CRÔNICA

FRANK E MARIA

Aprender uma língua estrangeira já foi mais complicado por aqui, quando viagens internacionais eram sonho inatingível para a absoluta maioria da população e fazer um curso fora do Brasil, morando uma temporada em outro país, uma raridade tão grande que o fato virava notícia durante anos e a pessoa contemplada uma celebridade. É natural que isso não seja simples, em qualquer época, mas as atuais facilidades para viajar, mesmo para pessoas comuns, seriam impensáveis há 50 anos.

Nas escolas estudava-se obrigatoriamente, a partir curso ginasial, inglês e francês. Era a única via de acesso a esse aprendizado. Não havia outras escolas formais de idiomas. Apenas algumas iniciativas particulares de grupos em que alguém fluente ou menos ignorante, geralmente em inglês, virava professor dos demais.

Aparece, então, um curso de inglês através do rádio que durante certo tempo fez sucesso entre estudantes e outros interessados, invariavelmente pessoas jovens, animadas para aprender a língua do Tio Sam porque isso era indiscutivelmente um “plus” para qualquer currículo e, também, destaque pessoal, até para quem não passava do ‘the book is in the table”. Cantar os sucessos de Elvis Presley também era um bom motivo.

Frank e Maria era uma “novelinha” sem drama. Às vezes, um ou outro comezinho problema doméstico, só para oportunizar determinada categoria de diálogo. Frank, um jovem americano, conhece no Brasil a brasileira (se não me engano, pernambucana) Maria. Casam-se e o jovem casal viaja pelo Brasil. Maria não fala inglês e Frank, que fala bem o português, vai ensinando seu idioma para a esposa, do básico gramatical às expressões idiomáticas, e diálogos que se tornam gradativamente mais complexos, à semelhança metodológica dos inúmeros cursos de inglês que logo se popularizariam entre nós.

As “aulas”, gravadas em grandes rolos de fita magnética, eram transmitidas ao final das tardes pela Rádio Tapuio. O curso era apoiado em material impresso, de boa qualidade, distribuído gratuitamente. Os interessados podiam pegar esse material nos estúdios da rádio, na esquina da Praça Getúlio Vargas, próximo ao rio. Os cadernos, tipo brochura, tinham uma capa interessante, cortada em diagonal, deixando ver parte da primeira página. A impressão era que faltava parte da capa.

Não sei o que foi feito de Frank e Maria. Teriam hoje mais de 80 anos. Imagino-os encontrando antigos alunos, desencantados da era das redes sociais e falando bem só do passado. Do tempo da fita magnética.

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