CRÔNICA

O HOMEM DA VASSOURA

Aos que lembram da campanha presidencial de 1960, aviso que se trata de outro. Na verdade, essa é uma história de bancos escolares, onde muita coisa acontece e, embora não fazendo parte do currículo, sempre são oportunidades de aprendizado. Permito-me citar o nome de pelo menos uma das personagens, pois não vem em desabono da pessoa mencionada. Pelo contrário. A Professora Irismar Ribeiro lecionava geografia no curso ginasial do então chamado Instituto de Educação, a Escola Estadual Jerônimo Rosado, em Mossoró. Professora competente, estimada, conhecida na cidade também por integrar o Teatro Escola de Amadores de Mossoró, o TEAM das muito saudosas encenações nos palcos mossoroenses, inclusive o do referido colégio.

Próximo à escola, pelo lado da Rua Ferreira Itajubá, havia um terreno baldio ideal para uma pelada improvisada de futebol, como as que a turma fazia com frequência, precisando apenas pular o muro entre o interior do estabelecimento e a rua. O muro era muito baixo e tornava fácil a tarefa. Aproveitava-se ocasião em que, por algum motivo, a aula não ocorria e o horário ficava “vago”. Foi o que se fez em uma daquelas tardes com o sol já pendendo na direção de Baraúnas, melhorando o que já era bom. Um aluno encontrou no “campo” e trouxe para a sala uma vassoura de palha que em vez da forma quase cilíndrica que elas tinham quando novas, apresentava aquele aspecto de saia rodada denunciando seu prolongado uso.

A professora escrevia no quadro, de costas para a classe, quando o sujeito arremessou o artefato contra a lousa, assustando a mestra com o impacto. Não dava para ficar por isso mesmo. O incidente foi levado ao diretor Zé Araujo. Ninguém quis nomear o culpado. O diretor instituiu a professora juíza para separar a turma, sem qualquer ajuda de elementos materiais ou testemunhais, com base só nos antecedentes de comportamento de cada um, em um grupo de presumidos inocentes e outro que ficaria em um limbo, escala para o posterior castigo arbitrado pelo próprio Zé Araujo. Irismar era uma doçura de pessoa e aquela missão lhe pesava claramente. Ela hesitava na hora de separar cada aluno e com expressão constrangida lamentava a situação com frases como “Meu Deus! Por que vocês fizeram isso?”.

Finalmente, fez-se a “depuração”. Apesar da negativa da classe de entregar o autor da proeza, que todos sabiam quem era, o dito cujo (ou seria dito sujo) estava entre os que partiam para o purgatório. Os demais entraram na comitiva por conta das respectivas “folhas corridas”.

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