Funcionavam no mesmo prédio, no térreo do antigo Clube Ypiranga. Eram simplesmente Biblioteca Pública Municipal e Museu Municipal. As homenagens dos nomes vieram depois, em outros lugares. A Biblioteca no nome de seu frequentador e benemérito Ney Pontes e o museu no nome do ilustre jornalista e pesquisador mossoroense Lauro da Escóssia. A entrada, a qual se alcançava por pequena escadaria de 3 ou 4 degraus, era pela Rua Almino Afonso. Ultrapassada a porta principal, do lado direito estava o birô da funcionária ou funcionário responsável (a Professora Marocas, uma delas). No salão, modesto em tamanho, se comparado a grandes bibliotecas, as estantes guardavam de clássicos universais às obras da inestimável “Coleção Mossoroense”. Mesas e cadeiras acolhiam os leitores.
Também à direita de quem entrava, uma porta interna dava acesso ao outro salão, onde estava o museu. O museu era menor ainda. Alguns documentos, alguma arma usada na resistência aos cangaceiros de Lampião, fotos de figuras populares, amostras de pedras típicas do solo da região. Mas, de que o ambiente era pleno era da solenidade e dignidade de tudo que representa um povo, uma região e sua história.
Na biblioteca os leitores não variavam muito e o grupo não era muito grande. A diversificação ficava por conta de alunos das principais escolas da cidade, às voltas com as “pesquisas” determinadas pelos professores de certas disciplinas. Professores que, apesar de recomendarem a esses alunos para não fazerem simples cópia das obras consultadas, era justamente isso que recebiam. E já era muito. Em um universo em que a leitura não era incentivada, permanecendo apenas como diferencial de uns poucos “intelectuais” que, por isso mesmo, podiam até ostentar certa arrogância, a cópia significava que, pelo menos, tinham lido.
A biblioteca e o museu mudaram de endereço. Com o encerramento das atividades do Ypiranga o prédio iniciou um processo de deterioração. A transferência para uma instituição estudantil, que provavelmente não tinha meios para fazer a manutenção, encaminhou de vez a completa decadência.
Hoje, na escuridão das salas do térreo do prédio em estado de abandono, é possível que a alma desavisada de algum estudante esteja de pé diante de velhas estantes, a procurar pela Enciclopédia Barsa, o Dicionário Caldas Aulete, um exemplar de O Primo Basílio, Memórias Póstumas de Braz Cubas, Vidas Secas. Aqui e ali, alguns de seus antigos frequentadores habituais a pensar que o legado daquela pequena biblioteca poderia ter sido maior. E a contemplar, agora, a inutilidade da placa pedindo silêncio.