Crônica

SALINEIROS

Fechando o ciclo salinas e salineiros, temos, em perspectiva histórica, a figura propriamente dita do trabalhador dessa tão relevante atividade para a região. Consideramos o registro interessante porque, embora a profissão subsista aqui, ela é diferente, e o perfil do antigo salineiro é possivelmente desconhecido até dos que hoje exercem a função.

O salineiro típico em Mossoró era um homem nascido aqui ou em outras cidades da Zona Oeste, Vale do Açu e área fronteiriça do Ceará; analfabeto ou limitado aos primeiros anos do curso primário, sem formação profissional técnica; de família com outros trabalhadores de salinas; praticamente todos conhecidos entre si. A maioria residia nas Barrocas, Bom Jardim, Santo Antonio, Paredões e Alto de São Manoel, nessa ordem. Sindicalizado desde os primórdios dos sindicatos no Brasil, década de 40.

Como a atividade é caracteristicamente sazonal, praticada exclusivamente na estiagem, todos tinham outro labor, igualmente simples. Ocorrendo o recesso justamente no período chuvoso, a maioria dedicava-se à pequena agricultura, em terrenos próprios ou de terceiros. Uma ínfima parte continuava nas salinas, cuidando da manutenção das instalações, fundamental no momento retorno dos trabalhos, a chamada época da colheita.

O trabalho era exclusivamente braçal, com ferramentas rústicas, a picareta para quebrar os cristais de sal, a pá para juntar e o carro de mão para transportar. A função menos dependente de força era a dos apontadores ou conferentes. Esse trabalho começava sempre pela madrugada e tinha um intervalo mais ou menos entre as 10 e 14 horas, período mais complicado para suportar a intensidade da radiação solar, pela incidência mais direta.

A jornada ia da segunda-feira de manhã à tarde de quinta, ou manhã de sexta. Nesse período os trabalhadores permaneciam nas salinas. Para preparo das refeições dividiam-se em grupos que contratavam, cada um, seu cozinheiro particular, o “cuca”, provável corruptela do inglês “cook” que, não se sabe como, chegou até ali. Uma parte dos trabalhadores levava suas provisões semanais e uma outra abastecia-se nos barracões da salina. Obviamente o primeiro grupo era de pessoas financeiramente mais organizadas, que faziam suas compras no comércio da cidade. O trabalhador de salinas tinha uma remuneração muito superior a outros de nível semelhante de qualificação profissional e recebiam seu pagamento na tarde de sexta-feira ou no sábado. Aí era a alegria do comércio. Dos mercados de alimentos ao de utilidades de classe simples ou média. Dos serviços, como barbearia, aos bares e cabarés.

 

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