CRÔNICA

COMO ERA A FESTA

Para uma cidade que até o final dos anos 1950 tinha cerca de 40.000 habitantes as comemorações em homenagem a Santa Luzia, em Mossoró, era o que só podia ser: a típica festa da padroeira em uma pequena cidade nordestina. A ênfase, naturalmente, era nas funções religiosas. A estas seguiam-se os festejos profanos, diariamente, durante a trezena de orações, misturando devotos verdadeiros, rezadores ocasionais, pessoas em busca de simples lazer e gente disposta a atender todos os demais e garantir uma renda extra no variado comércio formado em torno do evento.

De modo geral, é o que continua acontecendo. A diferença era essa cidade pequena, de economia muito associada à atividade salineira, à pequena criação, à pequena agricultura familiar e a um modesto comércio, sendo a agricultura e as salinas atividades sazonais, a primeira dependente da estação das chuvas e a outra do tempo de estio. Após os atos religiosos, na catedral, de que participavam fies vestidos de modo austero, com roupas novas encomendadas especialmente para o momento, mulheres com cabeça e ombros cobertos por véus, a festa popular espalhava-se pelos lados e por atrás da igreja. Na área ao lado do templo, da atual Av. Dix-sept Rosado, além das tendas onde ocorriam os leilões, o espaço largo era ideal para a instalação dos parques de diversões, encantamento de crianças e jovens. Na parte de trás, ao longo do lado leste do mercado central, estavam as barracas de estruturas muito simples, como simples era sua clientela e modestos os produtos oferecidos: bolos, doces, alfenins, bonecos feitos de açúcar, bolas coloridas e o indefectível rói-rói, brinquedo formado por pequeno cilindro de argila, revestido de papel colorido e aberto em uma das extremidades, um barbante de cerca de 20cm e uma vareta com um estreitamento próximo à extremidade, preenchido parcialmente por breu. O barbante era preso por uma ponta ao centro da parte fechada do cilindro e por outra envolvia o breu com um laço frouxo. Empunhando a vareta e girando a estrutura de argila, produzia-se o zunido característico. A festa não ia além das 22 horas.

Nos anos 1960, com a inauguração da Rádio Rural, o formato da festa de rua foi significativamente modificado. Uma feira de culinária e artesanato, a Pro-Fé, ocupava quase toda Av. Dix-sept Rosado. Os shows musicais tornaram-se a atração mais relevante, com lugar especial para A Mais Bela Voz, competição de aspirantes ao estrelato, com uma fase preliminar promovida pela Rural de Natal, Mossoró e Caicó, nas respectivas regiões e uma final estadual justamente no palco da Rural de Mossoró, nas festas de Santa Luzia. Tudo isso já se foi antes. A festa atual é muito mais ampla e diferente.

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