Volto ao tema do antigo endereço da Rádio Rural que, pela importância e extensão, sugere trabalhos muito além de pequenas referências que comportam esse espaço.
A visão dos criadores de uma nova emissora com as palavras “educação” e “rural” no próprio nome reflete-se na sua programação através de um ecletismo com um pano de fundo de qualidade e inovação. Informações qualificadas, programas especializados em cinema, música clássica, ou na tradicional temática nordestina, emboladores, violeiros repentistas, tudo apresentado como manifestações confluentes de uma cultura de fato universal, concertavam com produções voltadas diretamente à educação básica de nossa população.
Falamos, por exemplo, do erudito “Música, Eterna Música”, do Professor José Fernandes Vidal, aos domingos; do diário “Cinema no Lar”, com crítica cinematográfica, música de filme e programação diária dos cinemas locais; dos de música nordestina com o locutor/personagem “Seu Mané”; dos muitos artistas regionais em audições ao vivo no chamado mini-auditório; dos festivais que evidenciaram talentos projetados até nacionalmente; da novidade das “escolas radiofônicas” chegando à zona rural pelo então recente “rádio de pilha”.
As manhãs dos domingos se caracterizavam pela transmissão da missa na Catedral de Santa Luzia e suas tardes também pelo programa institucional dos escoteiros e os da Diocese com o Monsenhor Raimundo Gurgel ou Huberto Bruening.
Mas, esse espaço precisa ser aproveitado para um registro que extrapola a função essencial de emissora de rádio. A convivência catalisada pelo local. A presença de pessoas, num dinamismo peculiar, na porta, na calçada, sob a árvore em frente, do início da manhã à noite. Havia razões para isso.
A localização central, a sede do MEB (Movimento de Educação de Base), no térreo, a estrutura administrava da Diocese do outro lado da praça, onde fora o Colégio Diocesano e está hoje uma agência do Banco do Brasil, o trânsito de pessoas que vinham para conhecer a rádio ou por causa de algum de seus serviços. Mas, também, porque aos poucos o local foi se tornando ponto de convergência, simplesmente.
De dia, confundindo-se com o movimento do comércio; à noite, como extensão da afluência das pessoas na praça, gente que ia ou vinha. Das missas da Catedral, das escolas, cinemas, bares, lanchonetes, ou que estavam ali só para conversar, inclusive moradores da vizinhança, quando o centro da cidade ainda era residencial.