Conversa da Semana com Gutemberg Dias

O professor e geógrafo Gutemberg Henrique Dias tem afirmado categoricamente que só há uma maneira de a oposição conseguir vencer a disputa pela prefeitura de Mossoró: se unindo. Nesta Conversa da Semana, ele justifica porque insiste nessa questão. Filiado ao PC do B, Gutemberg fala sobre questões relacionadas ao seu partido, ao governo do Estado, à gestão municipal de Mossoró e, especialmente sobre a possibilidade de se ter no mesmo palanque políticos como os deputados Isolda Dantas (PT) e Alysson Bezerra (Solidaridade), e os empresários Tião da Prest e Jorge do Rosário, além dele próprio. Acompanhe a entrevista na íntegra:

Por Márcio Alexandre

Portal do RN – Você tem defendido recorrentemente que somente a partir da união dos partidos de oposição é que será possível vencer a prefeita Rosalba Ciarlini, candidata natural à reeleição, no próximo ano. Por que essa sua percepção?

GUTEMBERG DIAS -Veja bem, a prefeita tem um eleitorado consolidado na cidade. É notório que ela vem perdendo espaço, principalmente, nas faixa etária que engloba um perfil mais jovem e que tem acesso às redes sociais. Mas, com o capital eleitoral que, ainda, ela tem e a força da estrutura administrativa que garante a ela uma vantagem competitiva não será fácil derrotá-la nas urnas. Dessa forma, só acredito que a oposição vença as eleições em Mossoró se ela estiver unida e com um propósito que não seja único e exclusivo de tirar a figura de Rosalba Ciarlini do Palácio da Resistência. É preciso que essa união seja consolidada num projeto de longo prazo para o município que leve em conta o cuidado com a cidade e os munícipes, a questão do desenvolvimento econômico, bem como, o planejamento do espaço urbano. Assim, acredito que será possível ganhar as eleições e saber o que fazer quando assumir a prefeitura em primeiro de janeiro de 2021.

PRN – Quais serão os grandes desafios a serem enfrentados para que essa hipotética união se concretize?

GD – Primeiro é o convencimento dos quadros que se apresentam que é preciso um projeto unificado e que a eleição que se avizinha não pode ser, por si só, um trampolim para 2022. Infelizmente no Brasil essa coisa de eleições municipais dissociadas das eleições gerais cria esse senso de sempre está na disputa para não perder o eleitorado. Segundo, que as diferenças ideológicas e, também, pessoais precisam está em segundo plano, gosto muito de citar o exemplo do Maranhão onde o governador Flávio Dino (PCdoB) reuniu numa ampla aliança forças políticas de vários cores com um propósito claro, tirar o Maranhão do atraso.

PRN – Além da esquerda, também integram a oposição, embora desarticulada, vários partidos e nomes, tais como dos deputados Isolda e Alyson. Tião da Preste e Jorge do Rosário, para ficar só nesses nomes. Você imagina um palanque com essa diversidade política toda?

GD – Imagino sim. Não vejo nenhum problema nisso. Duas coisas unem todos esses nomes, a defesa intransigente pela democracia e o desejo de contribuir para construir uma “Cidade sustentável e inteligente” focada no desenvolvimento econômico e na geração de oportunidades para o povo de Mossoró.

PRN – Embora com vários nomes ventilados, hoje o único que está posto como pré-candidato é o seu. A despeito disso, você abre mão de ser cabeça-de-chapa?

GD – O PCdoB e, consequentemente eu não seremos uma cunha para uma construção de uma “Frente Ampla”. O meu nome está posto como pré-candidato pois o partido acredita que o acúmulo que temos de duas eleições municipais, inclusive com aumento de votação entre elas, nos credencia para apresentar novamente o nome aos mossoroenses. Nessas duas eleições discutimos os problemas da cidade e soluções reais para seus problemas, dessa forma, tenho a convicção que nosso diálogo com os mossoroenses será muito tranquilo.

PRN – As próximas eleições serão as primeiras sem aliança proporcional. Formar nominatas fortes é o grande desafio para os partidos?

GD – Não resta dúvida. Nós já estamos trabalhando na nominata do PCdoB já faz algum tempo. Inclusive essa semana fizemos a primeira reunião com os pré-candidatos a vereador e considerei que foi o “marco zero” da nossa largada eleitoral. As chapas próprias forçarão os partidos a olharem para seus candidatos com outros olhos, principalmente, que ninguém quer mais servir de “esteira” para os campeões de votos. Acredito que esse ponto é o maior dificultador da formação das chapas, em especial, para os partidos que tem mandato na Câmara Municipal. Aproveito para convidar pessoas que defendam a democracia para se filiar ao PCdoB e concorrer nas próximas eleições, o partido está de portas abertas para recepcionar possíveis pré-candidatos.

PRN – Nesse sentido, o PC do B tem feito reuniões e se articulado. Qual a perspectiva do partido em termos de eleição para a Câmara de Vereadores?

GD – A nominata que estamos montando é para eleger uma bancada na CMM. Todo o esforço de antecipar as discussões políticas no âmbito do partido tem esse objetivo, ou seja, termos tempo de montar um projeto consolidado que possa efetivamente ocupar cadeiras na Câmara Municipal de Mossoró. Não se ganha eleição de véspera, principalmente, essa de 2020,  já aprendemos com outras eleições e vamos fazer de tudo para acertar. Acredito muito no nosso projeto.

De antemão uma condição para que ele possa caminhar conosco é romper com a prefeita Rosalba Ciarlini.

PRN – O PC do B incorporou o PPL. No caso de Mossoró, o PPL tem/tinha o vereador Flávio Tácito, historicamente governista. Como estão as conversas para a chegada dele ao partido? Ele terá que necessariamente ir para a bancada de oposição?

GD – O PCdoB tem uma pré-candidatura posta e está na oposição. Flávio Tácito por força da incorporação passou a compor os quadros do PCdoB. Nos próximos dias, o presidente municipal Pedro Lúcio, o coordenador do Grupo de Trabalho Eleitoral, professor Neto Vale e eu,  iremos ter uma conversa com ele sobre a permanência dele no PCdoB. De antemão uma condição para que ele possa caminhar conosco é romper com a prefeita Rosalba Ciarlini, se incorporar à oposição e passar a defender o projeto do partido quanto a nossa pré-candidatura a prefeito.

PRN – O seu partido conta com o vice-governador. O PC do B tem sido contemplado no governo, sobretudo em Mossoró?

GD – O PCdoB faz parte da aliança que elegeu a governadora Fátima Bezerra nas eleições de 2018. Hoje fazermos parte do governo com a eleição do vice-governador Antenor Roberto, estamos em duas secretarias adjuntas e em duas dúzias de espaços. Em Mossoró, mesmo o PCdoB tendo quadros capacitados para assumir espaços no governo, não conseguimos indicar um nome sequer para contribuir com o projeto da governadora na segunda maior cidade do estado.

PRN – A polarização PT e PSL contribuiu para que o ex-deputado Jair Bolsonaro chegasse ao poder e o resultado que temos é uma latente redução de direitos, já iniciada com Temer. Como agir para mudar esse cenário e até construir alternativas para 2022?

GD – O campo democrático precisa eleger prefeitos e vereadores para que em 2022 os projetos progressistas cheguem fortalecidos para disputar e ganhar as eleições. A redução dos direitos, principalmente, os sociais, atinge diretamente os mais pobres que começarão a sentir as dores nos próximos anos. Sem contar com o fragoroso ataque ao estado democrático de direito que vem impondo uma desmoralização do Brasil no mundo.

PRN – Sua avaliação sobre a administração municipal, qual é?

GD – A gestão municipal faz o trivial. A atual prefeita e seu staff político não estão acostumados a administrar estruturas públicas nas “vacas magras”, basta ver o exemplo do governo do estado. O que vejo claramente é a gestão garantindo a manutenção mínima do pagamento dos servidores, concluindo algumas obras deixadas pelas gestões anteriores e, sobremaneira, fazendo nas principais avenidas o embelezamento característico para poder tirar belas fotografias. No geral a gestão não conseguiu cumprir minimamente o que apresentou no Plano de Governo nas eleições de 2018.

Não dá para iniciar qualquer gestão em Mossoró sem que haja essa aproximação com os servidores.

PRN – A seu ver, um projeto de governo diferente do que está em vigor na prefeitura municipal deve contemplar que premissas?

GD – Primeiro que precisa chamar todos os servidores para um grande pacto em prol do município. Não dá para iniciar qualquer gestão em Mossoró sem que haja essa aproximação com os servidores. Basta dizer que as condições futuras do município não é das melhores e, como o Estado, Mossoró poderá enfrentar sérios problemas a curto e médio prazo. É preciso, também, montar um grande projeto de desenvolvimento aproveitando as potencialidades econômicas que a região e o município tem, se não houver um planejamento estratégico com foco no fortalecimento da economia e, também, modernização da máquina pública não teremos futuro promissor. Por isso uma de nossas premissas é que queremos uma “Mossoró sustentável e inteligente”, ou seja, a gestão pública precisa avançar no campo tecnológico e a sustentabilidade precisa fazer parte do mote de estruturação das políticas públicas com objetivo claro de cuidar do município e, consequentemente, das pessoas.

PRN – Como você analisa a venda dos campos maduros da Petrobras da área de Campo da Forquilha?

GD – Muito importante para a retomada da economia local. Nós temos muito petróleo a ser extraído e, infelizmente, a Petrobras fez uma opção por um grande negócio que é o Pré-Sal, deixando em segundo plano as operações em terra. A venda dos ativos em bacias maduras representa um novo recomeço para a cadeia de petróleo e gás local, mas venho alertando, é preciso que o poder público e os próprios empresários entendam que essa nova era, que é menor que a primeira, tem declínio também e que é preciso saber utilizar os resultados que ela trouxer para planejar o futuro. Com isso quero dizer de forma enfática que essa decisão da Petrobras foi acertada e que teremos bons resultados a curto e médio prazo.

PRN – Pedro Lúcio, da delegacia do SINDIPETRO em Mossoró, que inclusive é dos quadros do PC do B, tem criticado essa venda. Como vocês conciliam esse discurso dentro do partido?

GD – Pedro Lúcio, assim como eu, defende o desenvolvimento pleno das atividades de petróleo na região. O Sindipetro sabe que é preciso reaquecer a indústria petrolífera para que haja uma retomada de parte dos empregos perdidos e uma maior geração de impostos que naturalmente se transformam em benefícios sociais à população. A nossa divergência é na forma como o processo deve ocorrer, ou seja, ele acredita que o processo deveria ser mais lento com uma transição maior por parte da Petrobras e eu acredito que tem que ser rápido o processo, pois o petróleo tende a perder força nos próximos 20 anos e precisamos tirá-lo o mais rápido possível do subsolo.

PRN – Como fazer para Mossoró voltar a crescer?  

GD – Mossoró, como disse nas eleições passadas, “tem jeito” e tem tudo para ser a grande locomotiva econômica do estado. Porém, para isso, é preciso que a sociedade mossoroense entenda que é hora de mudar a forma de administrar Mossoró, deixo claro que  necessário aproveitar tudo que foi construído, sem desperdiçar um tijolo colocado pelas gestão que passaram e os colocados pela atual, por isso que digo que o discurso de reconstrução não se aplica a nossa cidade, ela está alicerçada num enorme poder econômico (petróleo, sal, fruticultura, mineração e turismo) precisando apenas que os elos da corrente sejam conectados para que futuro, realmente, seja bom para os mossoroenses e seus filhos de criação.

 

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