CRÔNICA

O RÁDIO, APENAS RÁDIO

O rádio, apenas rádio, não será algo tão óbvio para os de uma geração que desde o primeiro momento serão habituados às imagens, não apenas de locutores e apresentadores, mas relacionadas à notícia e ao conteúdo dos programas. O que já é comum com os recursos tecnológicos atuais e diminui, aos poucos, a diferença entre o rádio e a TV.

Ouvir rádio, simplesmente rádio, tem um sido um hábito que deleitou e deleita todas as gerações, desde que ele foi inventado. Até certo tempo, mesmo rádios locais podiam não ter som de boa qualidade. Já das “rádios de fora” nem se fala. Antes das transmissões por satélite, que permitem som límpido em qualquer parte do mundo, ouvir rádio a grandes distâncias da emissora requeria, de início, um rádio de excelente qualidade, com faixas para ondas médias e curtas; depois, uma não menor habilidade para os ajustes no “dial” a fim de separar dos sibilos, chiados e estampidos, o mínimo inteligível da voz que se queria ouvir. Mas isso também dependia das condições do tempo, do relevo das regiões (montanhas, vales) e de, afinal, muita paciência, pois no melhor do programa ou futebol, a voz “fugia” e tome novos ajustes para continuar a escuta.

Voltando ao assunto da imagem, algo que então nem se podia imaginar, entre a “solidão” da cabine e o ouvinte em sua casa, em seu trabalho, ao “pé do rádio” ou na execução de uma tarefa enquanto distraidamente escutava, o que havia, ondeando invisível pelo ar, era a voz. E, enquanto essa voz era conhecida, mas figura do dono ou da dona, não, a curiosidade sempre existiu. Como essa figura não estava à distância de um “click” ela ficava à conta da imaginação de cada um e isso terminava sendo um elemento da relação emocional do ouvinte com o rádio, esse maravilhoso veículo de comunicação que mais e mais estava nos ambientes das casas como se dele sempre tivesse feito parte.

Não é costume que se abdiquem de vantagens que a tecnologia proporciona. E o rádio sempre incorporou novidades, embora de modo mais lento, como era o mundo em geral. Já se tem como fenômeno o fato dele incorporar esses avanços mais recentes sem deixar de existir. Mas, uma certa nostalgia, essa indelével marca humana, já motivou até mesmo um apresentador de programa de conhecida emissora de abrangência nacional a confessar que sentia um pouco de saudade do rádio sem imagem.

Não sei até onde poderão ir as mudanças da forma sem alteração do DNA. Que transforma uma coisa em outra ou a faz desaparecer para dar lugar a outra. Mas, penso que o rádio existirá enquanto for sempre, sobretudo, a voz.

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