HISTÓRIAS DE LOBISOMEM
O título é emprestado de um livro do Professor Raimundo Nonato da Silva. Editado pela Coleção Mossoroense, com certeza está na Biblioteca Pública Municipal de Mossoró, onde pode ser lido. Conta a história das estórias. Conversas antigas de alpendres e terreiros, invariavelmente à noite quando o temor de coisas estranhas, espreitando estradas e veredas, entre árvores e arbustos, amedrontava os corajosos e paralisava os medrosos. Mesmo nas cidades, então pouco adensadas, com muitos espaços vazios no caminho, cada esquina podia ensejar o pavor de seres ameaçadores e bastava a sombra da copa de uma árvore balançada pelo vento.
O Lobisomem era o mais presente, seguido pela Mula-sem-Cabeça. Figuras como o Curupira e o Saci-Pererê frequentavam florestas mais densas, o que não é o caso da nossa vegetação de caatinga e, desse modo, eram menos citadas. Mas esses ditos mais comuns às vezes assumiam formas mais próximas da realidade local, como bodes ou outro bicho que podia ser encontrado naturalmente, zanzando por pelos caminhos, sem a mínima desconfiança de uma fama que lhe era imputada sem que ele tivesse a menor culpa em cartório. Em Mossoró, durante um bom tempo, correu a lenda sobre uma misteriosa porca, que vagava pelas ruas desertas à noite, à procura dos incautos que ousavam andar sozinhos nas altas horas. Considerando que o porco (nesse caso a porca) não é um animal de hábitos noturnos, ao contrário, tem fama de dormir demais, até durante o dia, a presença de um deles em um passeio noturno já dava mesmo para desconfiar.
Entre os contadores dessas estórias havia aqueles que não só haviam dado de cara com essas assombrações, mas, também, tinham lutado com elas. E vencido a luta, tanto assim que estavam ali para contar. Era um alento saber que o bicho podia ser feio, mas não era tão invencível assim. O detalhe era que o narrador não era muito coerente na descrição da luta ou mesmo da figura que encontrara. Mas, mesmo que se tratasse de mentiroso contumaz, conhecido faroleiro, isso não evitava que o ouvinte que tinha que voltar sozinho para casa naquela noite, sentisse um certo arrependimento de ter se demorado um pouco mais na rua e, também, algum arrepio no percurso, ao simples sibilar do vento.
O Lobisomem, assim como a Mula-sem-Cabeça, apesar de muito populares em nossas pequenas comunidades, são europeus de nascimento, segundo Câmara Cascudo em sua Geografia dos Mitos Brasileiros. Chegaram aqui pelo mar, com as caravelas e adentraram pelos sertões. Ou seja, até o Lobisomem nós importamos.