Naquela manhã de 1883, o sol nasceu diferente sobre Mossoró. Não era apenas mais um dia quente no sertão potiguar — era o dia em que uma cidade inteira decidiu que a liberdade não podia esperar pelas leis lentas do Império. Enquanto o Brasil ainda engatinhava rumo à abolição, Mossoró correu. E correu na frente.
Na terra onde o sol é rei,
A liberdade brotou sem lei.
Não foi ordem, nem papel selado,
Foi o grito do justo, o braço do aliado.
As ruas, que antes testemunhavam o silêncio resignado dos cativos, agora ecoavam passos firmes, vozes decididas, e uma esperança que não cabia mais nas senzalas. Não houve decreto imperial, nem assinatura de princesa. Houve coragem. Houve gente comum, comerciantes, professores, lavradores, que se uniram para dizer: “Aqui, não mais.”
É curioso pensar que a liberdade, tão óbvia hoje, precisou ser conquistada com ousadia. Mossoró não esperou pela Lei Áurea. Dois anos antes dela, a cidade já havia libertado seus escravos. Um gesto que, mais do que político, foi profundamente humano.
E o que dizer dos que foram libertos? Muitos permaneceram na cidade, trabalharam, constituíram famílias, ajudaram a moldar a identidade mossoroense. A liberdade não foi apenas um ato simbólico — foi o início de uma nova história, escrita com suor, dignidade e resistência.
Hoje, ao caminhar pelas ruas de Mossoró, talvez não vejamos as marcas visíveis daquele 30 de setembro. Mas elas estão lá. No nome das escolas, nas celebrações, na memória viva de um povo que escolheu a justiça antes que ela fosse imposta.
O ferro caiu, o medo cessou,
E o povo inteiro então cantou:
Livre é quem pode escolher seu caminho,
Livre é quem anda sem ter espinho.
Que nunca se cale o canto da história,
Que Mossoró brilhe em nossa memória.
Pois quem liberta com o coração,
Planta esperança em cada geração.
Porque liberdade, quando nasce do coração de uma comunidade, é mais do que um direito — é um legado.
Sinto-me honrada em ter adotado Mossoró como minha segunda casa, onde encontrei acolhimento, cultura vibrante e pessoas que aquecem o coração.
Taniamá Vieira da Silva Barreto – É Professora Titular Aposentada da UERN, Pesquisadora, Consultora em Políticas Públicas. Doutora, Mestra e Especialista em Enfermagem pela UFRJ. Artista Plástica e Poetisa. Ocupa as cadeiras 12 da AFLAM, 01 da ALAM, 03 da ACJUS, 08 da AMOL e 57 do CONINTER.
