Crônica

COSTUREIRAS

.Costureiras e alfaiates faziam a roupa da gente. Na atual indústria de confecções em série as pessoas envolvidas no trabalho também olham com carinho um modelo, imaginando-o usado por alguém, até por ele próprio ou ela própria. Mas, esse trabalho, de linha de produção, separado por etapas, tem sentido diferente daquele de olhar algo feito inteiramente por si ou de forma interativa onde todos discutem todas as partes e o produto é o resultado da ação das mãos, mas, também, de uma troca de emoções que se completam com a daquela pessoa conhecida, a pessoa que vestirá aquela peça.

As costureiras podiam ser pessoas da família: mães, avós, tias ou parentas em outro grau. Mas, eram também vizinhas. Pessoas com atuais mais de 40 anos, todas conheceram uma costureira, da família ou não, no bairro em que reside ou residiu ou no bairro vizinho. Aquela a quem a família sempre recorria na hora de renovar o vestuário, nos fins de ano, nas ocasiões de festas especiais e até na hora de voltar às aulas e precisar de uma farda nova ou da adequação daquela já usada. Aperta aqui, folga ali, usando aqueles “três dedos de sobra” de tecido deixados na costura original justamente para essas ocasiões, e, pronto, tínhamos a roupa que nos vestia, com dignidade e amor.

O local de trabalho das costureiras, se em oficinas especialmente montadas para aparentar certo status chamava-se ateliê. Mas a maioria trabalhava em sua própria residência o que mais as aproximava daquela pessoa que buscava seu trabalho, não um cliente, consumidor, mas uma pessoa conhecida buscando os préstimos profissionais de outra pessoa conhecida.

Independentemente do trabalho profissional, em considerável parte das casas de Mossoró havia uma máquina de costura. Era um dos primeiros bens em que se pensava quando a família tinha a condição econômica para isso. Em geral, donas de casa, mães de família, ou alguma pessoa da família cultivava a habilidade para realizar pequenos consertos, ou mesmo para costurar algumas peças simples, como uma camisa, uma calça, um calção, para as pessoas da casa. A máquina Singer, Virorelli, Phillips, quando não em uso fazia parte da decoração, do mobiliário da sala, servindo então de bancada para aquele jarro de flores, com um delicado forro de tecido bordado, para a imagem de santos devocionais e até para o rádio.

Lemos recentemente que o trabalho dos alfaiates volta a ser valorizado. Quem sabe tenhamos o mesmo olhar para o trabalho das costureiras. Ganharíamos uma roupa nova sob medidas. Mas, ganharíamos também de volta a oportunidade de sentir, ao vestir-se, uma forma de carinho.

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