Crônica

O CARNAVAL NO QG DA FOLIA

Quartel General da folia ou apenas QG da folia era como, entre 1950 e 1970, jornais e rádios chamavam a Pça. Rodolpho Fernandes e arredores nos dias de carnaval, três dias de plena folia e apenas três. O que precedia o chamado “tríduo momesco” eram os ensaios, preparando os passos e o clima, os “assaltos” (visitas-surpresas de blocos carnavalescas a determinados locais). Nos dias oficiais da festa, então, a cidade envolvia-se quase completamente. A exceção ficava por conta de pessoas e famílias que buscavam os retiros religiosos ou, se podiam, o isolamento em sítios ou na praia de Tibau.

Admitamos, era um pouco mais de três dias porque tinha o Sábado de Zé Pereira, o precursor da ideia atualmente prevalente do quanto mais cedo melhor para cair na gandaia. O carnaval era carnaval, não era um “produto”, incentivado como alavanca da economia de certas cidades. O papel do poder público limitava-se a tentar garantir a segurança, interditar e limpar ruas e à “entrega das chaves da cidade” pelo prefeito ao Rei Momo.

A festa espalhava-se pela cidade, mas a concentração no QG da folia era o ápice das comemorações de rua todas as tardes, porque, à noite, elas se continuariam nos bailes de clubes sociais, sedes dos chamados clubes carnavalescos, bares, residências e, claro, nas “boates” que é como eram chamados os conhecidos cabarés agrupados em um perímetro em torno do icônico Bar Brahma, na Nilo Peçanha.

Cada bloco de rua reunia cerca de 50 a 80 componentes, quase todos homens, com suas roupas de tecidos sedosos, brilhantes, em combinações de cores que identificavam o bloco para o público. E desfilava com formação característica de 4 ou 5 filas indianas paralelas.

Esses blocos vinham dos bairros (onde tinham sede) ao centro da cidade já em procedimento de desfilhe, a pé, uma maratona de calor e passos simples, a rigor uma marcha apressada, de inspiração quase militar, cadenciada pelo frevo tirado dos metais, tambores e auxílio luxuoso de um apito. As danças mais complexas ficavam a cargo dos passistas que exibiam à frente do cortejo as variações coreográficas do frevo pernambucano, sendo o destaque da agremiação ao lado dos porta-bandeiras. O suor escorrendo pelo rosto e ensopando a fantasia, ao chegar à praça, parecia aumentar a disposição dos integrantes dos blocos, diante das multidões que esperavam para vê-los e das comissões julgadoras que destacariam um deles com o título de campeão do carnaval daquele ano.

Continuaremos com o tema, na próxima.

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