PROFISSÃO CABECEIRO
A atividade não existia como profissão (não se encontra na CBO – Classificação Brasileira de Ocupações). Mas, eles estavam nos diversos pontos de Mossoró onde se praticava o comércio por atacado (em grosso como se dizia) de cereais e outros produtos. Como eles, outros trabalhadores com empregos formais tinham função semelhante de levantar e transportar cargas, manualmente. Mas eles não eram empregados. Seriam uma espécie de autônomos. Eu digo seria, pois nem isso eram, se considerarmos os autônomos como categoria que, embora sem relação empregatícia com o tomador de serviço, atua dentro um padrão regulatório que inclui, entre outras coisas, proteção previdenciária, fator considerado na formação do preço do serviço.
O cabeceiro era antes um trabalhador informal, sem qualquer proteção social, que colocava sua força e resistência à disposição de contratantes eventuais ou intermitentes, recebendo por isso pequenas quantias ou, às vezes, até sem combinação prévia de remuneração, ficando essa a critério do pagador. Uma relação hoje inaceitável, porém, ainda existente em certas atividades. Apesar dessa desvantagem, muitos homens viviam desse trabalho. Tinham casa e sustentavam a família.
Eram pessoas analfabetas ou com simples noções de leitura. Dirigiam-se pela manhã a locais conhecidos, próximo a mercados e áreas de comércio demandante do serviço que ofereciam. Conhecidos dos comerciantes, eram prontamente recrutados para carga ou descarga principalmente de caminhões, pegando em alturas diferentes, levando sobre a cabeça e erguendo para depósito em lotes ou sobre carrocerias, volumes de até 60kg, como no caso de farinha de mandioca, farinha de trigo e açúcar, por exemplo. A força exigida na prática diária era, ao mesmo tempo, o exercício de manutenção da imprescindível musculatura, induzindo mecanismos biológicos capazes de compensar, até certo ponto, a subnutrição hereditária. Traziam sempre nas mãos um rolo ou espiral de tecido de algodão usado para suavizar o contato direto da cabeça com o material transportado, a conhecida rodilha, como a indicar a disposição de encarar o “peso do pote”, ou seja, anunciar a aptidão para a tarefa.
Quando os múltiplos fatores, do processo natural de envelhecimento às agressões óbvias do ambiente, em especial o do trabalho, não permitiam carregar senão o peso da própria história, os que de algum modo tinham ingressado em atividades formais, dispunham de renda para o vida simples de sempre. Outros, eram dependentes da família.