Em nossa cultura a hiper valorização dos relacionamentos amorosos tem feito parte das conversas com amigas, com parentes e até nas sessões de terapia. De 0 a 10, quanto da sua felicidade você deposita na sua relação amorosa? Ou melhor, se você ainda não tem um par pra chamar de seu (contem ironia) quanto você idealiza em encontrar o seu par romântico? E mais, que ele seja, claro, romântico, dedicado, companheiro, fiel, tudo isso e muito mais. Mas calma! Vamos por partes. Por mais independentes, cultas e articuladas que você seja, a maioria ainda assim vislumbra uma vida feliz ao lado de um certo alguém especial. E tudo bem querer casar e formar uma família. Mas repensar a relação com o amor romântico e com o amor-próprio pode fazer toda a diferença na forma como você embarca nos relacionamentos e, consequentemente, na felicidade que encontra neles.
Nós mulheres, geralmente, nos subjetivamos na relação com nós mesmas mediadas pelo olhar do homem que nos escolhe. Isso aponta para a terceirização da nossa autoestima, e assim aprendemos que só temos valor se um ou mais homens nos desejam. “É como se validássemos uma dinâmica em que eles têm o papel de serem avaliadores das mulheres: quem está escolhendo é quem diz o que vale e o que não vale”. É muito comum que, nessa pressa para não fazer parte do time das “não escolhidas”, as mulheres se casem com casamento e não com o marido, principalmente quando sentem que estão migrando para trás da prateleira (termo usado para se referir ao dispositivo amoroso no livro prateleira do amor) E aí o discurso ideológico na cultura é o relógio biológico. Quando você sente que as amigas todas estão se casando, vai dando aquele desespero.
O primeiro perebado que der bom dia acaba apertando esse botãozinho de vulnerabilidade. É minhas amigas, a coisa é mais grave do que pensávamos. O outro lado dessa história não melhora, sinto muito informar, mas já ouviram falar na síndrome da Bela e a Fera? “A gente aprende que o sucesso de uma relação e a mudança daquele companheiro dependem do nosso esforço e dedicação. Um bom exemplo disso é o conta da Bela e a Fera: a menina linda que se envolve com a besta e o transforma num príncipe encantado”, num misto de projeção e narcisismo (por que existe um prazer em ser “a mulher”) que vai mudar esse homem – nos mantemos machucadas e culpadas nessas relações com “feras”, afinal de contas, se eles ainda não mudaram, foi por que nós não fizemos o suficiente…. Até quando vamos carregar esse fardo? Descentralizar a felicidade no par romântico e diversificar as fontes de afeto é um bom começo. Isso não quer dizer desistir do amor. Mas sim entender que o amor com um parceiro romântico tem que ser um plus e não pré-requisito para você usufruir da sua vida.
Glycia Paiva – 27 anos, mossoroense, atualmente morando em Natal-RN e atendendo pessoas do mundo todo por meio da psicoterapia online. Psicóloga clínica desde 2020, pós graduada em Neuropsicologia, com formação em andamento em Terapia Cognitivo Comportamental e em Relacionamentos. Atende pessoas do mundo todo por meio da psicoterapia online. Área de atuação: Relacionamentos. Uso meu perfil do Instagram @glyciapaivapsi para disseminar conteúdos sobre relacionamentos, então se você tem interesse em saber mais sobre esse tema, já segue lá.