CRÔNICA

LANCHONETE DO CHAPINHA

Plantada mais ou menos ao centro da Praça André de Albuquerque, lugar exato onde fora o coreto, era uma das lanchonetes mais conhecidas de Natal do final dos anos 1960 e década seguinte. O grande movimento durante dia intensificava-se mais ainda à noite, a clientela predominante moradores da região central, incluindo considerável número de pensionatos existentes nas redondezas, em especial estudantes e mais especialmente os da Casa do Estudante onde a carência nas refeições era mais que conhecida. Entretanto, a proximidade de uma das mais movimentadas paradas de ônibus da Natal de então, por onde transitavam trabalhadores e estudantes da Cidade Alta, Petrópolis e parte do Tirol, e que residiam nos bairros a sul e a oeste, proporcionava ao estabelecimento a condição especial de ter clientes moradores de praticamente toda a cidade.

Sem portas, funcionava até início da madrugada, quando o atendimento era suspenso para limpeza (lavagem) e higienização do ambiente para logo em seguida voltar a atender os primeiros fregueses da manhã. Pedro, o proprietário, que atendia com ajuda de poucos auxiliares, tinha por hábito tratar todo mundo por Chapinha o que refletiu para si o próprio apelido e a identidade da lanchonete. No frenético movimento noturno, a pequena multidão que se aglomerava era bem superior à meia dúzia de bancos fixos ao longo do balcão em forma de arco (coerente com o desenho circular da construção) e distância máxima de 3 metros de uma ponta a outra. Dezenas de pessoas em pé, ajuntamento caótico e barulhento que somado ao barulho do liquidificador e outros equipamentos da bancada de preparação dos alimentos, que era ali mesmo, imediatamente atrás do balcão, sem qualquer divisória, obrigava o atendente a praticamente gritar quando, na tentativa de organizar um atendimento desorganizado por natureza, repetia, sem muita convicção sobre a quem se dirigia, “um momento, meu Chapinha! Já vai, Chapinha! Aqui o seu, meu Chapinha!

Por volta de 1976, 1977, a prefeitura empreendeu uma das muitas reformas da praça. Foi solicitada a desocupação do espaço, a construção foi demolida, como também o foi a Galeria de Arte construída pelo Prefeito Djalma Maranhão. O Chapinha mudou-se para um prédio nas proximidades. Ambiente mais amplo, podia atender com mais conforto público maior. O movimento continuou bom, mas não era o mesmo. Ao que parece, o coreto da praça, apinhado de gente, caótico e barulhento, tinha outros atrativos além dos sanduiches, torradas, vitaminas de frutas, bolos da moça, Romeu e Julieta, e da figura carismática do Chapinha.

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