CRÔNICA

RODOVIÁRIA VELHA DE NATAL

Quando o microfone do serviço de autofalantes era ligado o que se ouvia eram todas as misturas de sons desagradáveis resumida no termo ruído: chiado, pipocado, apitos agudos e por aí vai. A rodoviária da Ribeira, na verdade, não era tão velha assim. Inaugurada em 1963 só contava 18 anos quando foi desativada em 1981. Passou a ser conhecida como a velha porque foi substituída pela outra, a nova.

O locutor de voz metálica enfatizava na pronúncia e acentuava a divisão de sílabas, começando pela identificação da rodoviária, batizada com o ilustre nome do Presidente dos Estados Unidos John Kennedy, para em seguida convocar motoristas e passageiros a tomar seus lugares nos ônibus, cujos destinos e roteiros eram anunciados, e desejar boa viagem.

Os ônibus, esses sim, eram velhos, pelo tempo de uso propriamente e pelo chacoalhar diário nos buracos que começavam nas ruas da cidade e se multiplicavam nas estradas carroçáveis dos interiores, poeira solta no verão e lama escorregadia nas épocas de chuva. Veículos menos sofridos eram reservados a linhas para cidades como Mossoró e Caicó, sem prejuízo de situações como um desvio de percurso logo após a saída da rodoviária, sem aviso qualquer, e uma passagem na garagem da empresa, com passageiros embarcados, esperando, enquanto se realizava um reparo qualquer.

No prédio de dois pavimentos, hoje considerado modesto, a parte térrea era aberta, comunicação direta com a rua. Aí ficavam as plataformas de embarque e desembarque, os guichês das empresas para venda de passagens e o conhecido caldo de cana, servido com pastel ou com pão doce e consumido com o freguês escorado, o pé descansando na parede, olhando para o Teatro Alberto Maranhão, para a velha Faculdade de Direito e para o Colégio São José Salesiano. No primeiro andar funcionavam a direção da rodoviária e um ou outro escritório.

A vizinhança ainda contava com um comércio relativamente movimentado, saudoso do tempo em que fora o principal centro de negócios da cidade. Lojas, bancos, cartórios e outros estabelecimentos distribuíam-se pela Rio Branco, Duque de Caxias, Dr. Barata, Frei Miguelinho, Nísia Floresta e um pouco ainda na Rua Chile, Travessas México e Venezuela, sem falar dos bares da Tavares de Lira, destaque para a icônica Peixada Potengi.  A rodoviária velha abriga hoje o Museu de Arte Popular Djalma Maranhão e a Ribeira vê a cada dia e cada vez mais a economia da cidade se distanciar para outras partes da cidade. Que fique, ao menos, a memória.

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