Entre os personagens que gravitavam em torno do Mercado Central de Mossoró de antigamente, havia um tipo de vendedor que alternava seus negócios entre os cordéis, aquelas histórias em versos, impressas em folhetos, e os “remédios” feitos de raízes ou folhas de plantas, panaceias que tratavam desde verminoses muito comuns na época a problemas reumáticos, ortopédicos, além de dar ao freguês novo vigor para as tarefas do dia a dia. Agiam também como poderosos expectorantes e, como tal, eram solução para doenças respiratórias diversas. Na verdade, essas pessoas exploravam com evidente exagero propriedades medicinais de algumas plantas, conhecidas da experiência popular, tradição entre populações que as tinham como únicos recursos no caso de doenças.
Essas figuras chamadas de “propagandistas”, eram conhecidas por técnicas usadas para prender a atenção da gente simples que por ali passava por razões diversas. A principal era anunciar a sensacional batalha entre uma cobra e um camaleão aguçando a curiosidade das pessoas que sempre ouviam falar sobre essas monumentais contendas que ocorriam na natureza e tinham a expectativa de ver a cobra, sempre associada à ideia de perigo e perversidade, derrotada pelo lagarto, que assumia sem muita convicção o papel do herói.
Os animais até estavam ali, devidamente contidos para a segurança das pessoas aglomeradas em torno da estrutura montada. Outra prática desse personagem era trazer um frasco de vidro com álcool e, dentro, alguns exemplares de Áscaris lumbricoides, verme de corpo alongado, apresentados como resultado da eliminação provocada pelo “remédio” oferecido. O artefato, evidentemente, causava certo asco nas pessoas, mas se a curiosidade era maior, elas ali permaneciam e até “admiravam” os parasitas dentro dos frascos, a espera da refrega que já desconfiavam que não haveria, pois sabiam que o objetivo do propagandista era “enrolar” e vender seu produto.
A atividade era sempre de manhã. O sujeito chegava cedo. Em um ponto da “pedra”, montava o equipamento de som. Sobre uma base tosca, uma amplificadora, conhecida como “boca de ferro”. Os frascos de remédios eram dispostos sobre caixote de madeira, no centro. Próximo, ficavam as “atrações animais”. Pronto o cenário, microfone pendurado por alça ao pescoço, dava início à função. Aí, vinha a outra característica desse artista: a capacidade de falar sem parar, prendendo em quase hipnose a atenção dos ouvintes. Não raro colocava a cobra sobre os ombros. E era assim que, no Nordeste, naquela época, de qualquer pessoa mais prolixa se dizia imediatamente que “falava mais que o homem da cobra”.