POETIZAÇÃO AUTORREFLEXIVA
Por: TANIAMÁ BARRETO
Não sei se o que me apetece é a poesia, a pesquisa ou a prosa. Só sei da grande motivação de iniciar este texto com a minha poética. Vejamos:
Estou na poesia e com a poesia como o nosso ser está para a sobrevivência.
Nascida em um ambiente rurícola, educacional e de pardos lutando pela sua sobrevivência aprendi desde cedo que a vida, principalmente de nós mulheres, é de uma constante luta pelo seu espaço na sociedade.
Minha bisavó Antonia Tabita (coconha), com a profissão de vigia no grupo escolar Almino Afonso cultivou o feminismo em plenos anos do século XIX.
Minha vó materna Chiquinha Tabita, professora, catequista e inovadora de práticas pedagógicas diversificadas deu exemplo de feminismo na essência da sua vida cotidiana, colocando-se em posição de igualdade frente às demais pessoas.
Assim também tive o exemplo da minha mãe professora Maria Alexandrina, um exemplo de mulher parda guerreira e evangelizadora da vida, a qual foi o meu grande exemplo de extrair do torrão da terra a inspiração de vida de professora, escritora, pesquisadora e poetisa.
No meu primeiro livro de poesias CONTEMPLANDO OS CÉUS, publicado em 1982, contém um punhado de mensagens, ora de exaltação, ora de lamentos à vida, ao campo e ao firmamento (A DEUS).
ASSIM EXALTEI:
Como é belo este espaço iluminado!
Quão bonito este bosque e a serrania!
Como inspira o cantar da cotovia,
Ecoando no vale ensombreado!
Como encanta este aroma delicado
Que da mata sisuda se irradia!
Como agrada o silêncio! Que harmonia,
Neste céu, de fagulhas pontilhado!
Há em tudo esplendor, e uma prece muda,
Vem do abismo da terra e se transmuda,
No mais sacro e sublime dos tedeuns!
É um poema de amor este universo!
E como está escrito em cada estrela um verso
Eu vivo sempre Contemplando os Céus!
Já no segundo livro de poesia da CONTEMPLAÇÃO À DEVASTAÇÃO, publicado em 2011, no poema Devastando os Céus eu digo:
Muito contemplei!
Pouco critiquei.
Fui aqui e ali endeusando os fatos
Exaltando a vida
Mesmo sofrendo
Mesmo chorando
Mesmo doendo
Fui exaltando
Fui elogiando
Endeusando!
Hoje, quando não mais posso
Os meus céus contemplar,
Sigo o meu caminho
Tentando;
Buscando,
Os meus céus devastar.
Na coletânea TANTOCANTO, EM 2018, faço uma homenagem a minha terra Martins, com o poema Entre Retinas e Dedos.
Em 2020, marco minhas elucubrações poéticas, mergulhando nas marcas das feridas que as experiências nos fazem, transformando-as em lições de vida produtiva e, por que não dizer vida missionária, banhando-me nas águas da sabedoria.
Sigo catando aqui e ali migalhas de práticas de saberes, para reavivar minhas lembranças e dar testemunho quão inspiradora é a paisagem.
Um regalo para os olhos em esperança
De tocar e se deitar naquela folhagem.
Para o Mirante da Chapada vaguei!
Caminhei! Mirei! Peguei! Acordei!
Mas, aprendi quão maravilhosa é a inspiração da vida.
No soneto MEDITAÇÃO, no meu livro contemplando os céus, escrito em 1971 e publicado em 1982, o leitor pode apreender a similaridade da dor doída do estresse do trabalho, mas que encontra no aconchego dos braços de Jesus a felicidade em poder gozar a calmaria do final do dia. É a Natureza em suas múltiplas singularidades.
Deixa JESUS que incline minha cabeça
ao lado seu e fique assim te olhando;
dá que teu amor de mim se compadeça;
dá que minha fé em ti vá se avivando!
Deixa JESUS que o corpo meu nefando,
Aconchegar-se ao teu puro mereça;
dá que minh’alma assim te contemplando,
outro deus fora a ti não reconheça!
Deixa JESUS que encoste em teu regaço,
minha cabeça, como agora o faço,
nesta doce e feliz meditação.
Deixa JESUS, ao fim destes cansaços
que eu repousar possa, nos teus braços,
para sempre gozando esta visão!
Em um pretenso marco transitório entre o material e o imaterial sigo meu caminho poético autorreflexivo sobre as palavras e as coisas que chamam a minha atenção.