CRÔNICA

O SABOR NO NOME

Suco de frutas, refresco não levado à geladeira, era ponche. Mel de engenho era mel de furo e açúcar mascavo, açúcar preto. Nomes e expressões para comidas e bebidas variam com o tempo e o lugar. Alguns nomes prevalecem em qualquer tempo e espaço, porém outros soam estranhos ou são desconhecidos fora de certo momento ou área geográfica.

Em Mossoró o pão francês é bem conhecido. Mas, apenas aqui trarão um se alguém pedir um pão d’água. Nossa saborosa banana maçã também é assim denominada no Ceará e, parece, também no Piauí. Em outras regiões é melhor pedir banana leite. Confusão ocorreria também com a banana casca verde que poderia ser tomada, em outro lugar, por uma banana qualquer que ainda não amadureceu. Carne de sol é expressão geral conhecida. Mas, no passado, aqui falava-se em carne seca, que diz bem mais sobre o processo de desidratação a que é submetida para ser conservada por mais tempo. Feijão macassar ou feijão de corda são nomes empregados em todos os lugares. Mas, feijão de corda é a forma mais popular entre nós e, talvez, a única conhecida por muita gente. Tem quem goste com carne de criação, que sempre foi nosso jeito de chamar a carne de caprinos.

Cuscuz é um desses termos que não deixam dúvidas. Entretanto, o comum era chamar assim os feitos naquelas forminhas, superfície em cúpula, comprados do vendedor que passava à porta, cedinho ou “detardizinha”. Feito em casa, embora na cuscuzeira, era quase sempre pão de milho. Ia bem com carne seca assada, mas podia ser com ovo, que quando frito, para nós era ovo estrelado. Em nossos jantares só igualava em popularidade com o mugunzá, que em todo Nordeste já foi chamado de chá de burro. A opção podia ser uma omelete, mas não com esse nome. Era malassada.

No Alto da Conceição, São Manoel, Bom Jardim ou qualquer bairro nosso, se alguém, tempos atrás, pedisse uma vitamina melhor o faria em uma farmácia do que em uma lanchonete. Fruta batida com leite em liquidificador só podia ser (conforme sua natureza) abacatada, bananada etc.

Das padarias se foi o pão semistério, chamado sovado, massa crocante, mas macia e fina, nome genuinamente mossoroense. O pão massa-fina talvez ainda se encontre. Bolacha de chá não se encontra nem com outro nome. O mesmo se diz da bolacha de côco. Bolacha Djalma só existia aqui e o que se vende por aí como soda para nós sempre foi bolacha preta.

Assim como às flores os nomes não lhes mudam o perfume, também ocorre com o sabor das comidas. Mas, o nome pronunciado no lugar e tempo certos pode, por si só, deixar a boca cheia d’água.

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