Crônica

DE BAR EM BAR

O Suez, no lado sul da Praça Rodolpho Fernandes não é um canal. Nem consta que em sua inauguração tenha sido saudado com uma audição especial por Zé Alinhado, Cocota ou outro cantor mossoroense, assim como seu homônimo, misturador das águas do Mediterrâneo e do Mar Vermelho, foi homenageado pelo italiano Verdi com a ópera Aída. Suas travessias são de águas menos tempestuosas e seus navegantes não são mestres dos lemes, mas dos tacos de sinuca. As águas limpas do rio, próximo à ponte no centro da cidade refletem a lua e reverberam os boleros interpretados por Connie Francis, Edie Gorme e Trio Los Panchos, escapados da Hi-fi da Churrascaria O Sujeito. O Bar Tamandaré, de Laurinho, da boemia cotidiana na Praça Otávio Lamartine ou praça do mercado é uma confraria de autônomos, funcionários públicos, militares. Nos da Rua Francisco Peregrino, ou beco das frutas, com seus trabalhadores, poetas, gente do povo, podem-se identificar personagens de memórias de Dorian Jorge Freire, de contos de Jaime Hipólito Dantas ou Tarcísio Gurgel ou de romances de Dostoievski.

Nos bares a linguagem chula convive com o respeito e admiração ao falar escorreito. Ter cultura refinada é pretensão até mesmo do iletrado, declarado ou não oficial. Os mais espertos ficam de oitiva e quando algum “intelectual” comete um vocábulo, digamos, mais ortodoxo, trata de arranjar uma oportunidade para usá-lo, não importando o contexto, mesmo sem segurança quanto ao significado, não raro correndo o risco de ofender involuntariamente (ou sem dolo, como diria o causídico) o interlocutor.

Estendendo-se pelos bairros, outros bares mossoroenses poderiam ser relembrados. Mas, atendo-se apenas aos do centro, são icônicos também o Bar Estrela, vizinho ao de Laurinho, na Praça do Mercado, o Umoarama, na Praça Rodolpho Fernandes, a Churrascaria Brasa, próximo à ponte, o Bar Pinguin, de Manoel Capé, na esquina da Alfredo Fernandes com José de Alencar, atrás do Pax, o Bar Ipiranga, de Raimundão, na Francisco Peregrino, o Bar de Frizo, a Gruta de Chiquinho, o Vietbar, na Meira e Sá, o Bar IP, de João Pinheiro, na Felipe Camarão, já no Bairro 12 anos, mas integrado circuito de bares do centro, o Bar do Posto Imperial, da Av. Pte. Dutra, saída para o Alto de São Manoel. E, se entramos nessa avenida, pode ser lembrado também o Bar Acapulco.

Nenhum desses estabelecimentos existe mais. A lista, que deve ter deixado algum de fora, não faz juízo de valor. Apenas pincela um ponto da aquarela que pretende fixar o que era a cidade entre as décadas de 1950 e 1970.

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