Vida longa ao SUS!!!!
DULCE CAVALCANTE
Ouço rumores a boca pequena, da necessidade de privatizar o nosso SUS. Corre-me um arrepio na espinha, uma revolta se mistura a um rasgo de gratidão que me enleva e assoma o peito. Pensando como questão pessoal, busco torcer muito e defender esse órgão, tão eficiente do Governo Federal, e, julgo enfática a minha defesa positiva quanto ao meu ponto de vista e de partida para iniciar esse depoimento.
Em dezembro de 2016 eu tive um quadro de infecção sério e necessário o internamento urgente em um Hospital da cidade. Foi detectado que eu só tinha um rim e, este, estava seriamente comprometido. O médico que me assistia naquele momento recomendou a urgência de uma hemodiálise. Ficamos todos muito apreensivos, minha família saiu a campo atrás deste procedimento. O meu plano cobria os custos se tivesse uma Clínica que fizesse o tratamento tão vital em crucial em situação. O Hospital do Rim surgiu como única opção. Hospital totalmente gratuito pertencente a rede Nacional de Saúde do SUS. Quando adentrei aquele recinto às 6 horas da manhã numa cadeira de rodas, fizeram o protocolo burocrático, então o profissional do Hospital me trocou de cadeira e daí realmente comecei a “via crucis” que salva. Numa grande sala já havia várias cadeiras apropriadas ao acoplamento do paciente renal à máquina. Foi uma eternidade. Enquanto esperava a minha vez, um misto de medo e esperança, de curiosidade e confiança, mas, acima de tudo de gratidão. Olhei tudo em volta. Com olhos marejados vi a disponibilidade dos enfermeiros e técnicos, enfim todos que se debruçam neste mister de cuidar, despidos de empáfia e revestidos de grande dedicação . Fico a refletir, analisando o cenário à minha frente: pessoas de branco diante de procedimentos eficazes, em movimentos complexos e delicados que envolvem atenção e cuidado e a excelência do fazer-se vitalmente necessário. Não foge ao meu olhar o desvelo devotado da equipe de profissionais ao acolhimento de tantos, e, eu me incluí nessas pessoas debilitadas e frágeis. Os problemas renais não são raros, ao contrário é mais comum do que conhecemos e, se não nos atingem diretamente, abstraímos. Não estamos livres a nada que se relaciona a doenças sérias ou não. A hemodiálise (necessidade de equipamentos tecnológicos, de alta precisão e instalação complexa) tem custo monetário altíssimo, precisa de profissionais eficientes no manejo das máquinas e, acesso quase inacessível aos carentes se não houvesse a mão do Estado, a acolhe-los através do SUS. Vital e impagável para muitos dos companheiros daquela hora , daquele dia, naquele tempo. É um tratamento sério e complexo requer recursos e protocolos burocráticos. Requer pro-eficiência em doenças crônicas renais e, pessoal supra capacitado. O SUS, no meu caso, e, com certeza nos casos de todos os pacientes que participavam daquela roda de vida, de paciência, de sofrimento era uma saída sem precedente para mantê-los vivos e sobreviventes e, com certeza eternamente gratos. O esquecimento de ter vivenciado aqueles dias e horas não faz parte da minha história em momento algum. De quando em vez um filme diante dos meus olhos desenrola, vejo cada rosto tão sofrido solitário e anônimo. Pessoas ligadas às maquinas frias e salvadoras com o olhar perdido e as mãos trêmulas. Às vezes o barulho das rodinhas do carro de lanche surge me acordando o passado. A passagem dele todos os dias, distribuindo lanches, sucos, caldos, mingaus e cafés, cumprindo uma rotina, vai transformando o estômago vazio em alentoso conforto. Esse é outro filme que passa também a minha frente a lembrar-me de nossa frágil condição de ser humano. Um desse dia lembro–me de um vizinho de máquina que cantava alegremente como a tanger a tristeza, embalado a sina. Depois que atravessei larga porta do Hospital do Rim naquela manhã, há 6 anos atrás, nunca mais fui a mesma. A gratidão se apoderou fortemente de minhas vivências ao lidar com a saúde de outras pessoas, naturalmente empática, sinto a realidade precária da população. E, imagino se o Brasil não tivesse o “santo” SUS, que calamidade teria se abatido sobre nós Brasileiros? Qual forma tomaria e em quais caminhos andariam essa tragédia pandêmica que assolou o mundo? Os cientistas asseveram os vários aspectos analisados estudados, infelizmente a pandemia, veio para ficar.
Obrigada SUS! Vida longa ao SUS!
Dulcinéia Aguiar Cavalcante e Silva – Poetisa, Escritora, Poetisa e Imortal da Academia Feminina de Artes e Letras Mossoroense – AFLAM, ocupante da CADEIRA 18. Integra as confrarias: Café e Poesia e As Traças. Cronista Jornal De Fato e agente cultural da confraria Sem Eira nem Beira. Participa como coautora de várias coletâneas, além de autoria solo dos seguintes livros: Quatro Estações, Poltrona Azul, Bicicleta de Papel, … um chão para memórias soltas. Sua mais recente obra é Outanias. dulcinea.acs@gmail.com