Crônica

MERCADO CENTRAL

De fato, não desapareceu. Mas foi modificado e nada tem a ver com o que era antes. Poderia ser o cenário de abertura do primeiro capítulo de um romance sobre a vida de qualquer habitante de Mossoró até os anos 70. Todos, enfim, passaram lá alguma vez. Não por alguma lei, mas pelo motivo simples de ser o mercado central um lugar múltiplo para o provimento de suas necessidades de compra, do mesmo modo que, hoje, praticamente todos os que vivem em cidades médias ou grandes vão a um supermercado ou shopping. Se a comparação parece despropositada, lembro que nossas necessidades eram mais simples enquanto as atuais foram em grande parte criadas, justamente, pelo novo modelo de comércio. Sem entrar no mérito.

Em suas galerias ou em seu entorno eram encontráveis produtos de açougue, frutas e verduras, padaria, mercearia, especiarias, utilidades domésticas, medicina natural, alimentação rápida e até joias. Muitos de seus comerciantes eram conhecidos de praticamente toda cidade. E, também, conheciam seus clientes. Figuras folclóricas tinham ali seu hatibat. Conhecidos conversavam lá diariamente ou encontravam-se depois de muito tempo sem se ver. Até o vigário teria usado o local como referência vez ou outra, pois ficava (como fica) atrás da catedral. Vendedores de literatura de cordel transformavam o pátio em um quase teatro ao ar livre. As leituras cantadas dos folhetins levavam a plateia a viagens por mundos de pavões misteriosos, míticos cangaceiros, amores trágicos, epopeias santas e mágicas metamorfoses.

O início das atividades, muito cedo, trazia uma clientela especial, a dos madrugadores. Uns voltavam a suas casas levando, com a feira do dia ou de alguns dias, os pães, bolos e tapiocas do café da manhã da família. Outros, trabalhadores que daqui a pouco pegariam no batente, inclusive no próprio local, ou até boêmios de passagem entre os mistérios noturnos e a realidade do dia, ativavam as energias nos cafés com   destaque para uma iguaria referencial do mercado, a suculenta e fumegante panelada.

Perto dali a conhecida Cobal tem hoje um comércio em vários aspectos parecido. Mudam-se os tempos, as culturas, as necessidades, as realidades. Nada ficaria como era, assim como não ficará como é. A reação às mudanças é inútil. Compreendê-las e usar a experiência como baliza da evolução é agregar à tecnologia o humanismo que a equilibra e transforma em melhor qualidade de vida. Saber o que fomos para pensar o que podemos ser.

 

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