CRÔNICA

A CARTA

Mensagens impressas em materiais os mais diversos remontam à invenção da própria escrita em suas mais remotas formas. Entre reis, chefes de estado, notícias, comunicações de paz e de guerra, levadas por mensageiros que percorriam dezenas ou centenas de quilômetros a pé, a cavalo ou cruzando mares em suas embarcações. Com o aparecimento do papel surgiram, também, várias substâncias para nele escrever os símbolos correspondentes aos fonemas dos respectivos idiomas, a bico de pena e, posteriormente, com os tantos instrumentos desenvolvidos com essa finalidade, consolidando as infinitas possibilidades da linguagem escrita testemunhadas pela história. Entre essas formas de uso estão as cartas.

As cartas foram adotadas por Estados, empresas, corporações e instituições as mais diversas e, particularmente, por pessoas, no âmbito familiar e nos círculos de amizades e interesses. Ainda hoje elas são utilizadas nas transações comerciais lembrando de algum modo o estilo tradicional. Esse uso, por outro lado, é cada vez mais distante na realidade das relações pessoais, justamente onde as cartas tiveram seu significado mais simbólico.

A simples audição do grito “Carteiro!” à porta de casa e a visão do envelope de fundo azul claro, bordas com retângulos de extremidades diagonais, verdes e amarelos, além dos selos e do retângulo de azul mais intenso na parte inferior esquerda contendo as expressões “via aérea” e “par avion”, já mexiam com os nervos. Enviar, receber e ler cartas eram atos revestidos de muita emoção, felizes ou não. Alguns as faziam extensas, várias laudas a desfiar detalhes para deleite de quem escrevia ou lia, embora, no caso do destinatário ou destinatária, o efeito pudesse ser de enfado ou impaciência, por mera falta de empatia com a pessoa remetente ou pela natureza desagradável da mensagem. Dificilmente alguém era extremamente conciso em uma carta. O limite era, geralmente, o preço da postagem, função direta do peso do conteúdo do envelope, expresso na indiferença da balança dos Correios. O nome do(a) remetente completava o aguçamento de expectativas.

Cartas são elementos quase onipresentes na literatura (romances, ficção, poesia, história, documentários) e artes, sobretudo no cancioneiro popular em diferentes culturas ao redor do mundo.

Ler uma carta e escrever outra era, em alguns casos, a modesta aspiração de uma família pobre do Nordeste Brasileiro, em relação à escolaridade dos filhos. Nesse caso, infelizmente, a mensagem traduzia conformismo e falta de perspectiva, mas esse é um outro assunto.

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