CRÔNICA

INDO À RUA

A expressão ir às ruas, em qualquer lugar, está ligada ao sentido de manifestação pública, atos de protesto contra algo ou alguém ou de solidariedade a algo ou alguém. Ir à rua, pelo menos entre nós, já significa algo bem diferente e já foi uma forma mais usada de designar o ato de sair de casa para o trabalho, para compras, para resolver alguma pendência, cumprir um compromisso, fazer algo necessário ao exercício comum de viver, se o local a que se ia ficava no centro da cidade, onde se concentravam todas as atividades. Nos bairros apenas pequenas vendas (bodegas) e uma ou outra padaria. “Fulano foi à rua”; “Você vai à rua, hoje?”; “Quando eu for à rua devo me lembrar de comprar isso”; “Isso só se encontra na rua”.

À rua era preciso ir quando se necessitava (e se podia) comprar uma roupa nova. Não para adquiri-la pronta, em tamanho numerado, mais ou menos adequando-se ao corpo, mas para comprar o tecido nas Lojas Paulista ou Armazém Caxias, ambos na Praça Rodolpho Fernandes, na Casa Pinto ou Armazém Nova America, na Rua Cel. Saboia ou Casa Santa Terezinha na Praça Otávio Lamartine. No local onde funcionou o Armazém Caxias funcionaria, depois, o Narciso. Ir à rua era inevitável quando se precisava de um serviço bancário. No Banco do Brasil ou Banco do Nordeste, Praça Getúlio Vargas, no Banco do Povo, Banco de Mossoró ou Casa Bancária S. Gurgel, na Cel. Saboia, ou mesmo no Bandern que ficava na Idalino de Oliveira. Também era indo à rua que se tratava de burocracias cartoriais, nos cartórios identificados por número e por área de negócios abrangidas, mas que o povo conhecia pelo nome do tabelio: o Cartório de Filastro, de Nidinho (Leônidas de Paula), de Paiva (Reginaldo Paiva), de Romeu, de Santídio e de Joca Bruno.

Na rua ficavam os consultórios dos médicos e dos dentistas. Também as farmácias: Assunção, Medeiros, Rosado, Rio Grande, Dos Pobres, Amorim. Somente na rua se comprava eletrodoméstico, nas lojas Paulirmãos, Casa Zenith (Deocleciano Venceslau da Paixão), Mesbla, Organização Anapor, Casa Pinto. Em outro lugar não se compraria calçados senão nas Casa Santo Antonio, A Magestosa, Raul Falcão Freire, Sapataria São Francisco. Na rua estavam os dois únicos estabelecimentos de venda de automóveis: J. Holanda & Cia (Ford) e Humberto Mendes & Cia (Chevrolet e Willys).

O comercio atual mais é bem distribuído; No centro o ambiente é confuso e tem outros problemas. A expressão “ir ao shopping” tomou definitivamente o lugar da “ir à rua”.

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