Crônica

SERVIÇOS DE ALTO-FALANTES

Hoje, quase não há qualquer lembrança dos serviços de alto-falantes que existiam em alguns pontos comerciais de certos bairros. Eles desapareceram já em meados dos anos 60 de tal forma que tendem a se apagar definitivamente da memória comum e essa também é uma razão para que se faça o registro. Tinham a chamada “boca de ferro” fixada a um mastro de altura mais ou menos correspondente à platibanda do prédio, ou na parte superior dessa parede e funcionavam, geralmente, apenas em determinados momentos do dia. Podiam divulgar produtos à venda no estabelecimento, mas essa não era a principal finalidade. Na verdade, o serviço servia para identificar o estabelecimento em si, torná-lo uma referência na área, imitando o estilo de uma emissora de rádio, na época áurea da radiofonia.

Uma característica dessas “rádios” era reunir em noite de um dos dias da semana, músicos e cantores dos arredores, conhecidos no bairro, para uma programação estilo seresta, voz e violão em concertos melancólicos, bem ao gosto da época. Esses “programas” eram conhecidos pelo nome genérico de “Hora da Saudade”. Apesar do alcance limitado à vizinhança, contava-se com o adjutório de cidades mais silenciosas, principalmente às tardes e noites, o que expandia esse alcance, dependente também da umidade do ar, direção e velocidade dos ventos.

Contando com mesas de som arcaicas ou nem isso, o som dos instrumentos musicais era algo distante, às vezes imperceptível. Mas os cantores e cantoras se esmeravam na interpretação de sucessos conhecidos nas vozes de Francisco Alves, Augusto Calheiros, Orlando Silva, Nelson Gonçalves, Dalva de Oliveira, Linda e Dircinha Batista, Dolores Duran. Até caprichavam na imitação desses e outros artistas. Cada bairro conhecia aquele que melhor imitava determinado artista famoso. Nos Paredões, Laire Campiello era o imitador “oficial” de Augusto Calheiros. Assim como outros, Capiello tornou-se conhecido de toda cidade ao participar também de programas de auditório, aí sim, promovido pelas rádios de verdade.

Alguns desses músicos e cantores certamente tinham qualidades que lhe permitiriam uma carreira artística que, entretanto, não aconteceria pela falta de oportunidade de ser ouvidos além da vizinhança. Para eles, o alcance limitado da “amplificadora”, era uma pena. Outros, esforçavam-se o possível para compensar a falta de dotes artísticos, desafiando a paciência desses vizinhos. Para os que moravam mais distantes, a cujos ouvidos não chagavam seus dós desafinados, era um alívio.

 

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