O ser(não) do Messias para seu ministério e seguidores
Acredito que o país inteiro estava no aguardo da liberação do vídeo da reunião ministerial ocorrida no dia 22 de abril. O vídeo é um dos documentos que pertencem ao inquérito envolvendo suposta interferência do Jair Messias Bolsonaro na Polícia Federal (PF), relatado pelo ex-ministro Sérgio Moro.
Assisti ao vídeo em sua íntegra e confesso que teria sido melhor assistir a um Dorama coreano. Se fosse adepto do pensamento do Messias, em que afirma que “Deus está acima de todos”, não permitiria que um(a) filho(a) assistisse tal barbaridade.
Lembro-me que durante a campanha presidencial, ouvia críticas fervorosas de muitos bolsonaristas contra as novelas da Rede Globo em especial, acusando-as de incentivo à prostituição, corrupção, traição, infidelidade conjugal, violência física, uso de drogas, ensinando palavrões as crianças e desviando-as do bom caminho, dentre outras coisas. Para combater tais absurdos era preciso eleger um presidente que desse bom exemplo ao país, um homem religioso, bom pai, bom filho, bom esposo e que respeitasse a tradição, os bons costumes, a família, a igreja e acima de tudo temente a Deus. Esse homem era o Jair Messias Bolsonaro, e sempre diziam em tom jocoso que era bom já ir se acostumando. Não me acostumei e dificilmente me acostumarei.
Voltando ao vídeo, não dava para opinar sobre toda a reunião, pois nunca vi e ouvi tanta barbaridade e mediocridade juntas, e não estou me referindo apenas aos palavrões, haja vista a possibilidade de ocorrer em qualquer reunião de trabalho, seja do governo ou em outra instituição, algum membro esporadicamente falar um palavrão, mas fazer disso uma regra como visto no vídeo é algo impensável.
Não é pra menos que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello, na página 31 de sua decisão afirmou que, “longe de discutir sensíveis questões de Estado ou de Segurança Nacional, revela determinadas manifestações incompatíveis com a seriedade das instituições e a respeitabilidade dos signos da República, como o evidencia, p. ex., quanto a alguns dos seus participantes, a ausência de decoro, materializada em expressões insultuosas, ofensivas ao patrimônio moral de terceiros, e em pronunciamentos grosseiros impregnados de linguagem inadequada e imprópria a um sodalício composto por importantes autoridades na hierarquia da República”.
Inadmissível para uma reunião ministerial autoridades darem exemplos tão repugnantes à sociedade brasileira.
Não poderíamos esperar algo diferente do ministério, se o chefe é o que destila mais ofensas, tem um vocabulário chulo e inadequado para o cargo que ocupa. A reunião mostrou um grupo de lobos com pele de cordeiros. Lembram de Mateus (7:15,16) “Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores. Por seus frutos os conhecereis. Porventura colhem-se uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos?”.
Messias, Mourão, Guedes, Salles, Weintraub, Pedro Guimarães (CEF), Araújo, Moro, Damares, e o resto da horda cabem bem dentro da passagem bíblica acima. Lembram de outra passagem sempre citada pelo Messias e seus seguidores, “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará (João 8:32). O que está faltando para alcançarem a liberdade? Precisam de mais alguma demonstração de irracionalidade, irresponsabilidade, insensibilidade deste governo? Aos eleitores que esperavam um presidente respeitoso, defensor dos bons costumes e de Deus acima de todos, pergunto se este é o Messias que tanto esperavam? É o homem que iria se contrapor às novelas globais, dando bons exemplos aos seu(a)s filho(a)s?
O que vimos foi uma horda indisciplinada atirando contra tudo e contra todos comandados por um sem noção que foi colocado na presidência por vocês. Vocês também são responsáveis por tudo isso que estamos passando, não me refiro aqui a Pandemia, mas ao desgoverno que tem agido com irresponsabilidade diante da crise. Minha crítica não vai apenas para os eleitores, vai também para os que não votaram, anularam, votaram em branco e os que decidiram se ausentar no dia da votação no segundo turno em 2018.
Vocês também são responsáveis por tudo isso que estamos passando. E para encerrar reproduzo a fala de Lima Duarte no vídeo em despedida do ator e amigo Flávio Migliaccio sobre a omissão: “os que lavam as mãos, o fazem numa bacia de sangue”1
1 Fala da peça “Os Fuzis da Senhora Carrar”, de Bertolt Brecht.