MOSSORÓ E AS BICICLETAS

A quantidade atual de motocicletas em Mossoró oferece uma ideia do número de bicicletas que percorriam nossas ruas, então com pisos de areia, na grande maioria. Com uma observação: proporcionalmente à população o número de bicicletas era maior.

Se o automóvel era reservado a poucas famílias e motocicletas, geralmente importadas, também não eram tão acessíveis, ter uma bicicleta nova era motivo de orgulho. Ou de um “modesto exibicionismo” (vá lá a contradição), se a dita cuja era enfeitada com os diversos tipos de acessórios disponíveis: faróis, espelhos retrovisores, bandeirolas de clubes de futebol, capa do selim, também com emblema do time preferido, buzina tipo campainha, de trim-trim característico, ou aquela com uma pera de borracha e som de corneta. O máximo era tudo isso e com os pneus de faixa branca.

Em Mossoró, qualquer álbum familiar de fotografias vai mostrar pessoas dessa família orgulhosamente ao lado ou sobre uma bicicleta. É um clássico que seria depois substituído pela foto ao lado da TV e, atualmente, ao lado do automóvel, o que, de certo modo, conta a história da elevação do poder aquisitivo de nosso povo ou, permitindo-se uma análise mais crítica, da evolução da ostentação.

Pessoas de fora ficavam impressionadas com tantas bicicletas na cidade e mais ainda se passavam na frente do Pax, durante uma sessão matinal de cinema, aos domingos. O número delas e a disposição paralela e próxima, quase enroscada uma na outra, poderia até confundir, na hora de pegar de volta, se cada dono não conhecesse muito bem a sua.

Vender bicicleta não devia ser tão difícil em Mossoró. Que o dissessem a Casa das Bicicletas, de Luiz Fernandes, ou a Casa Zenith, de Deocleciano Venceslau da Paixão, duas lojas que se destacaram na venda do produto.

Havia também os postos de aluguel. Amaro Dantas (Amaro Cazumbá), misto de empresário e árbitro de futebol (atuava aos domingos no campo da Liga) tinha o seu na Pça. Otávio Lamartine, em uma das frentes do mercado central. As bicicletas de aluguel não eram das mais bonitas e bem cuidadas. Mas, atendiam a necessidade de quem não tinha, mas precisava de uma em determinado momento.

Por ser tão comum a presença desse equipamento nas ruas, também era comum o furto de bicicletas na cidade, constante preocupação dos donos. Mesmo assim, os autores dessas façanhas não aparecem no filme “Ladrões de Bicicleta”. Modéstia deles ou falha do diretor, Vittorio De Sica.

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