ESCOLAS DE DATILOGRAFIA

Não sei se seria melhor grafar dactilografia, com o “c” antes do “t”, ignorando o corretor de textos do computador que substituiu com todos os acréscimos conhecidos a velha máquina de escrever. Aliás, velha hoje, porque na sua época também era inovadora em relação à caneta-tinteiro e mais ainda ao antigo bico de pena, mergulhado repetidamente no tinteiro para escrever um único documento ou uma singela carta.

Aprender a “bater a máquina” era imperativo complemento da formação do jovem e da jovem para futuro emprego de melhor conteúdo intelectual, como o trabalho em bancos, escritórios, comércio, escolas, e mesmo em profissões de formação universitária. Pode-se não acreditar, mas era até emocionante entrar naquelas salas repletas de gente esperançosa e promissora e começar o curso com a interminável repetição de sequências “a, s, d, f, g”. “h, j, k, l, ç”, treinamento sistemático para uso de todos os dedos da mão e para a rapidez que fazia a fama de alguns, proporcional ao número de toques por minuto, pouco se falando em tendinite dos flexores dos dedos, um risco real.

Em Mossoró, nos meados do século XX, provavelmente havia outras escolas de datilografia, mas as mais conhecidas eram a Escola Pratt, da Professora Sergina Leão, na sede da União de Artistas, autos do Foto Manuelito, Pça. Vigário Antonio Joaquim, quase esquina da Trav. Martins de Vasconcelos; a Escola do Professor Antonio Amorim, na residência do proprietário, na Av. Augusto Severo, essas duas as mais antigas, vindas lá dos anos 30, e a do Professor João Soares, também em sua residência na confluência da Rua 30 de Setembro com a Pça. Vigário Antonio Joaquim, onde, por largas janelas dando para a calçada, quem passava podia observar na grande sala, o dedilhar rápido dos alunos em suas bancadas, e ouvir o tic-tac frenético dos teclados, potencializado pelo silêncio compenetrado dos futuros datilógrafos.

O nome da escola da Professora Sergina era emprestado das suas máquinas, as imponentes Remington 16, Casa Pratt, cujos cantos de sua estrutura projetavam-se inferiormente em colunas de pouco menos de um centímetro, determinando elevação correspondente de sua base em relação à mesa e que alguns chamavam de “sapato alto”.

As escolas desapareceram antes das últimas máquinas de escrever. Mas, o uso de todos os dedos da mão na habilidade de datilografar conserva-se no trabalho de digitar, afinal palavras de mesma origem: dedo, pelo grego dáktylos ou pelo latim digitu.

 

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