Laboratório da UFRN desenvolve novo teste rápido para diagnóstico da sífilis
Trabalho brasileiro tem pedido de patente internacional e terá dossiê elaborado por pesquisadores para solicitação de registro na Anvisa.
Um novo teste rápido, mais eficaz e com menor custo para o diagnóstico da sífilis, foi desenvolvido pelo Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúda (Lais) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) em parceria com instituições internacionais, segundo informou a universidade.
O trabalho brasileiro já tem pedido de patente e foi validado por meio de um artigo científico publicado recentemente. Segundo a instituição, o teste foi criado dentro das ações do Projeto “Sífilis Não”, implementado em 2017 para desenvolver ações que visem transformar o cenário mundial no combate à doença.
Mais de 12 milhões de pessoas são infectadas anualmente com sífilis em todo o mundo, segundo dados da Organização Mundial de Saúde.
Segundo o Lais, a nova ferramenta visa facilitar a utilização na rede básica de saúde e é totalmente integrada com o ecossistema tecnológico do Ministério da Saúde. O trabalho foi desenvolvido em parceria com a Universidade Johns Hopkins, Baltimore, nos Estados Unidos, e a Universidade de Coimbra, em Portugal.
Com a coleta de uma gota de sangue do paciente, o teste busca antígenos e anticorpos da sífilis. O diferencial em relação aos exames atuais, segundo a instituição, é que o teste não necessita de infraestrutura laboratorial, nem de profissionais especializados para a realização.
Segundo o Lais/UFRN, o novo teste para diagnóstico da sífilis também poderá ser utilizado para detecção de outras infecções sexualmente transmissíveis (IST), como o HIV. Outro aspecto importante diz respeito ao custo-benefício em relação aos métodos tradicionais, facilitando a sua utilização na atenção básica.
De acordo com o professor Lúcio Gama, pesquisador da Universidade Johns Hopkins, os testes diagnósticos atuais para sífilis dependem de reagentes e máquinas que são caros e devem permanecer em um laboratório.
“A vantagem desse novo método é a portabilidade e a possibilidade de ser usado para o diagnóstico de outras enfermidades”, afirmou, ressaltando que o método utilizado na elaboração do teste tem a capacidade de revolucionar os testes de detecção tanto de patógenos como anticorpos para várias doenças.
O trabalho de pesquisa foi validado recentemente por meio da publicação do artigo científico “Desenvolvimento de um método baseado em voltametria cíclica para a detecção de antígenos e anticorpos como uma nova estratégia para o diagnóstico de sífilis”, no International Journal of Environmental Research and Public Health, periódico internacional voltado a pesquisas na área de saúde.
Recrutamento para testagem
Na fase atual, os pesquisadores estão ampliando o recrutamento de novos pacientes para a testagem, com o novo modelo de teste.
“Os próximos passos são ajustes para avaliar a sensibilidade especificidade do teste e a elaboração do dossiê solicitando o registro desse novo dispositivo junto a Anvisa”, explicou o pesquisador do Lais, Leonardo Lima. Além do registro na Anvisa, o teste também conta com o pedido de depósito de patente internacional.
Na opinião da coordenadora-geral de Vigilância das Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde, Angélica Espinosa, os resultados do artigo trazem boas perspectivas para o controle da sífilis e da sífilis congênita.
“O desenvolvimento de novas tecnologias para um diagnóstico acurado dos casos de sífilis é uma ferramenta importante para o controle da infecção porque possibilita o diagnóstico mais precoce e um manejo adequado dos casos. Ter um teste rápido de fácil realização e de baixo custo será um grande avanço para a política pública que trata da eliminação da transmissão vertical da sífilis em nosso país”, argumentou.
Para o diretor executivo do Lais, professor Ricardo Valentim, o novo teste para sífilis é um avanço nas políticas públicas para o Brasil. Segundo ele, essa nova metodologia de testagem é um marco na qualificação do diagnóstico da infecção sexualmente transmissível, uma vez que os métodos de triagem para sífilis ainda são insuficientes.
“A falta de testes gera vários problemas para o rastreamento, para o cuidado, para a eliminação da transmissão vertical da sífilis, quando a mãe transmite a IST para o bebê durante a gestação ou na hora do parto”, explicou.
Outra contribuição significativa, assinalada por Valentim, é a qualificação do diagnóstico, trazendo um resultado mais apurado. “Ao ser incorporado ao SUS, esse teste será disponibilizado prioritariamente na atenção primária à saúde, facilitando a integração da e da atenção primária com a vigilância em saúde, fator preponderante para eliminar a sífilis congênita no Brasil”, considera.
Valentim ainda ressaltou outra contribuição importante relacionada à gestão dos casos. O novo teste permite uma interoperabilidade com o sistema de informação de saúde, existente no Ministério da Saúde e com a própria plataforma Salus* também desenvolvida pelo Lais. Dessa forma, o Ministério da Saúde, as secretarias estaduais e municipais de saúde poderão ter os resultados desses testes em tempo real.
“Os dados estarão vinculados aos prontuários dos pacientes. Isso irá melhorar todo acompanhamento e a gestão dos casos dos pacientes. O teste permite aplicar o conceito de acompanhamento de segmento, ou seja, olhar para todo o tratamento, com a proposta de monitorar o tratamento, bem como a evolução do quadro clínico dos pacientes com relação à sífilis – isso representa um avanço enorme para o Brasil”, pondera.
g1 RN