O conglomerado jornalístico “Diários Associados” foi um dos dois maiores que já existiram no Brasil. O maior no seu tempo, sem dúvida. Uma rede de jornais, revistas, rádio e televisão, além de agência de notícias. No seu comando, a figura também superlativa no que se refere às discussões e polêmicas que marcam sua personalidade, o paraibano Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo, ou simplesmente Chatô. Como tudo que envolvia o grupo tinha esse caráter superdimensionado, assim também era com a revista “O Cruzeiro”, sua principal publicação e a principal revista do país, com números de tiragem semanal impressionantes e possivelmente não alcançados por qualquer outra, considerada a proporção da população brasileira em cada época.
Suas capas aguçavam o interesse do leitor com fotos de alta qualidade e as chamadas para as matérias contidas naquele número. A revista adotava a linha das reportagens impactantes e já fazia, desde então, o que se chama de jornalismo investigativo, com os textos apaixonados de seus repórteres, destaque para David Nasser e Joel Silveira. Criou também a figura da dupla repórter de texto e repórter de foto, sendo famosa a formada por David Nasser e o francês Jean Manzon. Mas, igualmente famosa, foi também a dupla David Nasser/Indalécio Wanderlei, este último mossoroense que também fez história no jornalismo fotográfico. Quando as lentes fotográficas eram muito menos sofisticadas e os drones não existiam nem na imaginação futurista, causou sensação Indalécio voar amarrado na asa de um pequeno avião para fotografar um navio em chamas em alto mar.
A lista de colaboradores de “O Cruzeiro” não deixa dúvidas sobre o privilégio dos leitores. Por ela passaram nomes como Nelson Rodrigues, José Lins do Rego, Gilberto Freyre, Austragésilo de Athaide e Raquel de Queiroz. A autora de “O Quinze” tinha uma coluna chamada “Última Página”. Como o nome indica, colocada no final de cada número da revista. E tinha o time de primeira de humor que reunia Péricles Maranhão e seu popular personagem “amigo da onça”, Carlos Estêvam, e o grande Millor Fernandes, assinando com o pseudônimo Vão Gôgo. As duas páginas de Millor sob o título “Pif-Paf” já justificavam a aquisição de cada exemplar. O extraordinário Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta) fez parte da revista, mas, lamentavelmente, apenas nos últimos anos da publicação. O time também tinha os cartunistas Borjalo, Ziraldo e seu irmão, Zélio.
Não por acaso, “O Cruzeiro” foi a mais expressiva publicação periódica do jornalismo brasileiro de sua época e é referência até os dias atuais.