ARTIGO

MARIA LÚCIA ESCÓSSIA: A GUARDIÃ DA CULTURA

MARIA GORETTI MEDEIROS FILGUEIRA

TANIAMÁ VIEIRA DA SILVA BARRETO


A vida humana é sagrada e todas as pessoas são criaturas de Deus, e são os seres mais dignos e nobres que habitam a Terra. Assim é a vida da escritora, pesquisadora, museóloga, atriz, cantora e dançarina Maria Lúcia Escóssia de Castro, nascida em Mossoró, na madrugada do dia 26 de novembro de 1928.

Como escritora, Maria Lúcia, desde a tenra idade, conviveu com grandes personalidades das letras provincianas, dentre as quais lembrou a entrevistada: Vingt-un Rosado, Raimundo Soares de Brito, Dorian Jorge Freire, e outros, fato que a fez amar as letras, e a possibilitou integrar o Memorial dos Mossoroenses, significando uma grande honraria.

Uma mulher de bons princípios, de personalidade sólida, com bastante visão futurista, formou-se como professora pela Escola Normal de Mossoró, em Técnico em Contabilidade pela Escola Técnica de Comércio União Caixeiral e História, pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN.

A diversidade da sua formação a levou desenvolver várias ocupações profissionais como: comerciária na Empresa Comercial e Navegação Ltda.,  e na Comensa – Companhia de Melhoramentos de Mossoró S.A., atriz amadora, professora no Ginásio Municipal Joaquim da Silveira Borges e como diretora do Museu Histórico Lauro da Escóssia, contribuindo significativamente no auxilio aos estudantes e pesquisadores na elaboração dos trabalhos de pesquisa e extensão, prestando informações sobre a história da cidade e de seus vultos.

Em entrevista a Goretti Filgueira, uma das autoras deste texto, Maria Lúcia afirmou o seu sentimento de grande honra ao ser convidada, em 2001, por Gustavo Rosado para interpretar Santa Luzia, na encenação do Oratório de Santa Luzia, dirigido por João Marcelino, teatrólogo de Natal.

Aliás, afirmou a entrevistada: um importante viés ressaltado dentro deste contexto é que, “quando ainda criança, já brincava de drama com cortinas feitas de lençóis amarados entre si, comportamento este muito importante para o mundo do teatro. Na década de 50, Dona Ildérica Cantídio (minha madrinha), relembrando Eliseu Viana, professor e teatrólogo, resolveu criar uma peça de teatro como aquela encenada pelo grande educador e mestre no Cine Teatro Almeida Castro, na década de 1920. Baseada nos estudos e experiências do mestre Eliseu Viana, dona Ildérica escreveu a peça “Mossoró menina, Mossoró mulher”, que foi encenada no Cine Teatro Pax, da qual participei orgulhosamente.”

Várias são as formas de expressar o amor no que concerne ao teatro, é importante destacar que tudo era trabalhado cuidadosamente; o cenário da peça “Mossoró emenina, Mossoró mulher” era constituído com imagens da cidade daquela época e mostrava as praças, os prédios das firmas, das indústrias e até das caixas d’água, que na época simbolizava grande empreendimento.

Continuando o seu relato, Maria Lúcia destacou que o ano de 1959 foi para Mossoró bastante relevante, por registrar o estudo da língua inglesa, o que despertou o orgulho dos mossoroenses, uma vez que foi presenteada com o surgimento da Sociedade Cultural Brasil-Estados Unidos (SCBEU) da qual Lauro Monte Rocha Filho (Laurinho) e eu desempenhávamos funções de sócios e estudantes; o grupo de Teatro Amadores de Mossoró (TEAM) foi criado neste ano, o que de forma significativa despertou em mim cada vez mais o interesse pelo teatro.

Neste contexto, Maria Lúcia vivenciou  nos palcos teatrais, participando de inúmeros festivais de teatro no Rio de Janeiro, João Pessoa e Natal. Dentre as peças cito algumas e seus respectivos autores: “Esquina Perigosa”, de J. B. Priestley; “O Beijo no asfalto”, de Nelson Rodrigues; “A perda irreparável”, de Wanda Tabian; “Toda donzela tem um pai que é uma fera”, de Gláucio Gil; “Édipo Rei”, de Sófocles; “O pagador de promessas”, de Dias Gomes; “O canto da Cotovia”, de Anovich; e “O simpático Jeremias”, de Gastão Tojeiro.

Em 1968 foi agraciada com o título de melhor atriz coadjuvante no Festival de Teatro da Paraíba, uma promoção da secretaria de estado, interpretando a personagem da prostituta Marly, em “O pagador de promessas”.

Em 1972 participou do longa-metragem nacional sobre “Jesuíno Brilhante, o cangaceiro romântico,” cujo diretor foi William Colbert.

Aliás, afirmou a entrevistada: “apesar do tempo, das inovações e das mudanças que a idade pode trazer, gosto da vida. Tenho família que me preza e amigos que são verdadeiros irmãos. Sempre gostei do que fiz e gosto do que faço. O tempo não destruiu a minha vontade de trabalhar, viver, amar, servir e ser feliz, dentro das minhas condições. Quem me conhece sabe a minha vida e pode comprovar que nada frustrou os meus sentimentos. Deus tem sido generoso comigo, especialmente na superação de dificuldades que, em alguns momentos, a vida proporciona. O sentimento que tenho é de dever cumprido e continuar enquanto as formas e os limites permitirem. É isto o que penso, como única forma de ser exemplo para as gerações que estão chegando e que virão depois de mim. A grandeza das pessoas se mede pelo exemplo que deram em vida, e é assim que registro o que fiz para dizer de tudo o que penso! ”

“Honra-me, hoje, ser membro da Academia Feminina de Letras e Artes Mossoroense (AFLAM), ocupando a cadeira n.º 16 e ter como patrona Maria Escossilda da Escóssia (minha tia), escritora e poeta, falecida em 31 de dezembro de 1935. Cumpri as exigências estatutárias entre as quais, o Elogio à Patrona, tornando, eu e a patrona, imortais.”

Do que está posto evidencia-se que Maria Lúcia tem atravessado quatro gerações, com leveza e sempre respeitando as diferenças, advindas com a evolução dos tempos!

Sobre Maria Lúcia, Taniamá assim poetiza:

Que mulher!

Que dedicação!

Que fé!

Que atuação!

Assim é Maria Lúcia,

Dotada de argúcia,

Na arte de representar

E fazer a história preservar.

No palco da vida

Escóssia, de tudo fez:

Teatro, poesia e dança

Pesquisa e educação

É a marca da perseverança

Critério e altivez

Sozinha ou em mutirão

Com muita determinação

É da cultura Guardiã.


A Pesquisadora, Palestrante, Professora e Historiadora Goretti Filgueira é acadêmica da AFLAM ocupando a cadeira 04, atuando por 27 anos na rede pública de ensino em Mossoró, estando hoje aposentada. É Mestre em Ciências da Educação e doutoranda em História, Filosofia e Patrimônio da Ciência e da Tecnologia (FCT/UNL), Portugal.

Taniamá Barreto é escritora, poetisa, artista plástica, pesquisadora, palestrante e professora aposentada da UERN. É sócia fundadora da Academia Feminina de Letras e Artes de Mossoró (AFLAM), ocupante da Cadeira 12, além de integrar outras instituições  literárias.
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