CRAS, às escolas, às unidades de saúde, às UPA´s. Vamos ouvir as pessoas que estão sendo atendidas, ouvir os profissionais, para poder apontar o que está errado e cobrar soluções. Conversei no período eleitoral com diretores  de postos de saúde e como eles estão lá por indicação eles dizem que não tem independência de denunciar o que acontece. Então, o diretor da escola tem um problema na escola, mas não pode denunciar porque se denunciar pode ser demitido pelo prefeito. Isso é um problema inclusive que vamos trabalhar para acabar com essas indicações políticas para diretores de escolas e de unidades de saúde. Nós temos muitos bons diretores mas que não tem independência para desenvolver da melhor forma o seu trabalho. Não é trabalhar contra o prefeito, mas de cumprir com independência, com autonomia a função para a qual nós fomos eleitos.

PRN – Ser independente significa dizer que você votará de acordo com a importância da matéria, não importando se ela seja proposta pela situação ou pela oposição? Isso não é o suficiente para garantir a independência entre os poderes e a governabilidade? O prefeito precisa necessariamente ter uma bancada de maioria para poder governar?

PA – Isso é uma confusão. Culturalmente, temos isso, mas não deveria ser dessa forma porque os poderes são independentes para que cada um desempenhe o seu papel com autonomia. O que acontece são acordos pessoais que se fazem. Acontece muito isso: se você for compor a base do governo você fica com não sei quantos cargos na prefeitura e a parti dali o mandato do vereador fica amarrado ao prefeito porque ou você faz o que o prefeito quer ou você perde os cargos na prefeitura. Para quem é eleito só prometendo favores, empregos, fica muito amarrado porque realmente só vai conseguir ser eleito dessa forma. Para quem se elegeu como a gente, a situação é diferente. Costumo dizer que dormimos domingo eleitos e acordamos segunda sem dever nada a ninguém, porque não prometemos favores, não prometemos emprego a ninguém, prometemos o nosso trabalho de forma honesta. Então para quem foi eleito como nós, que essa deveria ser a forma de todos os cargos, uma forma limpa para você pode exercer o mandato de forma limpa. Porque quem se enche de acordos desse tipo perde a independência para desenvolver o mandato de forma correta porque fica submisso à prefeitura e não será desse jeito que vamos exercer o nosso mandato.

PRN – O Brasil vive uma época de extremos motivada especialmente pela polarização esquerda x direita. Ficar num posição de independência também visa fugir um pouco dessa polarização?

PA – Acho que não. Nós não temos posição de neutralidade, nós temos uma posição de independência. Eu tenho uma posição ideológica, eu sou de centro-esquerda, mas acho que você, tanto enquanto cidadão, quanto como agente público, a gente ter que lidar com todos os atores políticos. Foi assim na nossa campanha e será assim que vamos fazer no nosso mandato. Não importa se é direita, esquerda ou centro, nós precisamos conversar com todos e buscar melhorias para nossa cidade. Esse deve ser o objetivo de todo mundo. Acho que nós temos que amadurecer o debate político de que todos nós estamos buscando melhorias para nossa cidade. Não é um jogo sobre quem é melhor ou quem é pior, não é o famoso nós contra eles. Obviamente vamos encontrar as divergências no caminho porque cada um acredita da sua forma, mas a gente pode encontrar convergências com pessoas que tem também uma ideologia diferente da nossa. Sou filiado ao PSB, mas em nossa campanha tivemos pessoas filiadas ao PSL, pessoas filiadas ao PT, e a gente conseguiu encontrar essa convergência. Em lutas específicas a gente percebeu que dá para conciliar, e em outras, são inconciliáveis. Então não é posição de neutralidade, mas de independência, são posições muito firmes, muto sólidas nesse sentido.

PRN – Você anunciou que vai selecionar jovens para atuar no seu gabinete. Como acontecerá essa seleção?

PA – Nós nos comprometemos a destinar 20% das vagas dos nossos assessores do gabinete para a seleção de jovens de primeiro emprego. Nós teremos duas vagas para fazer essa seleção. Em 2021, vamos selecionar 2; em 2022, mais 2, em 2023 mais 2 e em 2024 mais 2 para tingir 8 jovens nos 4 anos de mandato. Semana que vem, provavelmente na segunda-feira, vamos divulgar o link para que as pessoas façam sua inscrição. Nessas duas vagas vamos colocar um homem e uma mulher, e as pessoas podem fazer suas inscrições e passarão por um processo de seleção e recrutamento normal. Vamos fazer a análise de currículo e a entrevista. Os requisitos são os seguintes: ter o Ensino Médio (exigência do regimento da Câmara), ter no mínimo 18 anos e ser o primeiro emprego.

A gente tem uma proposta de criação de uma veterinária veterinária pública para Mossoró e nós queremos muito que seja discutido no plenário da Câmara.

PRN – Sobre a eleição para a presidência da Câmara. Você já foi procurado por algum candidato? Tem pretensão de se candidatar?

PA –  Nós não vamos disputar o comando do Legislativo. Até por uma questão de inexperiência. O Poder Legislativo, pelo qual tenho muito respeito, é muito importante para a democracia, e por termos pouca experiência acho que não estamos preparados nesse momento para gerir. Mas nós vamos dar nosso voto com muito critério. Conversei com Lawrence, ouvi a proposta dele. Larissa Rosado também entrou em contato comigo, querendo conversar. E os outros que vão disputar eu ainda não conversei mas pretendo conversar com todos para que a gente ouça as propostas de todos. Pra mim o que é importante? Garantir a independência do Legislativo, a autonomia do nosso trabalho enquanto vereador precisa estar garantida. A gente não pode mais admitir que a Câmara de Vereadores seja um puxadinho do palácio. E a segunda coisa é uma conjunção mesmo propositiva. Coisas que são importantes para nossas bandeiras, para nosso mandato, que eu preciso que sejam colocadas em discussão e em votação no plenário. Que o presidente garanta que elas serão pautadas. A gente tem uma proposta de criação de uma veterinária veterinária pública para Mossoró e nós queremos muito que seja discutido no plenário da Câmara. Então nós vamos conversar com todos os candidatos e com muito critério vamos dar nosso voto que não será escondido. Nós vamos publicar nas redes sociais a nossa decisão.

PRN – Embora seja cedo, mas como você é muito jovem, é natural que tenha pretensões maiores. O que você pensa para o seu futuro político?

PA – Desde que fomos eleitos, nossos próprios eleitores, nas redes sociais, sobretudo, acabam cobrando, dizendo que vamos ser deputado estadual, vamos ser isso ou aquilo. Acho que o momento é de cumprirmos aquilo que prometemos às pessoas, que é desempenhar um trabalho sério na Câmara. Acho que tudo na vida é consequência. Nós já tínhamos um trabalho social muito forte na causa animal, e esse trabalho era tão forte, que a gente não precisou fazer uma campanha com uma grande estrutura nas ruas. Foi um reconhecimento. Então, se fizermos esse bom trabalho para o qual fomos eleitos, nós temos esse viés social e político de fazer um bom trabalho na Câmara, inclusive de colocar nas pessoas de novo uma esperança na política, acho que isso pode acontecer como uma consequência. Não que seja nosso objetivo desde já, mas se as pessoas quiserem, pedirem e se a conjuntura no momento for favorável, porque não encarar o desafio? Bem como também o contrário: se a conjuntura não for a mais favorável a gente se candidata a uma reeleição para vereador. Não é um apego ao cargo pessoalmente, do ponto de vista de profissão, eu não preciso, eu tenho minha própria profissão, a política não deve ser profissão de ninguém, mas se socialmente nós pudermos contribuir com outro mandato de vereador ou um de deputado estadual ou federal, a gente vai conversar com as pessoas e vamos encarar os desafios independente do que for.

PRN – Você falou que tem muitos gestores bons na educação, na saúde e que muitas vezes não conseguem realizar um bom trabalho melhor por conta dessa dependência do cargo. Tramita na Câmara o projeto que institui a gestão democrática nas escolas. O caminho passa por aí?

PA – Passa. O que me causou estranheza nesse projeto é porque ele foi encaminhado agora pela prefeitura no final do mandato. E no final de um mandato em que o comando da prefeitura vai ser transferido para a oposição. Isso é de se estranhar, o jogo político que se faz em torno disso. Isso é muito sério. A depender do nosso mandato, temos o voto favorável no sentido de implementar uma gestão democrática nas escolas, mas ressalvando a nossa crítica à postura da prefeitura, porque entendemos que não era mais momento dela propor isso. Era um debate para a próxima gestão, mas certamente votaríamos a favor do projeto.

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