Crônica

BANCA DE REVISTAS DA CALÇADA DO PAX

Estatura mediana, gordo, mas não excessivamente, gestos calmos, sorriso quase imperceptível, andar cadenciado pelo comprimento menor de uma das pernas, sequela de queda de grande altura, segundo se dizia, Luiz chegava sempre no início das tardes, quando o sol cambando  para o oeste permitia ao prédio do Cine Pax a sombra que, junto com o vento nordeste, aplacava o calor, especialmente da calçada onde ele lentamente arrumava as pilhas de revistas e jornais, encimada cada uma por uma providencial pedra a evitar que o vento levasse o material. De modo que não era uma banca, mas uma “pedra”, o mais conhecido ponto de jornaleiro na cidade até final dos anos 60 ou mais, não sei. Expostos estavam os jornais locais, “O Mossoroense” e “Diário de Mossoró”; e de fora, “Tribuna do Norte” e “Diário de Natal”; “Folha de São Paulo”, “Estado de São Paulo”, “Jornal do Brasil”, “O Globo”, “Última Hora”, “Jornal dos Sports” “Diário de Pernambuco”, “Jornal do Comércio”, “O Povo” e “Correio do Ceará”. Revistas de assuntos gerais “O Cruzeiro”, “Manchete”, “Fatos e Fotos” “Seleções do Readers Digest”; revistas especializadas em esportes “Esporte Ilustrado”, depois “Placar”; as ditas “femininas”, mas lidas por todo mundo “Capricho”, “Noturno”, “Ilusão”, “Sétimo Céu”, “A Cigarra” “Jornal das Moças”, “Claudia” “Marie Claire”. E uma profusão de títulos de “revistas de quadrinhos”

O colorido e a arte das capas e até o “cheiro” de revistas e jornais novinhos, preenchiam a calçada e despertavam a curiosidade de habituais leitores. Vendia-se tudo, especialmente “revistas em quadrinhos”, em tempos em que estas não eram “cult” e eram mesmo vistas com certo preconceito. Os cowboys Roy Rogers, Tom Mix e Cia, disputavam, nas publicações da Editora Brasil América Ltda – EBAL, com os maiorais das florestas Tarzan, Jim das Selvas, Fantasma; com o voador Superman e os estranhos Batman e Homem Aranha. O brasileiríssimo “Jerônimo, Herói do Sertão”, sucesso da novela do rádio, tinha certo ar de velho oeste americano nos quadrinhos da EBAL. O sucesso dos personagens de Walt Disney, então um nome associado a esses desenhos e não a uma corporação internacional, não era maior que o dos heróis mirins brasileiros “Bolinha” e “Luluzinha” e da “Turma do Pererê” que veio depois.

Enfim, ficasse à vontade o leitor. Atualização do mundo, da política, grandes articulistas, aventuras, histórias de amor, seu esporte preferido, confusões do Donald ou turma do Bolinha, palavras cruzadas para exercício da mente. Estava tudo ali, na calçada do Pax, assim que o sol cambava para o oeste.

 

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