CRÔNICA

TENENTE CLODOALDO

Clodoaldo de Castro Meira era um policial com espírito de policial. Mas, independentemente disso, tinha o pensar de cidadão. Compreendia o significado de seu trabalho para a vida da cidade e das pessoas; a dimensão social e política do papel da polícia. Tinha a convicção de que tal trabalho não admitia outra atitude que não aquela firme e decidida, que o caracterizava no imaginário da população como o típico policial durão, imagem que quase se afigurava como lenda.

Nos anos 1960, era uma das figuras mais conhecidas em Mossoró e região. Naquele momento, a maioria dos delegados de polícia no RN era formada por policiais militares. No interior do estado, praticamente todos. Clodoaldo respondia por uma delegacia regional, que compreendia as várias delegacias de Mossoró e até de outras cidades.

A cristalização do nome de alguém na memória popular acontece de maneiras diferentes. Entre estas, ela pode ser determinada por uma identificação natural com sua personalidade, sua profissão, a intensidade de um fato relacionado à pessoa; pode resultar, também, de processo artificial de massificação, pela repetição proposital e direcionada. O nome do Tenente Clodoaldo consolidou-se pela primeira das duas categorias citadas. O povo, de modo geral, o tinha como corajoso e decidido no exercício de sua função. Na simplicidade desse pensamento, associava de forma nítida essa função à defesa do que era certo contra errado. Jamais ele pensou em interferir nesse processo visando capitalizá-lo para utilização em projeto político.

Embora fosse uma pessoa de poucos amigos, era firme em suas amizades. Interlocutor que apreciava a boa palestra, sempre elegendo assuntos sérios, não gastava tempo com frivolidades. Pontuava a conversa com baforadas de seu cachimbo, o qual abastecia com um fumo aromatizado, diferentemente do cheiro típico que se sente perto dos fumantes em geral. Trazia esse fumo sempre consigo em uma lata de forma cilíndrica e cerca de dois litros de volume. Tinha, por esse aspecto, um ar quase de lorde inglês.

Não sendo mossoroense, Clodoaldo tornou-se mossoroense. Nunca mais deixou a cidade. Na reserva, afastado de todas as funções que lhe deram notoriedade, continuou seus hábitos de andar por alguns pontos do centro da cidade. Parava em alguns lugares às vezes solitariamente. Aguardava talvez o encontro dos antigos amigos. Como eram poucos, a passagem do tempo os foi tornando menos ainda, mas ele nunca abandonou a atitude de selecioná-los pela qualidade, preterindo a quantidade, mesmo quando esses amigos passaram a rarear.

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