CRÔNICA

A LINGUAGEM NO FUTEBOL

Uma linguagem diferente, repleta de termos que têm ou ganham significado particular sempre foi um dos atributos do mundo do futebol. A ela o torcedor recorre para avaliar, criticar, descrever, explicar, exemplificar, justificar, prognosticar e, sobretudo, torcer. Na maioria dos casos, não adiante procurar no dicionário. Não há singularidade nisso. Certos modos de falar e o uso de determinados jargões podem até identificar regiões geográficas de origem, grupos culturais e profissionais e em todos os esportes é a coisa mais comum. Modo geral, enriquecem o idioma, embora em alguns casos se dê o contrário. No futebol predominam as gírias, especialmente na expressão falada, em programas especializados, tanto no rádio como na televisão, em que não há texto pronto e a conversa flui solta, às vezes até ensejando algum deslize que alimenta o folclore. Como qualquer forma de comunicação, essa também evolui e alguns termos e expressões são continuamente inaugurados enquanto outros são abandonados ou tomam outras formas e significados.

Amantes mais jovens do esporte certamente não estão acostumados a ouvir locutores chamarem a bola de gorduchinha, esfera, perseguida, embora pelota e redonda nunca tenham saído de moda. Menos ainda terão ouvido apalavra moldura para designar as traves onde o goleiro fica, digamos, “emoldurado”. Esse lugar específico também já foi chamado comumente de arco e, por consequência, o goleiro conhecido como arqueiro. Termos diretos do inglês (goalkeeper, center-half, back, referee) eram comuns nos anos seguintes à introdução do futebol no Brasil, quando a modalidade era sintomaticamente chamada de “esporte bretão”. A propósito, o típico “centefor” (versão abrasileirada do centerforward) que jogava com a camisa 9, hoje é raridade. Por isso, os jogadores improvisados na posição são chamados de falso 9 (não confundir com um 6 de cabeça para baixo).

Muito usada foi a palavra “pebolismo”, significando jogo de futebol, jogo de bola feito com os pés. Bem que o termo poderia ser reabilitado com novo significado considerando a quantidade de jogo “peba” (gíria para coisa ruim, medíocre) que se vê nos ambientes outrora seletos dos maiores estádios do mundo. Curiosa é a atual expressão “valorizar a posse de bola” para designar o que já foi chamado de “fazer cera”, ou seja, tocar a bola para lado ou para trás, quando se está ganhando, enrolação para fazer o tempo passar e o jogo não acontecer. Tal expressão até poderia ter sido usada no passado. Naquele tempo ela serviria perfeitamente para definir a atitude do garoto “perna de pau” que levava a própria bola para o campo como garantia de que seria escalado na “pelada”, pois, do contrário, ia embora com a pelota e não tinha jogo. Aquilo era, sim, literalmente, valorizar a posse de bola.

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