CRÔNICA

O NOME DO BAR

Os nomes de bares populares de qualquer periferia, de qualquer cidade, eram e são simples, consentâneos com a simplicidade de sua clientela. Sugerem amizade, remetem a amores, mais ou menos compromissados, anunciam especialidades em comidas, estimulam interpretações de duplo sentido, revelam apenas o nome do dono ou de uma associação familiar no empreendimento, identificam sua localização na geografia da cidade. Alguns desses nomes refletem a capacidade de marketing que todo pequeno comerciante precisa ter, já que não têm o capital suficiente para uma consultoria com especialistas de comunicação, em tese mais habilitados para criar uma marca que diferencie um estabelecimento em qualquer área de negócios. Outros nem tinham tal ou qual denominação, no início, e assumem um nome sugerido por um cliente, derivado de um fato específico, ou fixado por situação contumaz. Em quase todos os casos, passam a impressão de que resultam tão somente da falta de ideia melhor.

Em relação aos nomes com ideia de amizade, por exemplo, às vezes isso soa coerente. Em outras, é totalmente contraditório com o que ocorre entre suas paredes. A denominação faz sentido quando em suas mesas se desenvolvem as confrarias de colegas de trabalho ou de gente que se conhece nas mais diversas circunstâncias ou, sobretudo, daqueles que não se conheciam e fazem amizade justamente nesses encontros que começam com um acaso, e ultrapassa temporalmente a influência direta de Baco. Mas lá também se cruzam pessoas que não se toleram e que aumentam essa intolerância na proporção direta da octanagem das respectivas “cucas” e que correm o risco de estarem frente a frente justamente na fase do leão, dos clássicos estágios proporcionados pelo consumo mais liberal da água que passarinho não bebe, no dizer dos que conhecem passarinho. Há até aqueles que começam a festa como amigos e no meio da carraspana descobrem que não são assim tão identificados, bastando para isso uma ou outra palavra mal pronunciada ou a preferência por uma qualquer mera coisa, cuja importância somente pode ser percebida pela ótica aumentada de um bebum inconsequente.

É nesse ponto que o ambiente vira palco dos furdunços, arranca-rabos, quiproquós e tudo que representa qualquer coisa, menos amizade, e, aí, alguém mais pessimista pode até sugerir uma mudança do nome do estabelecimento para Bar da Encrenca, Do Quebra-Quebra, das Confusões. Mas o proprietário insiste, no fundo talvez uma profissão de esperança, de que, um dia, seja de fato e tão somente um local para a convivência pacífica entre pessoas, o Bar Encontro dos Amigos.

Notícias semelhantes
Comentários
Loading...
Page Reader Press Enter to Read Page Content Out Loud Press Enter to Pause or Restart Reading Page Content Out Loud Press Enter to Stop Reading Page Content Out Loud Screen Reader Support