Entrevista

Conversa da Semana com Major Lima

Os índices de violência no Rio Grande são muio elevados. A boa notícia é que os dados estão regredindo. Para o major Lima, comandante do Décimo Segundo Batalhão de Polícia Miliar (12°BPM), isso se deve ao trabalho conjunto feito pelas forças de segurança pública do Estado. Esse é um dos temas abordados pelo major nessa Conversa da Semana. Nela ele fala também sobre como conseguiu diminuir as ocorrências de homicídios e arrastões na área sob responsabilidade do 12°BPM. . Major Lima revela ainda qual o maior problema da Polícia Militar (PM) e pede a ajuda da população para que passe, de forma anônima, informações que contribuam para prender criminosos e evitar ocorrências.

Por Márcio Alexandre

A gente conseguiu reduzir até o momento em praticamente 90% a ocorrência de arrastões na área do 12°BPM.

Portal do RN – Gostaríamos de iniciar essa conversa pedindo para que o senhor nos dissesse como está a estrutura do Décimo Segundo Batalhão de Polícia Militar (12°BPM. ) em termos de estrutura?

MAJOR LIMA – Nós estamos à frente do 12°BPM há três meses e a gente veio com intuito principal de diminuir os índices de violência nessa mancha preta da área do batalhão, principalmente no que se refere a arrastões em residências. Então a gente colocou em prática o nosso planejamento, dando continuidade também às ações que vinham sendo desenvolvidas pelo comandante anterior, que era o coronel Humberto, que desempenhou um excelente trabalho, mas fizemos algumas modificações e graças a Deus a gente vem obtendo bons resultados, tendo em vista que a gente conseguiu reduzir até o momento em praticamente 90% a ocorrência de arrastões na área do XII BPM. Nós estamos na iminência de receber mais 3 viaturas, caminhonete Tryton Mitsubish, 4 x 4, e acreditamos que as receberemos em no máximo 10 dias. Estão em fase de procedimento administrativo, emplacamento, revisão, etc. Isso vem a somar com nosso policiamento ordinário e extraordinário. No início da Operação Verão, em dezembro, nós recebemos uma viatura 0 KM, 4 x 4 também, uma S-10, especificamente para utilizarmos na Operação Verão. Não foi desperdício, pois nós conseguimos atingir uma meta de 0% em ocorrências na área da Costa Branca, inclusive, verificamos que esse veraneio foi um dos mais tranquilos dos últimos 8 anos, em termos de ocorrência. Era tradicional também no período de veraneio Tibau verificar ocorrência de arrastões a residências na madrugada. Então a gente colocou policiamento específico para esse tipo de ocorrência. Nós aqui temos uma ROCAM, que é esse policiamento motorizado. Então com as diárias operacionais que o Governo do Estado disponibilizou, através da governadora Fátima Bezerra, nós colocamos uma ROCAM extra em Tibau, que ficou todas as madrugadas patrulhando as ruas daquela cidade e também na orla marítima. Com isso conseguimos zerar a ocorrências em Tibau, principalmente de arrastões.

Na verdade, de modo geral, a polícia passa por essa situação de déficit muito grande de policiais militares

PRN – E em termos de estrutura, humana e material, como está a situação do 12°BPM?

ML – Na verdade, de modo geral, a polícia passa por essa situação de déficit muito grande de policiais militares. Nós estamos com 150 policiais. Nós somos responsáveis pela metade da área de Mossoró, popularmente falando, da ponte do Alto de São Manoel até o Alto de São Manoel. Além dessa metade da cidade de Mossoró, nós também somos responsáveis por Caraúbas, Upanema, Serra do Mel, e toda a Costa Branca, que compreende os municípios de Tibau, Grossos, Areia Branca e Porto do Mangue, incluindo as praias dessas cidades. Realmente, o número de policiais deixa a desejar, mas não é somente no XII BPM, é um problema da Polícia Militar como um todo. Estamos com um déficit muito grande, mas está vindo algo aí para diminuir essa deficiência, que é esse reforço que está vindo de Natal, com mil alunos que estão no curso de formação, e que virão reforçar a segurança das cidades do Rio Grande do Norte. Nós, especificamente do II BPM, fizemos o pedido ao comando geral da PM de pelo menos 150 policiais, para que aqui a gente possa distribuir de acordo com as nossas necessidades. Fizemos esse pedido, agora a gente também entende que o comando geral tem diversos outros pedidos, e a gente não sabe se vai conseguir receber esses 150 policiais. Fizemos o pedido e mostramos por A + B que Mossoró, segunda maior cidade do Estado, precisa desse reforço policial. Vamos aguardar concluir essa formação para vermos quantos iremos receber.

PRN – Major, estamos em pleno carnaval, período que demanda muita atenção das forças de segurança. Como foi pensado o planejamento para essa época?

ML – Já fizemos o nosso plano de operação (a entrevista foi gravada na segunda-feira, 17/2). Sexta-feira passada (14/2) fomos à cidade de Assu, onde nos reunimos com o mando do CPI (Comando de Policiamento do Interior), coronel Castelo Branco, e os oficiais do CPI, onde cada um apresentou suas sugestões para o plano de operações. Nós mostramos o nosso, dizendo o que temos em mão para realizar, mostramos os eventos que nós temos nas cidades, onde a gente destacou como principais pontos, Tibau e Areia Branca, onde tocarão grandes bandas de renome nacional. Tibau termina na terça-feira o carnaval, e Areia Branca termina na quarta-feira de Cinzas com o tradicional mela-mela na praia de Ponta do Mel. Pedimos reforço policial de 200 homens, e esperamos receber pelo menos a metade desses policiais para reforçar o policiamento aqui da cidade e também da Costa Branca.

Então, a gente atribui, de certa forma, essa violência na cidade de Mossoró, principalmente os homicídios, à vinda do presídio federal.

PRN – Em termos gerais, quais os principais desencadeadores da violência em Mossoró e região?

ML – Quando se fala na questão da violência, muito coisa é subjetiva. Eu particularmente, não enquanto  polícia militar, mas a pessoa do major Lima, acredito – e algumas pessoas podem até achar que não há nenhum vínculo – que essa vinda do presídio federal para a cidade de Mossoró trouxe sim uma grande capacidade de aumentar o índice de violência na cidade, como o tráfico de drogas,  por exemplo. A gente sabe que quando se transfere um apenado desses, tem toda uma logística acompanhando. Então, a gente atribui, de certa forma, essa violência na cidade de Mossoró, principalmente os homicídios, à vinda do presídio federal.

PRN – As forças policiais atribuem aos casos de solução mais difícil como tendo sido causados por conflitos entre facções. Não é uma análise muito simplista?

ML – Veja bem, a gente costuma dizer que essa questão dos homicídios que estão acontecendo em Mossoró, 98% estão ligados a brigas entre facções, e também relacionados a tráfico de drogas. E costumo ainda dizer, opinião minha e não da polícia, que esses homicídios de gente envolvida com crimes, que estão acontecendo na região de Mossoró, essa conta não é da Polícia Militar. Lógico que a gente está nas ruas, são vidas a menos, a gente sente muito por isso, mas ninguém pode atribuir essa responsabilidade à Polícia Militar. Essas são palavras minhas, e não da Polícia Militar.

E nesse momento a gente constata que a força-tarefa da segurança pública do Estado vem logrando êxito.

PRN – Houve uma redução nos índices de violência no Brasil e o Rio Grande do Norte acompanhou essa tendência. A que pode ser atribuído esse bom indicador?

ML – Acredito que ao planejamento. Hoje a gente tem um comando geral muito afinado com o secretário de Segurança Pública, que por sua vez está muito afinado com o Governo do Estado, e também com todos os órgãos de segurança. Então o Estado formou uma força-tarefa, onde estão envolvidas todas as forças de segurança, Polícia Civil, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, os agentes penais, Guardas Municipais, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, então essa estrutura toda, trabalhando de forma unificada, a gente percebe que a gente conseguiu o êxito principal, que é a redução dos crimes na cidade de Mossoró e, por consequência, em todo o Estado. Como você falou, foram 3 Estados que se destacaram em termos de diminuição de crimes de homicídios aqui no Brasil e o Rio Grande do Norte está entre eles. Isso muito nos orgulha de fazer parte da segurança pública. E nesse momento a gente constata que a força-tarefa da segurança pública do Estado vem logrando êxito.

PRN – O trabalho da Polícia Militar tem um caráter repressivo, de contenção. Qual a ação da polícia, na questão da prevenção, a exemplo do PROERD?

ML – Além do PROERD, nós temos, concomitantemente, em parceria com a Polícia Rodoviária Estadual (CPRE), nós temos o Projeto de Educação de Trânsito nas Escolas (PROJETE), que é um projeto que eu trouxe para a cidade de Mossoró, há mais ou menos 3 anos. Como todos sabem eu trabalhei 5 anos no CPRE de Mossoró, saí de lá há três mneses e deixei essa semente lá. Até o momento, nós já formamos mais de 2 mil alunos. O oficial que está à frente lá agora com certeza está dando continuidade, e está caminhando paralelamente ao PROERD.

PRN – Como a população tem colaborado com o trabalho da polícia?

ML – A gente tem conseguido evitar alguns crimes tanto de tráfico de drogas quanto de homicídios, e de assaltos, graças a algumas ligações que nós recebemos, de forma anônima. A gente agradece a quem está fazendo essas ligações e reforçamos a garantia de que a identidade jamais será revelada. Não nos interessa quem está ligando. O que nos interessa é chegar ao local antes que o fato ocorra. Essas ligações vem nos ajudando a colocar alguns criminosos atrás das grades e a evitar algumas ocorrências.

PRN – De maneira geral, quais os grandes desafios da segurança pública em Mossoró e no Rio Grande do Norte?

ML – A polícia nunca está satisfeita em termos de logística, de material humano. A dificuldade que temos ainda é de efetivo. Mesmo com esses mil homens que estão para chegar, a gente ainda vai enfrentar dificuldades, tendo em vista que a previsão é de que até o final do ano a gente vá perder 600 policiais que vão para a reserva, por motivo de saúde ou por tempo de serviço. Então esses mil homens vão amenizar o déficit, vão, mas mesmo assim ainda vai ser o nosso calo a questão do efetivo da Polícia Militar no Rio Grande do Norte.

PRN – Seu comentário final.

ML – Aqui fica o nosso agradecimento e dizer à sociedade que a gente está com um fator muito positivo no nosso batalhão, já que os índices de violência em nossa área diminuíram, tanto de homicídios quanto de arrastões, e a gente veio principalmente para combater essas ocorrências. A gente agradece à população por nos repassar algumas informações, ajudando de forma positiva, e diminuindo esses índices. Dizer que estamos à disposição. Nós temos um telefone de contato, que é o 99702-5474, que é contato de whastapp também, através do qual o cidadão pode passar informações, tendo sua identidade preservada. A pessoa de bem tem que ajudar à Polícia Militar, pois se ele está ajudando algum criminoso, evitando que ele vá para detrás das grande, ele tem que se conscientizar que esse criminoso poderá amanhã ou depois estar tirando a vida dele ou de algum parente.

 

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